A primeira coisa a esclarecer é a definição de indivíduo, cuja etimologia (origem do significado das palavras) se refere às máscaras que os gregos utilizavam nas suas representações de teatro; ou seja, o indivíduo, a pessoa (da palavra latina persona, «máscara») é a imagem com que se apresenta aos outros; sem ser tão restritos, o termo é utilizado para denominar um indivíduo substancialmente diferente dos outros, que pertence a uma determinada espécie.
Esse indivíduo vai ter uma série de qualidades, além das suas caraterísticas físicas, como o peso, a altura, a cor de cabelo, pele ou olhos, entre outros; também vai apresentar uma forma de sentir e de se relacionar consigo próprio e com os outros, apresentando um estilo de comportamento e formas de agir próprias. A este conjunto de estilos de pensar, sentir e agir, denominamos de personalidade, na qual podemos distinguir três vertentes:
1. Biológica, que corresponde tanto à informação genética adquirida por combinação da dos pais (genótipo); como a dos carateres morfológicos, funcionais e bioquímicos que o indivíduo apresenta (fenótipo); o primeiro corresponde à nossa carga genética, enquanto o segundo se refere à forma como essa genética de expressa de uma determinada forma.
2. Individual, que inclui as necessidades, desejos e anseios, ou seja, é a motivação do individuo, que o irá levar a agir de uma determinada maneira para conseguir alcançar as suas metas, também irá tentar evitar o que for pouco atraente ou desagradável.
3. Social, através das relações interpessoais, aprendemos não só a conviver com os outros, como também a pensar e a sentir de uma determinada forma. A cultura, a língua, os usos e costumes, vão definir logo nos primeiros meses as tendências de pensamento, sentimento e comportamento do indivíduo ao longo da vida.
Com isto podemos ter uma ideia aproximada do que é a personalidade, como a tendência de pensamento, sentimento e ação de uma determinada forma, que vai ser condicionada por um conjunto de regras que regulam a convivência, na sociedade em que vive, bem como pela expressão de uma genética transmitida pelos nossos pais.
Entre os traços mais comuns dos doentes com maior tendência para apresentar sintomas psicossomáticos, encontram-se os perfecionistas, com grandes expectativas de realização, muito responsáveis, que idealizam a vida e as relações, com tendência para pormenorizar os problemas e rejeitar as dificuldades. Algumas destas caraterísticas da personalidade que “predispõem” para sofrer de sintomas psicossomáticos, enquadram-se na personalidade de Tipo A, definida pela primeira vez em 1957 pelas cardiologistas Rosenman e Friedman do Hospital Monte Sinai de San Francisco (Califórnia).
Personalidade do Tipo A
Predomina a agressividade, competitividade, tendência para o perfecionismo, egoísmo, com problemas de controlo das emoções, centrados na realização. Este tipo de personalidade está relacionado com uma maior predisposição para sofrer de doenças coronárias.
Face ao Tipo A, os mesmos autores abordaram o tipo B, que apresenta as caraterísticas de personalidade opostas ao primeiro e que têm uma função “protetora” para a saúde.
Personalidade do Tipo B
Predomina a tranquilidade, a calma e o sossego, são criativos com tendência para levarem o seu tempo a desempenhar as suas funções, conseguindo elevados níveis de realização devido ao seu conhecimento.
O modelo original apresentado pelos seus criadores abordava um dualismo entre a personalidade de Tipo A face à de Tipo B; nos anos 80 foi incluído um novo tipo denominado C.
Personalidade do Tipo C
Predomina a incapacidade para comunicar emoções, sobretudo as negativas, como a ira, a raiva ou a tristeza, ocultando as suas necessidades e preferências, sendo pouco assertiva, submissa à vontade dos outros, com grande autocrítica e tendência para se culpabilizar a si próprio sobre o que acontece de mal na sua vida. São indivíduos que tendem a sofrer de determinadas doenças como o cancro e outras doenças autoimunes (lúpus, artrite reumatoide ou esclerose).
Conforme referimos, atualmente está em curso uma investigação em diferentes áreas para explicar a relação existente entre o corpo (soma) e a mente (psique) para, dessa forma, entender as doenças psicossomáticas.
Podem encontrar-se por detrás de uma maior predisposição para vir a sofrer de uma ou outra doença, fatores que também vão influenciar o seu desenvolvimento e recuperação.