É clássica a afirmação de que não basta ver a foto de um copo d’água para matar a sede. Essa é uma afirmação simples, facilmente compreendida e aceita na medida em que remete a uma experiência densa: a sede saciada. Acontece que as mais diversas formas de comportamento humano não se resumem à satisfação de necessidades orgânicas, bem ao contrário se sofisticam em nuances, plenas de significados atribuídos e implicações nas várias esferas do comportamento.
Na verdade, experimentar e significar podem ser idênticos, tanto quanto podem ser infinitamente distintos. O semelhante, o outro ser humano, o próximo pode ser visto como o amigo, tanto quanto pode significar ameaça se não o conheço e sei que é um habitante de zonas consideradas perigosas na cidade, por exemplo.
Conceitos e preconceitos invadem o presente, invadem o percebido, criando significados que fazem acréscimos e lhe dão base. Esse processo - sua sequência - orienta e também desorienta. As informações são vitais para o estar no mundo com o outro, assim como também são destruidoras de disponibilidade e espontaneidade. O estar aqui sempre segue um padrão: ou vamos além ou nem mesmo podemos fazer isso.
Frequentemente a liberdade é o limite mantido e não o limite ultrapassado. Na rede de valores, nas situações extrínsecas, o ser humano se configura em função de estratégias. Essas vivências estruturam pragmatismo, que por sua vez criam escalas de certo/errado, bom/mal, útil/inútil, caro/barato que assim começam a ser resumidores comportamentais. Vive-se para atingir o bem e evitar o mal, para perseguir utilidades, sucessos e ganhos. O significado atribuído ao comportamento e às aparências é o definidor. O indivíduo passa a ser o que os outros desejam, ensinam e aprovam que ele seja.
Abrir mão de si, das próprias motivações é se transformar em massa de modelagem, papel em branco que será escrito, rasurado, borrado pelos seus circunstantes.
O significado de vivências é resultante das motivações que as estruturam e independe de modelos copiados. É uma configuração, uma fisionomia que se reconhece, se estranha, se aceita, se odeia, mas que se sabe própria. Esse apoderar-se de si mesmo traz satisfação, traz questionamentos e à medida que as respostas são dadas, experiências e significados surgem. Nessa sequência de descobertas, significados mudam, o mundo se amplia ou se estreita, mas o indivíduo, por meio do outro, se percebe descobrindo novos significados para o seu estar-no-mundo.
Sem o encontro, sem disponibilidade para o outro, a existência transcorre em função de esperas, contingências, ilusões e decepções. Tudo é um enigma que precisa exibir significado para experimentar vitalização e alegria.