Passei um bom tempo nos últimos dias, após o vídeo das tartarugas se alimentando no costão do parque do Flamengo viralizar nas redes sociais, explicando causa e efeito do espetáculo gravado.
Todos, tanto no facebook, como na imprensa estavam atônitos com a esperança que a pandemia tivesse de alguma forma contribuído para aquela imagem paradisíaca em plena degradada baía de Guanabara.
Infelizmente por obrigação com a verdade, aquela que tem gosto amargo mas que dizem que liberta, tive de explicar a realidade dos fatos.
Em relação às águas cristalinas, aquela bela e atípica paisagem, nada mais era que o resultado da ação conjunta da poderosa ressaca que varreu boa parte da costa sul e sudeste, associada com a maré alta de lua cheia. Não por outro motivo é que várias praias e áreas urbanas próximas foram invadidas pelas águas do mar.
Em relação às simpáticas e belas tartarugas se alimentando no costão, destaco que sempre que passo pela marina da Glória, com suas águas poluídas, vejo várias tartarugas se alimentando das algas presas nos cascos das lanchas bem longe do perigoso contato humano.
Em virtude da ausência de pessoas transitando, é claro que animais normalmente arredios, vêm se sentindo mais seguros para se alimentar tranquilamente em locais normalmente evitados devido a presença humana.
Para cada explicação que eu dava, sentia da outra parte uma clara decepção, como se eu desmancha-se o castelo de areia montado com tanto carinho. Afinal em outros lugares, diversos animais silvestres têm aparecido em áreas urbanas conhecidas mundialmente.
No caso do Rio de Janeiro, até deve estar acontecendo potencialmente essas aparições, por exemplo nas areias das praias interditadas, visto que o excesso de pisoteamento é um dos fatores que elimina ou reduz a presença por exemplo dos tatuís bem como da marinha farinha.
Como não existe espaço vazio na natureza, na medida que alguém desaparece, outros aparecem para tomar o espaço, bem como para servirem de comida para outros e assim por diante.
Provavelmente nas áreas de restinga próximas das praias ainda com esse tipo de ecossistema, lagartos teíus devem estar aparecendo mais à vontade durante o dia fazendo passeios despreocupados.
Mas no caso da baía de Guanabara e do sistema lagunar de Jacarepaguá, infelizmente a realidade continua a mesma de sempre, com ou sem pandemia, visto que as causas principais da degradação continuam agindo mesmo com o confinamento.
Esgoto sem tratamento e resíduos de todos os tipos continuam sendo produzidos independente das ações tomadas para conter o novo vírus, afinal as pessoas não pararam de defecar e tão pouco de lançar seus resíduos nos rios como sempre tem feito e a questão do saneamento universalizado é mais um direito constitucional que ainda continua num futuro distante sem data para chegar de fato.
Portanto, no caso da baía de Guanabara o espetáculo admirado irá durar pouco e no sistema lagunar, além de tudo continuar só piorando dia após dia, eleição após eleição, o grande volume de água salgada e limpa que entrou nas lagoas assoreadas em decorrência da ressaca e maré de lua cheia, remexeu o fundo pútrido das mesmas, liberando gás sulfídrico e metano na coluna dágua e no ar. Foi aquele cheiro de ovo podre por vários dias no Sorria, você está na Barra, além da morte de centenas de quilos de peixes que ainda se aventuram pela região.
Nada de novo, passando quase desapercebido a não ser pelo mal cheiro de ovo podre, dos peixes em decomposição ou pela formação de verdadeiros pastos de gigogas tomando consideráveis extensões do espelho dágua das lagoas da região.
Como já disse, nada de novo!