A banalidade do mal, o culto da ignorância, a intolerância às diferenças, as manifestações de sadismo, a truculência, a ganância têm sido uma constante na era contemporânea. Tudo pode ser traduzido em uma simples frase: A dor do outro não dói em mim, então que se dane! Parece que uma parcela da humanidade é dotada de uma couraça de invulnerabilidade e onipotência, onde, entende-se, pode-se fazer o que quiser, visto que “a lei do retorno” não é nada mais que uma quimera (assim supostamente pensam).
A qualificação de “psicopata” referindo-se a uma pessoa que apresenta um distúrbio antissocial já se tornou conhecimento de senso comum. Está na boca de todos. Diz-se daquele que não apresenta sentimentos afetuosos verdadeiros por alguém (embora saiba simular isto muito bem) e tampouco possui sentimento de culpa ou remorso. Seu comportamento é determinado quase que inteiramente por suas próprias necessidades, sendo em grande parte indiferente às necessidades dos outros. Age impulsivamente, procura a satisfação imediata das próprias necessidades e não consegue tolerar a frustração.
Mas será que isto é o bastante para justificar o comportamento a que nos referíamos acima? Por que o ser humano em tantas circunstâncias se comporta de maneira tão torpe e cruel? Seria uma questão de desvio de caráter, de doença mental? Ou uma questão de boa ou má índole (um componente, portanto, inato)? Ou não teria recebido o amor dos pais na infância? Teria testemunhado cenas de violência demais e estaria agora reproduzindo o que viu? (Não se identifica com pais rejeitadores, logo não interioriza suas regras). Ou ainda, teria se sentido marginalizado pela sociedade em que vive e estaria então dando o “troco”?
Lembrando que na outra ponta, o exercício da empatia compreende exatamente a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir o que o outro sente. A capacidade de sentir a dor do outro está na base dos comportamentos solidários. Pude observar através de minha experiência clínica institucional que, muitas vezes, este comportamento provém da pessoa que menos esperamos, ou seja, aquela que mais marcas carrega de um passado sombrio e tempestuoso.
Segundo a teoria espírita estamos todos na senda da evolução, com a diferença de que há espíritos que estão mais adiantados em sua trajetória enquanto outros são mais rebeldes e necessitam de nossa ajuda e compreensão.
No entanto, a gravidade dos fatos e o grau de reincidência ao longo dos séculos me fazem perguntar: Quando é que o ser humano vai aprender?
Estou falando de aprender a respeitar o outro (seu semelhante ou qualquer forma de vida), aprender a respeitar sua casa, o planeta, aprender a respeitar a si mesmo, percebendo que o que ele faz contra o outro está fazendo contra si.
A capacidade de amar também pode ser desenvolvida, assim como outras capacidades se o quisermos. Talvez a empreitada mais difícil seja decidir por aparar as arestas do próprio ego, cientes de que não estamos sozinhos no planeta. Aceitar o fato de que não é possível sobrepujar as leis e o sistema sem que este ato seja seguido de consequências. Esta é uma lei natural extremamente simples. Entendo que se a “ficha não cai” é porque se está usando grossas viseiras em nome de um determinado ganho e conforto. Mas até mesmo estas viseiras vão apodrecer a seu tempo e Todos, queiramos ou não, vamos nos deparar com as repercussões e os efeitos de nossos atos. O Saldo da conta.
O que pode contribuir para uma pessoa elevar ou ampliar o seu nível de consciência, perceber que somos todos feitos da mesma matéria e estamos sujeitos às mesmas leis? Seguem alguns parâmetros e algumas hipóteses prováveis:
Quando uma pessoa se utiliza demasiado do mecanismo de defesa da projeção (ou seja, o problema está sempre com o outro, a culpa é sempre do outro), fica difícil “cair a ficha”.
Pessoas demasiadamente narcisistas maximizam o tamanho do próprio ego e somente conseguem enxergar a si mesmas e às suas próprias necessidades.
Supostamente o que Freud disse no século passado se aplique perfeitamente ao que estamos vivendo hoje; existem determinadas “perversões” agindo no modo de funcionamento psíquico humano, entre elas o sadismo, entendido como o prazer em causar dano e testemunhar a dor do outro. Quem assim age, não estaria “preocupado” em ampliar o seu nível de consciência.
Se a pessoa introjetou para si o princípio e a filosofia de vida de que “estou aqui para levar vantagem em tudo”, isto irá dificultar a ela enxergar e compreender que na escola da vida há outros princípios muito mais fundamentais, entre eles, o exercício do amor, da tolerância e da generosidade.
Há pessoas que simplesmente parece se deixarem guiar pelo ódio, e aquele espaço virtual que poderia ser o seu potencial amoroso e para a sensibilidade, parece não existir. Neste caso, quem se relaciona com elas deve sinalizar que sua ação não foi construtiva e que há que se responder por isso.
Enfim, não há respostas ou afirmações categóricas a apresentar diante de um problema tão complexo, apenas hipóteses. Enfatizo, no entanto, que não complementar o comportamento antissocial do outro é de suma importância, visto que já que sua motivação para a mudança é incipiente, isto pode lhe servir de estímulo e ele precisa aprender que sua ação traz consequências.
Por outro lado, nosso próprio potencial amoroso também pode ser uma valiosa ferramenta para despertar o amor no outro.
A semeadura deve ser sempre realizada, independente do prazo de germinação da semente ou do terreno em que a mesma foi lançada. Muitas vezes dependemos de eventos da vida para acelerar o processo, os quais funcionam como agentes catalisadores. E sobre isso não temos controle.