Tudo é possível quando a cabeça funciona com os seus respectivos neurónios e a memória continua a processar...
É verdade ainda existem pessoas com 100 anos que estão perfeitamente lúcidas e se lembram das carruagens do seu casamento e dos primeiros aviões e do primeiro homem no espaço e das travessias do Gago Coutinho e dos primeiros automóveis e da primeira televisão a preto e branco e... Agora, atravessam etapas do tempo simbólico com telemóveis e metros e viagens espaciais e escadas rolantes e computadores e robots de todo o feitio… Da pistola às armas nucleares; do cozinhado a lenha ao micro ondas; da modista à Haute Couture aos Grandes Armazéns, da máquina de escrever ao teclado do computador; das românticas cartas aos SMS… enfim… É como se tivessem estado em diferentes planetas…em universos paralelos com uma dose de espanto pelo meio.
Dantes, antigamente, a comida tinha sabor e cheiro a Verão, Outono, Inverno e Primavera; agora tudo se mistura e a nostalgia começa….até usamos guarda-chuva em Agosto e manga curta em Novembro!
Depois já não se sabe qual é o seu tempo e o nosso tempo e o que é que faz a nossa perturbada e tumultuosa contemporaneidade! O absurdo e o imprevisto passaram a ser banais! E o emprego certinho desejado foi trocado por uma série de recibos verdes muito muito incertos!
É tudo a prazo e a validade das coisas e das pessoas expira em muito pouco tempo! Há Timers para tudo! Até para tomar consciência do certo e do errado e o mais certo é haver corações partidos! Mas há mais nesta gramática da vida em que a sintaxe parece não reconhecer os seus sujeitos, de tal modo se sujeitam aos complementos circunstanciais….o verbo reunir e o substantivo reunião amplificaram o seu significado: São Pan; podem querer dizer tudo sem dizer absolutamente nada…
Mistura de guerra e paz, mini-saias e espias sedutoras, cruzes suásticas e liberdade e ovnis cheios de mística portuguesa…o século XX e o início do XXI são marcos históricos na evolução humana no que toca ao progresso tecnológico e à comunicação global mas será que as nossas atitudes perante a vida são tão diferentes assim das da senhora com 100 anos; que até pode ser a minha avó?!
Às tantas temos os mesmos receios quanto ao casamento; os mesmos medos da morte; as mesmas culpas de não ter estado lá quando era preciso; a mesma ansiedade em perpetuar a espécie e as mesmas ilusões relativamente à mesma!!!