Notre Dame, mais do que ser de Paris, é património mundial e como tal o incêndio que tanto afectou a mística Catedral, afecta-nos a todos. Como?
À luz de uma leitura hermenêutica e com a certeza de que todos com diferentes versões, vivemos narrativamente Notre Dame, temos histórias com ela, por ela e…podemos interpretar simbolicamente o tecto ardido da catedral como sendo as “cabeças”, “cérebros” dos seres humanos, por analogia!
E, se pensarmos bem, iremos concluir que o nosso modo de pensar as nossas crenças, os nossos valores do século XXI deixam muito a desejar e por isso, talvez necessitem urgentemente de uma “ limpeza” emocional, espiritual... mutatis mutandis, uma purificação pelo fogo?
A Igreja antiga designou o Baptismo como photismos, «iluminação». «Quem está perto de Mim, está perto do fogo»: assim reza um dito de Jesus.
De facto, a humanidade precisa de mudar o seu modo de ver, ser e estar no mundo; de se ver a si própria e de renascer!
Desprender faz parte do processo assim como recordar. Recordar o que é Ser Humano e Desaprender a insensibilidade, o medo, que nos impedem de ver claro, de sentir emocionalmente e de fazer a união com o Universo, com o Cosmos.
Relembrando ainda os dias em que o incêndio teve lugar: de 15 para 16 de Abril, faremos uma analogia com 2 dos Grandes Arcanos do Tarot: O Diabo, arcano XV e a Torre, arcano XVI.
O Arcano XV é um dos mais temidos do baralho, pois é o Diabo. Este arcano, como o próprio nome indica, está relacionado com as energias negativas, e quando ele aparece devemos prestar uma atenção especial às nossas atitudes, pensamentos e acções e, também, ao ambiente que nos rodeia.
Este arcano sinaliza o perigo que pode estar à espreita e alerta para a necessidade de sermos prudentes, evitando agir por impulso, pois podemos ser levados por caminhos que não são bons para nós. Se acrescentarmos ainda toda a mitologia do Mal e as concepções dualistas de uma luta entre o Bem e o Mal, compreenderemos a extensão deste arquétipo que será ainda muito fortalecido pela criação e existência do mal dentro do ser humano e nas sociedades.
A Torre é uma alusão à Torre de Babel, uma lenda bíblica que conta que, depois do Dilúvio, os descendentes de Noé decidiram contrariar as ordens de Deus - que se espalhassem pela Terra e se multiplicassem – e em vez disso tentaram construir uma torre tão alta que chegasse ao céu, para que todos vivessem nela. - Deus, para os castigar pela sua arrogância e orgulho, resolveu pô-los a falar línguas diferentes. Sem se conseguirem entender, os homens não puderam concluir o seu projecto de viverem na Torre de Babel e a partir daí esta história simboliza a confusão e o castigo pela arrogância humana. Babel significa "confusão".
A representação dum fogo, labareda ou raio que desce dos céus e quebra o cimo, as ameias ou a coroa de uma torre projectando dois seres, ou a dualidade, para o solo recorda-nos a lei da impermanência e que devemos constantemente revisitar a justeza tanto das fundações como o das ligações ao Todo, ao Divino.
A Torre alerta para a possibilidade de estarmos errados nas nossas convicções, indicando que se insistirmos nelas elas podem levar-nos ao colapso.
Este começo de século XXI pautado pelas aparências e culto da imagem, contrariando todo o mistério das catedrais vivido e explorado por Victor Hugo nos seus romances, deverá sofrer uma viragem de 180º, isto se queremos atingir, simbolicamente, e espelhar os arquétipos de outros Arcanos superpositivos como o Mago, a Justiça, a Temperança, a Estrela, O Mundo…
Desaprender é preciso!