Uma das maiores lições que temos em nossa passagem por este planeta é que independente dos “tsunamis” que tenham assolado nossas vidas — a dor da perda de um ente querido; a dor do desencontro com a pessoa amada; a dor de se sentir invisível e portanto não existir, porque existimos e nos auto-afirmamos através do olhar do outro; a dor de não conseguir realizar os mais caros e preciosos sonhos; a perda de patrimônio; ou ainda o fato de ter sido traído, humilhado, desprezado, ter tido o tapete puxado ou ter sofrido violências as mais diversas... (na sociedade em que vivemos estamos muito sujeitos a isto) — enfim, o que quer que aconteça, a vida segue...
A vida segue Sempre. Este é um fato inexorável. Não importa se estamos tristes ou alegres, se estamos fluindo a todo vapor ou atados a uma cadeira de rodas... O sol continua nascendo e se pondo ao entardecer, a lua segue seu eterno ciclo de transmutações, renovando-se a cada sete dias.
Existe uma ordem maior no universo que acontece independente de nós e da nossa vontade e essa ordem nos convida constantemente a redimensionar a nossa dor, o tamanho do nosso ego e a perceber que, afinal, tudo aquilo que nos era tão terrível e absurdo não é nada (ou quase nada) na ordem das coisas.
Assim, todos os dias somos testados em nossas vulnerabilidades ao mesmo tempo em que convivemos com as instabilidades do planeta, que é a nossa casa. Desta forma, vamos confrontando-nos e lapidando nossos mais profundos e básicos sentimentos:
“O medo é a não aceitação da incerteza. Se aceitamos a incerteza, ela se torna aventura.
A inveja é a não aceitação do bem no outro. Se aceitamos, se torna inspiração.
Raiva é a não aceitação do que está além do nosso controle. Se a aceitamos, se torna tolerância.
O ódio é a não aceitação das pessoas como elas são. Se aceitamos incondicionalmente, então se torna amor...”.(Autor desconhecido)
Existe um “grande rio” que caminha para o oceano. Na medida em que seguimos o curso do rio, ele vai “lavando nossa alma”. Crescemos em maturidade espiritual quando nos concentramos em mudar a nós mesmos e aceitamos as pessoas como elas são. Entendemos que todos estão certos em sua própria perspectiva e aprendemos a deixar ir...
O constante devir do universo, afinal, é bom, pois movimento é vida.
Por outro lado, se permitimos que o frio predomine em nossas almas, cessamos o nosso crescimento. Podemos observar isto na própria natureza. No inverno, plantas paralisam o seu crescimento e entram em dormência enquanto alguns animais hibernam.
Na psicologia arquetípica, estar frio representa não ter sentimentos. Um ser humano “congelado” significa que ele está propositalmente “sem sentimentos”, em especial para consigo mesmo, mas também e às vezes ainda mais para com os outros. Embora esse seja um mecanismo de autoproteção, ele prejudica a psique porque caminha no sentido oposto ao do funcionamento do universo. A alma não reage ao gelo, mas ao calor. Uma atitude gélida apagará o fogo criativo, inibindo assim a função criativa do ser humano. O gelo precisa ser quebrado e a alma retirada do estado de congelamento.
Quebrar o gelo no sentido intrapsíquico significa se permitir entrar em contato com os próprios sentimentos, sentindo assim a dor e a intensidade que advêm desta ação. Quebrar o gelo no relacionamento interpessoal significa criar um canal de comunicação, embora tênue, para que flua a relação entre as partes.
De uma forma ou de outra o movimento deve ser resgatado para que se opere então a transformação. Para que nossas feridas deixem de sangrar, para que a vida volte a vicejar, para que uma nova ordem de coisas se estabeleça.
O movimento é, pois, um veículo de mudança e sinal de vida.
Se o encaramos como um personagem, pode ser um aliado, um parceiro, um amigo, que nos ajuda a crescer e a encontrar o caminho da evolução.
Não devemos nos esquecer jamais que tudo no universo é perfeitamente sincronizado e que nada acontece por acaso.