Buscam-se sempre as razões para a degradação ambiental numa cidade que se vende como turística como no caso do Rio de Janeiro.
Destaca-se que essa cidade, porta de entrada internacional do Brasil, vitrine do que temos de pior e melhor à oferecer, tem praticamente todos seus rios mortos por esgoto e a maioria de suas lagoas e baías transformadas em latrinas e latas de lixo, mesmo tendo sediado recentemente os maiores eventos esportivos mundiais. Portanto, o que não faltou foi dinheiro para as festas.
Uns colocam a culpa na sua geografia espetacular, onde havia poucas áreas planas e secas, comprimidas entre os morros e o mar. As maiores áreas planas eram e continuam sendo, áreas periodicamente e ou permanentemente inundáveis.
Outros dizem que a causa principal tem sido a falta de políticas habitacionais para as classes de baixa renda, onde a vontade política nunca praticamente se deu de forma permanente.
Outros associam a falta de saneamento universalizado, uma prioridade esquecida praticamente em todo o país pelas gestões municipais, estaduais e federais.
Ainda mais alguns, atribuem à má gestão dos recursos públicos, que quando existem voltados para as questões ambientais, são pessimamente geridos, produzindo coisa alguma de melhoria ambiental de forma permanente.
Em resumo, muitas outras explicações existem para todos os gostos e interesses.
No meu entendimento de biólogo de "unidade de tratamento intensivo ambiental", o principal mesmo, a mãe de todas as desgraças ambientais é a forma pela qual o carioca em especial do século XXI, politicamente correto em seu discurso ambiental, interage com o ambiente que o sustenta e o qual o mesmo faz juras e amor eterno, principalmente com fotos tratadas no photoshop em pontos turísticos estratégicos.
O problema por aqui , não é falta de recurso pois no Brasil o que não falta é dinheiro. Não é falta de cérebros, visto que não faltam universidade, centros de pesquisa e afins. O problema por aqui é eminentemente cultural.
Nossa cultura é voltada ao uso até o esgotamento de um ou mais recursos naturais. Desejamos como principal objetivo, obter o máximo lucro no menor tempo possível seja qual o recurso e ou atividade econômica.
Pouco evoluímos do estágio de colônia de exploração escravagista e exemplo disso eu encontro diariamente em meus trabalhos de gestão ambiental.
Acostumado a ver rios transformados em valas de esgoto e lixo, principalmente em função do crescimento urbano desordenado, conhecido como favelas, onde a população de baixa renda, utiliza as bacias hidrográficas como suas latrinas comunitárias, flagrei dias atrás um grande lançamento de esgoto atrás do shopping considerado de classe AAA em plena Barra da Tijuca.
Como de praxe, os responsáveis pelo shopping alegaram que nada sabiam, apesar do mau cheiro insuportável que emana da lagoa da Tijuca, receptora final de todo o esgoto vip, criminosamente lançado em suas águas.
A investigação dos potenciais responsáveis por mais esse crime ambiental na região que mais crescia antes da recente crise econômica, ainda está sendo executada pela polícia especializada em agressões ambientais, mas de fato o que manda é o lema nacional onde: "se deu merda, não é comigo".
Portanto, independente ser uma favela ou um shopping de alto poder aquisitivo, o que continua valendo é nossa cultura de explorar até acabar, seja por necessidade ou simplesmente por desleixo ou talvez alguma vantagem na conta do tratamento do esgoto, visto que em colônias de exploração o que é de todos, tal como o ambiente, na verdade não é de ninguém e pode ser utilizado até a exaustão.
A degradação ambiental no Rio de Janeiro é democrática, pertence e surge de todas as classes sócio-econômicas, onde nunca faltam motivos para justificar o injustificável e dessa forma comer a galinha dos ovos de ouro de nossa cidade.
Gastam-se milhões de reais tanto da parte das autoridades públicas como da parte da iniciativa privada em peças de publicidade, dentro e fora do país, onde o que mais se vende aos incautos consumidores estrangeiros e nativos, são as belezas naturais da cidade bem como o amor, o interesse que temos pela cidade e seu ambiente, pelas suas praias contaminadas, pelos seus rios, lagoas e baías pútridas. Ao buscar qualquer tipo de apoio às iniciativas de gestão e recuperação permanentes, por mais remotas que sejam, infelizmente a fonte de recursos seca e o que predomina é a farsa e a hipocrisia da publicidade veiculada. Mas convenhamos, quem é que está se interessando por esse tipo de assunto? Do ponto de vista econômico, a degradação ambiental e tão pouco a falta de segurança que beira a guerra civil, aparentemente não afastaram os turistas durante o carnaval onde milhões de foliões se esbaldaram pela cidade em dezenas de blocos.
Estranho esse lugar. Estranha essa sociedade.