Apagaram o Einstein da Oscar Freire e botaram Love no lugar. Um grafite por outro. Um artista renomado por um coletivo. Mas por que um apagamento de um grafite e a subida colocação de outro poderia provocar uma certa revolta do público já que o grafite é, em sua essência, uma arte de passagem?
A questão do grafite na cidade de São Paulo é complexa e desde o início de 2017 gera muita discussão com o apagamento de uma série deles por conta de política pública instituída pelo novo prefeito. Os argumentos para tal apagamento são frágeis diante do papel da arte de rua na cidade. Em uma selva de concreto, os grafites de São Paulo sublimam os nossos olhares e muitos turistas são atraídos para certos lugares como o Beco do Batman para apreciar a arte de rua e ter a mesma sensação. Bem assim era com o Genial é andar de bike do Kobra. O grafite que trazia a clássica foto de Einstein andando de bicicleta no mural de uma loja de sapatos na rua Oscar Freire já tinha vidado um ponto de parada de turistas.
A rua Oscar Freire é um reduto de lojas de marcas nobres e ter um grafite de um dos artistas de grafite mais renomados nacional e internacionalmente do país era um símbolo da cultura de rua em um espaço de elite. Ainda mais o símbolo e o título que incentiva o uso da bicicleta, que também causou o maior alvoroço na gestão anterior da prefeitura. A meu ver, portanto, o Einstein do Kobra tinha um papel multifacetado naquele local: inserir a arte de rua em um lugar nobre e defender a bicicleta na cidade.
Acredito que a revolta registrada nas redes sociais do artista foi gerada não só pela característica estética de cores do artista e por seu renome, mas por uma série de questões atreladas à arte de rua na cidade atualmente, na mobilidade na cidade e também por estar em um local especial. Fazendo um paralelo com a epigrafia clássica, inscrições planejadas em locais previamente reservados e comissionadas pelo estado, principalmente, eram praticamente intocáveis. Nesse sentido, apagar algo que foi comissionado da mesma maneira é como quebrar essa premissa que o grafite comissionado é arte permanente e não efêmera, como se espera com intervenções artísticas urbanas que não foram planejadas ou mesmo tinham um local reservado para tal.
Assim como pinturas de museu que são preservadas para o futuro e para serem admiradas por muitos, o grafite comissionado a artistas renomados adquirem prestígio nas ruas e passam a fazer parte de uma galeria a céu aberto na cidade. Por mais que a loja que tinha o grafite do Kobra tenha dito que o espaço será rotativo para poder dar lugar a vários artistas, o apagamento de um grafite renomado por ter seu espaço previamente arranjado e um planejamento artístico por trás faz com que tenhamos que repensar o espaço do grafite na cidade e sua permanência.