O último voo sobre a baixada de Jacarepaguá e baía de Guanabara pelo projeto de monitoramento ambiental Olho Verde me trouxeram uma certeza: No Rio de Janeiro estamos em guerra contra o ambiente e no final, vamos perder essa guerra!
O mesmo ambiente que nos sustenta, fornecendo água, ar e alimento é o mesmo que é utilizado por todos nós como latrina e depósito de lixo.
Crescemos como uma metástase sem o mínimo respeito a qualquer parâmetro urbanístico e ambiental civilizado, isto é, onde no mínimo se forneça ao crescimento urbano, coleta de lixo e saneamento básico. Isso é um requinte, um luxo na região metropolitana do Rio de Janeiro que continua uma miragem no horizonte perdido para milhões de moradores de municípios ricos ou pobres.
Exemplo disso é o que se observa e se denuncia na baixada de Jacarepaguá desde 1992 e praticamente nada acontece a não ser o agravamento do causas e consequências do caos ambiental.
Passamos por duas grandes enchentes em 1996 e 2010, mesmo assim, não aprendemos nada, continuando a cometer os mesmíssimos erros anos após ano, eleição após eleição.
Nem mesmo as olimpíadas, maior evento esportivo mundial que trouxe o olhar de toda a mídia do planeta para a nossa cidade "turística", foi capaz de tirar da zona do conforto e de falta de vergonha na cara da maioria de nossos "eficientes" políticos e administradores olímpicos, onde por um motivo ou por outro, simplesmente a recuperação do sistema lagunar não aconteceu e tão pouco as melhorias prometidas para a "latrina" da Guanabara.
Tudo apodrece bem na cara de todos os órgãos e instituições públicas voltadas para a proteção ambiental e mais uma vez, simplesmente não acontece NADA!
Rios e lagoas podres, milhares de metros cúbicos de lama, lixo e esgoto e praticamente ninguém se mexe, como se estivéssemos submetidos à algum tipo de sina que nos conduzirá ao extermínio, sem antes exterminar o ambiente que nos sustenta.
Em abril de 2017 o jornal O Globo informava que o TCU chega a conclusão (antes tarde do que nunca) que os compromissos ambientais assumidos pelas autoridades do Brasil em relação às olimpíadas, praticamente não saíram do papel e solicita que em 90 dias o IBAMA apresente um plano de ação. Ótimo, mas onde está o tal plano de ação, visto que já estamos em dezembro de 2017 e como o mesmo será operacionalizado?
Com toda a certeza, os sempre atentos políticos de plantão dirão que não há recursos!
Estranho ouvir isso de um lugar que apenas no tal Maracanã investiu um bilhão e seiscentos milhões de reais para a Copa do Mundo de 2014, dinheiro muito mais do que suficiente para recuperar não apenas as lagoas como também a bacia hidrográfica local. Repito à exaustão: O que falta nesse lugar é prioridade e vergonha na cara, pois dinheiro sobra por todo o canto!
Finalmente na baía de Guanabara, resumindo toda a degradação histórica que a ataca principalmente desde o século XIX, destaco dois casos:
- A imponente estação de tratamento de esgoto da Alegria desde sua inauguração apenas usa 50% de seus equipamentos para tratar o esgoto que recebe, enquanto os canais do Cunha e do Fundão situados bem em frente da estação, porta internacional da cidade "maravilhosa", continuam como canais de esgoto concentrado, bem como toda a bacia hidrográfica local.
Não há mais água na maioria dos rios que chegam à baía, quase todos grandes valões de lixo e esgoto. Adicionalmente dentro e fora da estação de tratamento, amontoam-se centenas de tubos, largados no meio da vegetação, que hipoteticamente deveriam estar conduzindo esgoto para ser tratado na estação ao contrário de ser lançado em rios e na baía. Isso tudo acontecendo bem a cara de milhões de cariocas que passam pela linha vermelha todos os dias.
Destaca-se que fruto da assalto sistêmico que assolou o estado e a colônia como um todo nos últimos anos, para o ano que vem o governo do estado do Rio de Janeiro, visando otimizar recursos, reduziu 50% dos recursos do saneamento, remanejando-os para a área de segurança, outra demanda quase nunca atendida plenamente. Portanto mais esgoto sem tratamento já está garantido para rios, lagoas e baías para 2018.
- A reurbanização da área portuária é o exemplo de quando há vontade política pessoal, as coisas no Brasil andam. A área até então um verdadeiro lixo urbano, tornou-se uma verdadeira área turística, uma nova e importante área de lazer na cidade do Rio de Janeiro. Infelizmente as boas notícias acabam por aí, pois mesmo tendo sendo investidos bilhões de reais na revitalização, as condições ambientais das águas da baía continuam a mesma latrina de sempre, onde a degradação de praxe convive com a moderna proposta urbanística alheia a questão ambiental.
Afinal por quê depois de centenas de anos de degradação continuamos detonando o que sobrou de nosso patrimônio ambiental?
Na minha opinião, não evoluímos culturalmente do estágio de colonos escravagistas de uma colônia de exploração chamada Brasil que tem por objetivo único explorar o mais rápido possível seja qual for o recurso sem qualquer preocupação com o futuro. Dessa forma em pleno século XXI onde a maioria se diz preocupada com a questão ambiental, continuamos vivendo a fase oral e anal do ambientalismo em nossa colônia, onde por um lado somos muito bons no discurso politicamente correto com centenas de leis de proteção, órgãos disso e daquilo, etc, etc, etc, mas que não sai disso e por outro literalmente cagamos e andamos para nossas ações e omissões no que diz respeito a degradação de nossa cidade.
Se continuarmos do jeito que vamos no estado e principalmente na região metropolitana do Rio de Janeiro, não tenho dúvidas que rumamos para o colapso ambiental e disso para a anarquia social será um passo! Feliz ano novo!