No dia 17 de dezembro do ano passado durante o Atmosphere Festival realizado no Parque de Exposições da cidade de Esteio, região da grande Porto Alegre, um palco desabou provocando a morte de um dj. Uma fatalidade. E infelizmente este não foi um caso isolado. Em agosto do mesmo ano um palco desabou em Presidente Prudente pouco antes do início da apresentação do dj Alok deixando quinze pessoas feridas. Em abril o palco de shows do Rodeio de Catanduva cedeu minutos antes de Luan Santana subir nele.
E isto levanta a dúvida sobre o porquê destes acidentes estarem se tornando comum no Brasil. Pois em todos os veículos da mídia e redes sociais, os argumentos são sempre os mesmos. As produtoras sempre alegam que o evento tem alvará, que atende a todas as necessidades exigidas, e que toda documentação legal foi entregue e aprovada pelas autoridades competentes.
Entretanto, o que a maioria não sabe é que no Brasil – o país mais corrupto do mundo – devido à falta de fiscalização grande parte dos projetos quando executados na prática são bem diferentes de como foram apresentados na teoria. Um exemplo disto é a educação e a saúde pública. Quando se apresenta um projeto para construir uma escola ou hospital, a estrutura na planta é mostrada com material de primeira, porém se utiliza material de segunda ou terceira para poder gerar mais lucro.
Um exemplo que reforça o que afirmo neste texto foi o incidente ocorrido na boate Kiss em 2013, em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. A boate tinha alvará de segurança e mesmo assim mais de 200 pessoas morreram devido a um trágico incêndio. Por quê? Porque as normas de segurança dizem que você tem que ter uma espuma de isolamento sonoro. Entretanto, não existe menção a qualidade da espuma. E para que você entenda melhor saiba que existem três tipos de espuma isolante. Uma ininflamável e as outras duas inflamáveis. A primeira é bem mais cara, porém mais segura. As outras duas mais baratas. Agora, com tudo isso que eu acabei de te informar, você consegue imaginar com qual das espumas a boate Kiss foi montada?
No caso dos palcos de shows podemos supor (ou deduzir...) que o mesmo ocorre. É possível que devido à falta de fiscalização os palcos na planta sejam demonstrados que serão construídos com algum tipo de material específico como titânio, por exemplo, permitindo a liberação de licenças e alvarás. E no momento do evento são construídos com alumínio por ser mais barato, gerando mais lucro.
No caso do Atmosphere Festival a imprudência não veio por conta da corrupção e sim talvez por culpa da ganancia dos produtores. Segundo o coordenador da Defesa Civil de Esteio, Alexandre Comboa, em entrevista para o jornal O Globo a festa tinha todos os alvarás necessários e, segundo o Corpo de Bombeiros, a estrutura era capaz de suportar ventos de 80 km/h. Na hora do temporal a velocidade do vento era de 55 km/h. Porém, ele alertou que a previsão do tempo indicava o risco de temporais severos. "Não é o vento mais forte que tivemos, o problema é que as pessoas não observam a previsão do tempo para fazer esse tipo de evento, aí acontecem casos como esse", afirmou. "Está se alertando desde quinta que teríamos eventos severos de vento, granizo e chuvas torrenciais, se isso tivesse sido observado não teríamos isso aí", completou.
Entretanto, apesar do coordenador da Defesa Civil manter uma posição na defensiva, eu prefiro uma abordagem direta. Pois não importa se “as pessoas não observam a previsão do tempo...” como afirmado em seu depoimento à imprensa. Quando você realiza um evento deste porte como foi a Atmosphere, com mais de dez mil espectadores, você tem a obrigação de estar informado de todas as condições externas possíveis, sejam sociais, politicas, climáticas ou do raio-que-o-parta. Por quê? Porque como demonstrado na prática, a vida de pessoas está em jogo. Então não importa se foi observada a previsão e ignorado ou se foi apenas uma falha por esquecimento. Você tem a obrigação!
É dedutível que os avisos de péssimas condições climáticas tenham sido ignorados por causa do tamanho custo do evento. Custa caro você armar um palco megalomaníaco com diversas decorações e estruturas (que caem...). É caro você ter que cancelar atração qual já firmou um pré-contrato e tem agenda fechada. É caro você ter que devolver as bebidas e os geradores de energia. Pagar o aluguel do local do evento, o transporte do material e a gasolina para deslocamento de tudo. É. Sai caro. Mas desta vez o preço foi inestimável porque uma vida inocente foi rompida. E ironicamente temos que dar graças ao Criador que o palco caiu para parte detrás. Caso contrário, se o palco tivesse caído para frente, com o número de espectadores, o preço teria sido muito mais alto, e deixaria de ser inestimável para se tornar uma tragédia histórica, assim como a boate Kiss.