Pau-de-sebo ou mastro-de-cocanha, uma brincadeira de crianças, uma competição que acena com prêmios para quem os consiga atingir, de origem europeia e muito comum no interior do Brasil, se constitui em uma estaca, um mastro cravado na terra que suporta, em sua extremidade, notas de dinheiro ou cestas com prêmios a serem alcançados pelos competidores, que um a um tentam subir no mastro untado com sebo para fazer escorregar, propiciando quedas, dificultando o acesso aos prêmios.
Muitos acreditam, são educados para pensar que obstáculos serão vencidos, que tudo depende do esforço para conseguir ser premiado, para sair vitorioso. As metas, os sonhos, as ambições e ganâncias são assim estruturadas e deste modo as pessoas são arrancadas da vivência presentificada.
Viver em função de conseguir realizar, acreditando no próprio esforço e qualidades, cria dependentes obcecados pelos resultados que venham justificar sua existência. Este processo é caracterizado, psicologicamente, por subprodutos destruidores da tranquilidade e do bem-estar. Ansiedade, medo, inveja, desejos irrefreáveis por conseguir, geram pessoas que agem como capatazes, como carrascos, ou agem como mendigos que se submetem, que roubam e até matam para conseguir seus objetivos. Quando as vitórias, os sonhos e desejos não se realizam, surgem frustração e depressão.
O século XX se caracterizou pelo aumento dos casos de depressão, tanto quanto pelas excelências tecnológicas e disparidades socio-econômicas. Estes abismos funcionaram como um pau-de-sebo. Muita competição e muita ganância são os impermeabilizantes que fazem escorregar quando se direciona toda a vida para resultados. Destruir o que estiver no caminho da conquista, é o lema dos competidores.
A ideia de que tudo pode ser conseguido desde que se lute por isto, desde que haja esforço, transformou profissionais em máquinas de realizar funções, exilou, dos processos relacionais, olhares misericordiosos e compassivos, criou fortalezas para esconder medos e incapacidades. Os vitoriosos, que reduzem tudo ao esforço e competição, conseguem amealhar incapacidades, conseguem sobreviver ao transformar outros seres em massa de manobra, em escada para ascender rumo às suas metas.
Todo pau-de-sebo deveria motivar para ser derrubado, desde que é um obstáculo despropositado. Derrubar, desconsiderar tudo que demanda esforço para realizar suas metas, tudo que se baseia em vitórias/fracassos, só é possível quando se aceita a continuidade do estar-aqui-e-agora-no-mundo-com-o-outro.
Os processos relacionais não se resumem a pau de sebo, não se resumem a abismo ou a “mar de rosas”, ou a quimeras, sonhos de felicidade. Relacionamento é participação, sintonização, equalização, contradição, destruição, desespero, bondade, maldade; mas, tudo isto enquanto vivência do que está acontecendo, do que está ocorrendo, e não como alavanca para o que se precisa, o que se necessita ou deseja que aconteça.