“Todas as formas de arte são inspiradas nas formas da natureza”.
Com essa máxima, o alemão Karl Blossfeldt (1865 – 1932) introduziu novas técnicas na fotografia, desempenhando um importante papel na arte do século XX.
Blossfeldt acreditava que a natureza tinha um importante papel no desenvolvimento da arte. Literalmente. Fotografou-a de uma maneira nunca antes experimentada. É no carácter óbvio de suas imagens que reside a inovação de Karl. Ele não somente introduziu uma técnica à fotografia, como inovou a maneira como se observa uma fotografia.
Sua carreira começou como escultor e modelador em uma fundição de arte, o que lhe rendeu uma bolsa na Escola do Museu Real de Belas Artes e Ofícios da Prússia, em Berlim. Por conta dos estudos fez várias viagens à zona do Mediterrâneo, que despertaram sua curiosidade acerca de todo o universo botânico. Já formado, Karl é convidado a participar de um projeto de pesquisa na Itália – com o professor e pintor Moritz Meurer – a fim de colher material vegetal para aulas de desenho. É neste período que Blossfeldt começa a documentar em fotografias as amostras de plantas. O projeto deveria conter ensaios temáticos e relatórios, além de imagens que serviriam de ilustração. Tal trabalho resultou em um precursor estudo da botânica e, mais tarde, Blossfeldt viria a ser reconhecido como um fotógrafo inovador.
As fotografias de Karl, desprovidas de qualquer intenção – além de servir como material didático – tiveram grande influência sobre os ornamentos orgânicos do design e das artes. Com suas técnicas ele foi precursor de um novo estilo de fotografia sem fazer, no entanto, idéia de que seria reconhecido por isso. Esse projeto, além de ser um marco na carreira de Karl possibilitou que o professor Meurer introduzisse o estudo das formas naturais no currículo escolar de arte.
Em 1898, começou a dar aulas na Faculdade de Artes e Ofícios em Berlim, mas continuou fotografando todos os tipos de plantas. Montou um grande arquivo de chapas de microfotografias de plantas, para uso nas suas atividades letivas.
Para enquadrar o máximo possível de detalhes das plantas, o fotógrafo as retirava de seu ambiente natural e as capturava em macro. Seu interesse eram apenas as plantas, isolando-as e evitando, assim, algum elemento secundário na cena que pudesse retirar o foco do objeto principal. Normalmente, Karl utilizava um fundo escuro ou branco para obter uniformidade do segundo plano e evidenciar apenas os detalhes da planta. Ele soube direcionar a atenção para cada detalhe pretendido através de focos de luz, sublinhando os elementos estruturais.
A câmara utilizada por Blossfeldt era relativamente simples e comum em seu tempo, em formato de 9 x 12 cm. Eram utilizadas placas de vidro, que serviam como negativos, e feitas emulsões com variação de valores cromáticos ou semitons. Sua técnica de processamento das imagens era feita por slides para projeção em formato de 8,5 x 10,5 cm. Todas as lâminas contendo as imagens seguiam um padrão: mostrar o objeto com clareza e sem detalhes irrelevantes. Essa técnica foi inspirada nos catálogos de plantas medicinais e livros antigos do século 17 e 18.
Sua primeira exposição foi realizada em 1926 na Galeria Nierendorf em Berlim, dois anos antes de publicar o seu primeiro livro “As Formas Originais da Arte”, que foi extremamente elogiado pela crítica e pelo público. Seu livro contém apenas 120 das quase seis mil microfotografias de sua coleção, composta por imagens meticulosamente arquitetadas, porém muito objetivas.
Uma atividade cuja temática pode parecer tediosa – fotografar espécies botânicas – tornou-se, no olhar talentoso de Karl, uma arte inusitada. Plantas, flores, brotos, caule ramificado, cápsulas de sementes – tudo fotografado com a forma de mastros totêmicos, de uma forma naturalmente selvagem. Sua linguagem é ousada e exótica, de um alto nível visual. De fato, a fotografia permite outra visão, maximiza percepções, muda o sentido da realidade. Entretanto, isso apenas acontece quando se atinge aquela tênue linha entre a fotografia e a arte de fotografar. E é exatamente o que Karl fez com muita maestria.
Para alguns críticos, a arte de Karl é extremamente objetiva e sem nenhum sentimentalismo. Não é criticada por isso, mas caracterizada por isso. E sua arte é exatamente isso. Ao fotografar, toda a sua objetividade conferiu ao objeto outra perspectiva. E fez isso porque não quis extrair nem incitar no observador nenhuma reação ou sentimento quanto à imagem. Sua fotografia em nada possui aquele romantismo das fotografias introspectivas. Se alguma coisa na arte de Karl tinha de ser entendida, era a sua objetividade como uma brutal penetração da realidade, e não um sistema de representação emocional.