Xi’an e seus soldados de Terracota

Já faz um tempo que fui a Xi’an. Escrevi um post básico sobre a cidade e fiquei de escrever um pouco mais sobre os guerreiros de Terracota. Mas sabem como o tempo voa... Queria um dia com 48 horas, mas acho que não vou conseguir isso não. Então vamos trabalhar com o que se temos nas mãos certo? Mas vamos ao que interessa ( eu sempre dou uma enrolada antes de começar de vez... não tem jeito!).

Os Guerreiros de Terracota

Existem algumas coisas no mundo que não adianta você mostrar fotos, tentar explicar a grandiosidade ou o impacto que aquilo causa. Os Guerreiros de Xi’an fazem parte desse grupo. Como tantas outras coisas aqui na China: a Muralha da China, o Festival de Esculturas de gelo de Harbin e assim vai. São milhares de soldados em tamanho natural, dispostos em posição de batalha, réplicas de homens e cavalos de verdade que viviam na época do imperador Qin Shi Huang. Um exército inteiro que iria acompanhar seu imperador para a imortalidade. Cada figura difere em características faciais e expressão, roupas, penteado, e os gestos, fornecendo para os historiadores um vasto material para explorar a vida militar, cultural e a história econômica desse período. Muitas das figuras empunhavam armas reais da época, como espadas de bronze, arcos, flechas, lanças, machados, adagas. As armas foram tratadas para serem resistentes à ferrugem e corrosão, de modo que, mesmo depois de ter sido enterrado há mais de 2.000 anos eles ainda eram afiados e em perfeito estado. De acordo com os registros, a construção dos poços para abrigar os guerreiros de terracota começou em 221 AC, quando a China estava unida. Durante as revoltas camponesas em 209 DC, a construção parou e no final da Dinastia Qin, atearam fogo ao poço, o que fez com que muitos guerreiros e cavalos de terracota fossem destruídos. Esse sítio arqueológico é a mais significante descoberta do século 20. Os trabalhos de escavação neste local, que é cerca de 1,5 km a leste do Mausoléu do Imperador, ainda continuam, sem previsão de finalização. Na realidade, nossa guia nos disse que eles não pretendem, por enquanto, abrir o túmulo, pois houve uma grande perda nos ‘pits’ abertos, pela entrada de oxigênio. As cores que tingiam os soldados apagaram num curto espaço de tempo depois da abertura. Então o plano é esperar que a tecnoloogia para esse problema avance e mostre opções que minimizem a perda. Só que realmente o que tem de trabalho só nos ‘pits’ que estão abertos, acho que não há por que se preocupar. =] O museu ocupa uma área de 16.300 metros quadrados, divididos em três seções: Pit 1 , Pit 2 e Pit 3. Eles foram marcados na ordem de suas descobertas. O Pit 1 é o maior e o primeiro aberto ao público em 01° de outubro de 1979, comemorando o Dia Nacional da China.

O Pit 1 foi descoberto em março de 1974, por um trabalhador rural que tentava escavar um poço de água potável. Imediatamente eles chamaram o governo local, que foi buscar pessoas especializadas para escavar e proteger essa descoberta. E ainda bem que nessa época a Revolução Cultural já estava praticamente terminada e tudo foi feito de maneira de preservar esse patrimônio da humanidade. Esse é o ponto mais famoso e fotografado do Museu. A estrutura construída para proteger a escavação tem 263 metros de comprimento por 68 de largura, e as escavações estão em 16 metros de profundidade. O Pit 2, encontrado em 1976, fica a 20 metros a nordeste do Pit 1. Ele continha mais de mil guerreiros e 90 carros de madeira. Foi aberto ao público em 1994. O Pit 3, também foi descoberto em 1976, 25 metros a noroeste de Pit 1. Parecia ser o centro de comando das forças armadas. Foi aberto em 1989, com 68 guerreiros, um carro de guerra e quatro cavalos. No total, mais de 7.000 soldados de cerâmica, cavalos, carros, e até mesmo armas foram desenterrados a partir desses poços. A maioria deles foram restaurados à sua antiga grandeza. Desde 01 de outubro de 2010 o Museu dos Guerreiros de Terracota e o Qin Shi Huang Mausoléu foram combinadas em uma grande área de atração, Mausoléu Site Park do Imperador Qin Shi Huang, que também inclui outros três pequenos sites abertos em 2011. Foi classificado pela UNESCO em 1987 como um dos patrimônios culturais da humanidade.

Mas quem foi esse imperador?

Qin Shi Huang subiu ao trono com 13 anos (em 246 aC), e logo começou a trabalhar para seu maosoléu. Ele foi o primeiro imperador da China, uniu os reinos, começou o processo hierárquico no governo, implantou novo sistema monetário, queimou livros e derrubou os intelectuais. Qin Shi Huang morreu, e milhares de estátuas foram sepultados com ele em poços em torno de seu túmulo. A construção terminou de fato, um ano depoisda sua morte, quando o império caiu em desordem.

Por que os Guerreiros de Terracota foram feitos?

Basicamente para serem enterrados com o Imperador Qin Shi Huang, pois acreditava que: • Seria uma demonstração de sua glória, • Para lembrar o exército que triunfou sobre o outro Reinos Combatentes ao unir a China, e • Porque acreditava-se que objetos como estátuas podem ser animados na vida após a morte, assim o imperador continuaria com a proteção necessária pós-morte.

Curiosidades

• Quando começaram os trabalhos de restauração, os especialistas foram percebendo que o precesso não seria tão simples, pois as partes dos soldados não se encaixavam com facilidade. Aí buscando juntar as peças por área delimitada, perceberam que cada soldado era diferente um do outro, ou seja, foram baseados em pessoas reais, com suas próprias características. Cabe lembrar que são mais de 7000 soldados! • Muitos historiadores estimam que mais de 700.000 artesãos e escravos construíram o complexo. • Também há a teoria que todos os trabalhadores foram condenados à morte para manter o mausoléu em segredo. • Tesouros: Também acreditam que a própria tumba subterrânea pode conter muito mais tesouros e artefatos (há menos que tenha sido saqueada). Mas não foi escavada. 2.000 anos atrás, um historiador chamado Sima Qian escreveu que o túmulo continha um mundo com montanhas feitas de ouro, estrelas representadas por pérolas, jóias e rios de mercúrio. • Reza a lenda que Mao Tsé Tung se inspirou no imperador Qin Shi Huang em algumas atitudes que tomou durante seu governo.

A história de Mr. Wang

O camponês que descobriu acidentalmente esse local, virou celebridade na China, principalmente depois de ter sido apresentado ao presidente americano J. Clinton. Há uma história que o presidente pediu um autógrafo ao Mr Wang, e ele recusou enfaticamente. Na realidade ele não podia dar autógrafo para ninguém, pois não sabia escrever (cresceu durante a Revolução Cultural). O governo então, contratou um professor que ensinasse Mr. Wang a escrever para que pudesse dar autógrafos a quem quer que fosse. Além disso ele recebe uma aposentadoria vitalícia do governo e mais um salário para ir algumas horas por dia ao Museu e autografar os livros que são vendidos na loja do museu. Claro que eu trouxe o meu exemplar!