Nasci no interior de São Paulo, e ali me apaixonei por arte, rodeada de natureza, livros, pinturas a óleo e esculturas, cresci sonhando em ser artista, escritora e pintora.
Em meio à confusões e silêncios daquela pequena cidade, deixei que as portas da criatividade se abrissem como um escapismo. Escrevi meus primeiros contos e minhas primeiras fantasias à sombra de árvores e à margem de rios.
Porém, fazia parte da história da cidade, da minha história, desejar escapar, desejar criar e se libertar.
Então, quis explorar e me encontrei em outra cidade de São Paulo, e depois no interior de Minas. Novas cidades, novos mundos, novas histórias.
Em Minas me apaixonei pela solidão libertadora, conversei comigo mesma e me conheci sem ninguém.
Mas, também me conheci com companhias extrapolantes, me apeguei a pessoas tão complexas quanto eu mesma acreditava ser. Personalidades que me moldaram e acredito terem sido moldadas por mim.
Em contraste com o interior que me criou e a liberdade de Minas onde amadureci, vivo em uma das cidades mais barulhentas que já conheci, que carrega o lema "Non ducor, duco", traduzido do Latim “Não sou conduzido, conduzo”.
Um lugar que continua a evoluir, que me inspira como um dia outras cidades me inspiraram. Me maravilho com os pequenos detalhes de algo tão grandioso, com uma história que fora escrita no passado e continua a se escrever. Que conduz a si mesma.
Durante esses anos de busca por viver, me encontrei estudando, e ainda estudo, línguas que me eram estranhas e incompreensíveis, mas enfim percebi a força da língua, a força da escrita, da comunicação, da conversa.
E assim me encontrei trabalhando como escritora fantasma, não porque colocava minhas palavras para o mundo ler, apesar de querer, mas porque gostava de escrever.
Por anos segui assim, dando à vida aos projetos de outros, vivenciando outras histórias, contos e vidas, deixando minha própria mente em segundo plano, deixando-a como apenas um hobby.
Escrevia o que me fosse pedido, pesquisava, compreendia, aprendia e me dedicava.
Escrevi sobre lugares que nunca vi, sabores que nunca experimentei, tristezas pelas quais nunca chorei e romances pelos quais nunca me enamorei.
Sempre em silêncio, sempre deixando o palco para outros, mas ouvindo atentamente, vivi, conheci e aprendi.
Nasci no silêncio com curiosidade, me formei na solidão com paixão e finalmente me encontro cativada por algo que sempre se enraizou em mim, o caos e a destruição da criação.
Então, enfim, me permiti criar.