Acredito que o amor corre pelas veias humanas entrelaçado com o sangue, como se entrelaçam as cadeias de DNA. Acredito que ele aquece nosso corpo como o fogo de uma vela em noites sem luz.
O amor nutre nossa alma como nutre histórias, como move vidas e como as encerra.
Porém, hoje não questiono o que é o amor, e sim o que é amar. A quem amamos e por que nunca deixamos de amar.
Amar cria expectativas, mas dita realidades. Não flui como água em rios; corre como caos em desordem, cria como cria a destruição. Amar não se guia como a natureza, não possui ordem, não tem regras, não tem noções.
Amar é o que machuca a carne e protege o abstrato, que envolve o pensamento e destrói o físico. Amar descreve o real, transcende arte, transforma horas em milênios e meses em segundos. Amar transforma memórias em histórias, em contos, em poemas e músicas. Visões em filmes, em fotos, em pinturas e esculturas. Amar existe para criar.
Nossa existência se resume em sentimentos, e emoções se resumem em amar. Pois, sem amar, não há respirar.
Não que eu seja uma estudiosa da filosofia e da existência humana, nem uma expert em amor. Mas amo, amei e sempre continuarei a amar, então, como humana apaixonada, escrevo minhas palavras.
Apesar de minha resistência em mencionar Platão, filósofo que me agrada quando conta sobre Atlântida, acredito em seus debates que abordam o amor. No entanto, divago em minha escrita, pois para mim, o amor filosófico apresentado há anos pelos gregos apenas significa uma coisa: que há muito tempo os sábios já tentavam, e em minha opinião falhavam, compreender o amor.
Mas uma parte que existe em mim ainda precisa tentar apresentar um ponto mais informativo antes de prosseguir em minhas escritas sobre sentimentos e me levar às lágrimas.
Amar, por si só, não é romântico; não é apenas sobre dois amantes enamorados que se rodeiam de rosas em um gramado primaveril sob o sol suave e amanteigado. Amar é escolher, todos os dias, a essência de alguém, de alguns e de algo. É escrever, ler e contar uma história tão profunda que cria raízes em nossas mentes como espinhos de rosas. Amar dói às vezes, mas também é leve, também liberta.
Amo tantas pessoas em minha vida que sinto meu coração como uma floresta cujas árvores possuem raízes tão longas que se conectam. Pois amo com amizade, com admiração, com carinho, com honra e, claro, com amor.
Amar amamos; amamos os olhos daquele pequeno animal que trouxemos para casa do pet shop. Amamos as vozes de cantores, as palavras de livros, as histórias de filmes, as paisagens de fotografias, os cheiros de lugares, os sabores de ingredientes e as texturas de tecidos.
Entende o que digo? Amar não é romântico, amar é adorar, é curar, é se iluminar e divertir.
E assim como os órgãos que nos preenchem, precisamos amar, precisamos nos preencher. Dizem que o ser humano é um ser social por natureza, mas prefiro dizer que ele é amoroso. De que adianta socializar se não podemos amar?
Não entraremos, por agora, em um debate sobre corações apaixonados e partidos, pois agora falaremos sobre criar, criar ali dentro de si uma bela floresta de raízes e histórias. Pois, nasce no ser humano a necessidade de ser compreendido, de falar, de brincar, de rir, de chorar, de sentir, de compartilhar e de amar. Pois sempre precisamos compartilhar, sempre precisamos amar.
Amar é algo que se cria com o tempo, que nasce com a presença, com a parceria, feito de gestos e de momentos.
Amar é algo sólido, que existe em uma memória, em um abraço, em um carinho e em um presente.
Mesmo aqueles que já se foram, aqueles que não vivem mais, que se afastaram, que mudaram, que partiram nossos corações. Amar ainda existe, pois amar é história.
Como um coração batendo, como um pulmão respirando, como as correntes elétricas que passam pela massa cinzenta dentro de nosso crânio que chamamos de cérebro, amar é a prova viva de que existimos.
E como já amei, me permito divagar.
Permito-me lembrar que, sob o céu estrelado, sinto o vento em meu rosto, a voz daqueles que amo ao fundo de uma música que me acorda, um festim de perfumes e cheiros. Pelas janelas passam os flashes de lugares, bares, lojas e calçadas, e em minha garganta, impregnada como a fumaça de um cigarro, minha voz apaixonada ecoa e em meus olhos, lágrimas do tamanho do mar.
Sentada no sofá, rodeada de sorrisos e risadas que aguardei ansiosamente para ouvir, sinto o passar do tempo como algo que se atrasa, algo que demora. Como observo meus arredores e me sinto completa, e me sinto amada. E em expressões suaves e o piscar de olhos, piadas internas e o tocar do relógio marcado errado que me faz rir.
Então olho para o céu, e aquelas poucas nuvens que decoram o azul claro escurecem, pois sempre chove. Mas, o cair das gotas não me impede de amar, me impulsiona a rir, a sorrir, a ir correndo ao mercado antes que piore, garantir que compramos o suficiente pois sempre sobra, pois a hora sempre passa rápida demais, pois a hora de ir embora sempre se adianta. E mesmo que não dure para sempre, eu continuo a amar, continuo a lembrar.
E olhando em seus olhos seguro sua mão, conto sobre meu dia e pergunto sobre o seu. Sobre um prato preenchido de sabores, aromas e texturas, transformo nosso momento em história e amor, especialmente quando surgimos com o assunto de quem deixamos em casa.
Quando penso em amar, me entrego ao que já vivi e aos amores que sei que viverei.
Penso em DVDs alugados e assistidos na madrugada adentro, em caminhadas ao fim da tarde, em músicas amadas sob a luz da lua, em letras cravadas em árvores antigas, em fins de semana passados fora de casa, em noites após o jantar iluminadas pela luz da TV, em conversas jogadas fora sob a fumaça, em copos vazios que são enchidos, em movimentos rápidos e ritmados sob as luzes coloridas.
Abraços compartilhados no conforto da cama antes do sol raiar e em histórias contadas para me deitar.
Penso, relembro, revivo e respiro em memórias, pois sempre amei e sempre amarei, pois sou humana e respiro o amor.