Viajar pela região da Toscana era um sonho antigo. Quando despertei o interesse por desbravar o mundo, sabia que a Itália seria um destino para conhecer de norte a sul. A grata felicidade tem sido morar perto do país. Em dois dias, percorri Pisa e Florence em uma frenética viagem de amigos. Tive a oportunidade de conhecer uma das torres mais icônicas da história e pisar no berço de personalidades e gênios.
A viagem para a região da Toscana é uma das rotas mais conhecidas da Itália. Transitar entre as duas cidades turisticamente falando é algo acessível e prático. No pouso do aeroporto de Pisa já é possível contemplar a paisagem de montanhas e campos verdes no entorno da cidade. A locomoção via metrô facilita o acesso à Pisa e dá aos turistas a recepção de organização que todos esperam. Além disso, é uma das formas mais rápidas e econômicas de se chegar à cidade.
Quando cheguei em Pisa, logo fui surpreendida com a limpeza e urbanização da cidade. Um trânsito fluido, muitos ciclistas e pedestres. Após sair da estação de trem e perto do hotel, encontro um mural do grafiteiro brasileiro Kobra. Uma colorida composição em homenagem ao físico Galileu Galilei segurando um telescópio com o formato da Torre de Pisa.
Se a primeira impressão é a que fica, a minha foi fisgada pelas paisagens de montanhas ao redor de Pisa. O clima de início do verão e a tranquilidade nas ruas foram a sintonia perfeita para aproveitar o meu novo destino.
Como foi conhecer uma das 7 maravilhas do mundo medieval
O desejo de ver uma das sete maravilhas do mundo medieval estava na minha lista de lugares para conhecer na Itália. Fui positivamente surpreendida com o complexo da Torre de Pisa, composto pelo batistério, a catedral e o cemitério. Estive na região por duas vezes, a noite e dia, e pude contemplá-la por diferentes ângulos.
A torre de Pisa demorou dois séculos para ser finalizada. Foi um projeto desafiador para os arquitetos Bonanno Pisano, Gherardo di Gherardo, Giovanni Pisano e Giovanni di Simone. A construção de arquitetura romana foi levantada em um terreno pantanoso, o que dificultou no processo de manter uma torre de 57 metros e 14 mil toneladas em posição vertical.
A inclinação, que hoje chama atenção do mundo para conhecer-lá, foi motivo de muito trabalho para os engenheiros da obra que tentaram erguê-la. Nos relatos históricos, detalham que foi possível reduzir a inclinação até uma distância de 40 centímetros de onde o topo da torre poderia estar.
Entre os engenheiros que passaram pela obra, o que ficou encarregado do projeto da Torre, John Burland, confessou que a mecânica solo — área fundamental para a edificação — não era uma das suas especialidades. Em razão disso, o projeto passou por momentos questionáveis que fizeram o engenheiro mudar de carreira, e com isso não interferiu em um pior resultado.
Entre esses 200 anos de história, houve muitas situações conflitantes para o projeto ser finalizado. Relatos que o ditador Benito Mussolini causou ainda mais alvoroço. Para ele, era uma vergonha o projeto, e, em 1934, tentou interferir na construção ordenando que fosse feito furos na fundação. Na sua concepção, isso ia ajudar a bombear argamassa para o solo e assim a torre poderia desinclinar, mas aconteceu o contrário e a construção ganhou ainda mais um pouco de inclinação.
Após finalizarem a obra, a Torre ainda precisou de correções. Em 2001, uma equipe de engenheiros conseguiu nivelar o solo e a Torre permanece estável pelos próximos 200 anos. Em 2008 foi decretado que ela não está mais em movimento de inclinação. A Torre foi construída para abrigar os sinos da igreja. São 7 sinos que correspondem às notas musicais. Cada andar da torre é destinado a uma nota.
O complexo é aberto para visitação gratuita na área externa, com acesso privado e limitado ao prédio da Torre. É necessário reservar online para garantir um horário. A visita dura 30 minutos na Torre e pode ser adquirida junto com a entrada na Catedral, Batistério e Cemitério.
Vale a pena a visita e usar toda criatividade para tirar fotos com a Torre torta!
Um passeio pelas ruas de Florença
De Pisa a Florença foi um passeio de trem de uma hora apreciando as vinícolas e os largos campos verdes. Caminhar pelas charmosas ruas de Florença é um espetáculo à parte. Uma das cidades mais belas e antigas da Itália é pura história e beleza. Considerado patrimônio mundial da Unesco é o berço de dois dos artistas plásticos mais famosos do mundo, Leonardo da Vinci e Michelangelo, e de Nicolau Maquiavel, político e escritor. Além de ser o local destinado ao túmulo do gênio Galileo Galilei, astrônomo e matemático.
Florença foi uma colônia Romana durante o século 1, passou por diversos processos até se tornar a capital da Toscana. Entre os séculos 14 e 16 teve a atividade do comércio e finanças aquecidas. A ascensão de Florença é fruto do financiamento dos Medice. A principal família a governar a cidade do século XVI ao XVIII. Os reis, condes, bispos, e a burguesia, faziam parte do grupo dos mecenas, os responsáveis pelo investimento na arte e arquitetura majestosa nas cidades europeias.
A cidade é a origem do cenário artístico da Itália. Abriga uma das obras mais famosas de Michelangelo, o David esculpido de mármore, que fica na Galeria da Academia. Embora nessa viagem não tive o prazer de encontrá-lo.
A capital da Toscana é um lugar para apaixonados pela história das artes plásticas e arquitetura. A cada esquina é uma cena cinematográfica para captar. A facilidade é fazer tudo a pé. Pelo centro se encontra a maioria das galerias, museus e igrejas.
Ao percorrer pelas principais ruas da cidade, você logo se depara com o Duomo, uma das maiores cúpulas da Europa, com 53 de altura e 90 de largura, projetada por Filippo Brunelleschi. A igreja foi construída para abrigar mais de 30.000 fiéis e contém pinturas e estátuas de artistas renascentistas. É um templo cristão imponente que chama atenção pelo teto avermelhado, a fachada de mármore verde com branco.
A Catedral homenageia a Santa Maria da Flor. Do topo da igreja é possível ter uma linda visão da cidade de Florença. Essa sem dúvida foi uma das igrejas mais bonitas que já conheci.
Outra igreja muito interessante de se conhecer é a Basílica de Santa Croce. Nela estão sepultados Galileu, Michelangelo e Maquiavel. Uma igreja do século XIII de origem franciscana. Para além dos templos religiosos, a cidade possui muitas praças que homenageiam os pintores famosos e museus como a Galeria de Uffizi, que ficará para minha próxima visita à Toscana. É uma das galerias mais visitadas da Europa, com cerca de 50 salas com a exposição de muitas obras renascentistas, como por exemplo: a pintura Vênus, de Sandro Botticelli.
Outro ponto interessante de conhecer são as pontes sob o rio Arno. Construções do período medieval que resistiram às enchentes de Florença e também aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Na ponte Vecchio atualmente é lugar dos comerciantes de joias, couro e souvenirs. Ela é conhecida como a única ponte que os alemães não destruíram durante a guerra.
Conhecer a Toscana me fez querer desbravar ainda mais o Norte da Itália. São muitas cidades e lugares incríveis que reúnem história, arquitetura e uma imersão na construção e cultura da italiana. Mas isso vai ficar para uma próxima aventura!
Arrivederci, Itália.