Andar pelas ruas de Malta é topar com algum maltês, indiano, asiático, árabe, colombiano ou mesmo brasileiro. O país é diverso em sua população e visitantes. Percorrendo a Europa há mais de dois anos, sinto uma sensação de mistura de vários países do globo em um só continente. Quando cheguei em Malta, senti isso ainda mais forte pela presença de empreendimentos culinários e comerciais de distintos lugares.

Por ser uma ilha muito famosa pelo turismo e escolas de intercâmbio, atrai muitos estrangeiros para temporadas que acabam durando mais. Foi o meu caso e de muitos amigos que já fiz pela ilha. Em seus 316 km, há muita história, cultura e mistura de povos que por aqui passaram e deixaram suas influências.

Por estar situada geograficamente entre a Europa, o Oriente Médio e o Norte da África, o arquipélago ganhou notoriedade pela posição estratégica. Os primeiros registros de povoação em Malta são datados de mais de 5.000 anos a.C. Muitos dos povos deixaram uma influência enorme na língua, gastronomia, história e arquitetura.

Quando paro para pensar que os fenícios, romanos, bizantinos, árabes, normandos já passaram pelo mesmo solo que piso hoje, é viver uma mistura de passado e presente.

Morando há um pouco mais de 1 ano na ilha, elencarei 5 curiosidades sobre como é viver no meio do Mar Mediterrâneo.

O clima da agitada ilha

Qualquer parte que você andará por Malta, acabará em uma praia, cliffs ou encosta próximo ao mar. Estamos ilhados; por muitas vezes não me dou conta. Passo muitos dias com a rotina casa e trabalho. Embora veja o mar frequentemente, se vou fazer uma caminhada ou para encontrar meus amigos que moram em outra região. Ainda acho estranho o fato de morar no meio do mar, numa pedra com um pouco mais de 300 km de extensão.

No entanto, me apetece saber que qualquer lugar é propício para curtir o verão. Uma das melhores partes de se viver desse lado da Europa. (Já estive no lado frio e prefiro meu lugar ao sol). Malta é considerado um dos países mais privilegiados em relação ao calor durante o solstício de verão. Tem sol em boa parte dos 365 dias do ano. As temperaturas sobem bastante durante junho, julho, agosto e setembro. É até incômodo o período de extremo calor, os termômetros marcam cerca de 40 ºC e a sensação térmica é ainda mais elevada. Nenhuma brisa passa e todo mundo corre para uma praia para aguentar o sol escaldante da ilha maltesa.

Tem sabor de comidas do mundo

A alimentação é uma das partes mais interessantes quando se gosta de provar comidas diferentes na ilha. Tenho uma variedade de restaurantes com culinária de muitos países ao redor do globo. Já comi várias iguarias maltesas, mas confesso que nenhuma delas me apetece o paladar. Um dos pratos mais famosos e tradicionais pelos malteses é o coelho ao molho, sanduíche de carne de cavalo e aperitivos feitos de massas com ricota e outros recheios. Sou muito fã da culinária italiana, japonesa, grega, da América Latina de modo geral. Também gosto de provar de tudo, já degustei pratos da Índia, Nepal, Paquistão, Vietnã, Filipinas. Encontrar um lugar para comer não é uma tarefa difícil em Malta, preços e opções para todos os bolsos. A região central é repleta de bares, lanchonetes, restaurantes.

O som poliglota

A variedade linguística é um dos pontos que faz a ilha ser um lugar propício para os poliglotas. O idioma oficial é o inglês e o maltês. A língua nativa dos residentes é uma mistura de árabe, italiano e inglês. Não é um idioma fácil de compreender, tem um som ríspido e boa parte das frases se complementam com a palavra "mela", que significa "ok, então…". Gosto de aprender algumas palavras e uma das minhas favoritas é "tajjeb", que significa "bom", se pronuncia "Taiba".

Embora essas sejam as línguas mais faladas pela população, há uma diversidade de outros idiomas que ouço frequentemente. O italiano tem uma forte influência por Malta ser habitada por muitos nativos da língua. O espanhol é uma das línguas mais faladas pelo número de imigrantes vindos da Colômbia, México, Peru e outros lugares da América Latina, além da Espanha. As línguas como Indu, Mandarim, Japonesa, Nepalesa também estão presentes nas ruas pela numerosidade de imigrantes vindo desse lado do mundo. Os espaços sociais do país estão sempre ecoando diferentes sons nos meus ouvidos, devido à pluralidade de línguas que ouço diariamente.

Os passeios pelas fotografias dos livros de história

Malta é muito rica em sua história e pelas construções arquitetônicas feitas ao longo desses mais de 5.000 anos de existência. Tenho a sensação de morar num livro com fotos de lugares antigos quando percorro as ruas, cheias de vielas e becos. Andar por Malta e observar as construções das casas e suas janelas decorativas me fazem distrair da frenética e solitária vida de imigrante. A cor dos prédios é predominantemente de um tom pastel, são construções estreitas com portas e janelas, geralmente, de cores vibrantes.

Segundo contam os relatos, há várias teorias do porquê as janelas são coloridas. Uma delas é resultado de uma influência da África, dos povos marroquinos que por aqui se estabeleceram. Também por volta do século XVIII, quando os Cavaleiros de Malta passaram por aqui, exigiram que as casas tivessem algum elemento de destaque. Na ilha, a construção de habitações se dá desordenadamente, com ruas bastante estreitas, inviabilizando um trânsito fluído. É muito comum eu presenciar grandes congestionamentos e brigas entre os motoristas. Uma rua caótica é apenas mais um dia normal em Malta. Fora o caos, é muito interessante observar detalhes de cada parte da arquitetura predominante barroca.

As festividades e a delícia do verão

Malta é considerada uma ilha com muitas atividades. Durante o ano inteiro, os malteses organizam suas celebrações e seguem o calendário do catolicismo para feriados e eventos cristãos. O verão atrai inúmeros turistas. É um mar de gente e muita gente no mar. Por aqui é possível aproveitar festas, festivais e concertos. A atmosfera da ilha muda completamente, os dias são mais longos e vejo as pessoas bem felizes. Como parte das atrações do verão, os malteses realizam as famosas festas dos santos. Cada cidade tem um "padroeiro", que seria como um protetor da região. As celebrações, procissões e as "quermesses", as feiras nas áreas externas das igrejas.

É nesse período que vejo uma das maiores tradições, a queima de fogos. Começa em abril e perdura pelos meses quentes do ano. O som estrondeante dos foguetes ao meio-dia assusta qualquer um que não está acostumado com isso. Entretanto, é bonito acompanhar as luzes coloridas no céu e suas distintas formações em noites de explosões de fogos.

Nesse país multicultural, são muitas facetas para definir a cultura, a história e a rotina que passa pelos meus olhos. As peculiaridades do seu povo, a influência dos imigrantes que atualmente representam mais de 25% dos moradores da ilha, fazem desse lugar um espaço de trocas culturais e diversidade inigualável. Ser moradora temporária da ilha tem sido uma experiência singular. Lugares e memórias maltesas que carregarei no meu baú de histórias da vida.