Quem diz que ao ir de transportes não se leva com trânsito, é porque nunca tentou apanhar ou sair de um comboio no Cais do Sodré em hora de ponta, sair do barco em Cacilhas numa manhã comum de trabalho, ou andar de metro numa simples tarde. As cancelas fazem fila. Os seguranças não dão conta de tanta gente. E o espaço? Esse é pouco, não há linha amarela no chão que seja respeitada. Somos muitos. Há quem prefira ir de pé durante todos estes percursos, junto das portas, não com medo de emergências, com pavor à para-arranca pedonal.
Quem diz que ir de transporte é mais prático, é porque não precisa de levar cadernos, livros, computador, lancheira e itens pessoais em mochilas prensadas na latinha de sardinhas que se constrói dentro daquele compartimento metálico. E na verdade, com tanta curva, somos todos almofadas de amparo.
Quem diz que ir de transporte é mais rápido, é porque nunca apanhou uma greve na CP, tentou safar-se com os autocarros da Carris que, coitados, se os pneus falassem… Mas que o passe é mais barato? Isso é. Mais ecológico? Logicamente que sim.
Mas mais cómodo? Não se pode inventar assim tanto.
Fugir do controlo de trânsito não é mais um problema nosso. Não se paga para estacionar a mala no colo. Mas correr para um banco livre é a maratona mais complexa do dia.
Mas depois surgem coisas que o relógio não pode ajudar mais, como o transporte não bater certo com o transporte seguinte e lá se vão mais 20/30 minutos do dia. Paciência, não fazem falta.
E trocar de transporte a cada bloco de vários minutos, contando-se horas até chegar ao destino? Frequente, muito frequente. Horas não, minutos.
Pelo menos, não se enfrenta a IC19, a 25 de Abril ou até mesmo a 2ª Circular nos dias em que o Benfica joga em casa. Assim como todas as outras estradas que perfazem as ligações entre as várias cidades deste distrito e outros.
Contudo, aturar a pouca educação de muitos, ou até higiene, é o prato do dia. E não, não se considera aqui a transpiração, que disso todos sofremos.
A máscara e o desinfetante até deixam saudade.
Mas que são incríveis? São. Em grandes cidades claro.
No interior são como os ursos albinos. Poucos e nenhuns.
O pouco respeito por pessoas com privilégios também é notório, velhinhos, grávidas e pessoas com cuidados especiais, mas também é importante repensar o abuso por quem os considera ter, e não tem.
E lá vai o trabalhador… que passou 9h no local de trabalho, trabalho pesado, e ainda enfrenta pela frente, hora e meia de viagem com sorte. Toca a levantar! Nem tudo é mau, as caras familiares que vamos vendo em pontos comuns, e as ajudas dos mais encorpados a abrir portas quando elas nos querem deixar de fora.
Cedências de passagem? Também as há, mas infelizmente não há código além da ética pessoal de cada um. Depois confunde se quem tem pressa tem com quem não tem nenhuma, poucos se encostam à direita, outros lá se vão encostando, deixando a esquerda para quem correr, mais precisa. O “com licença “ é efetivamente o nosso melhor amigo. Mas que são inquestionavelmente uma ajuda para quem decide trabalhar fora da sua cidade, são.
Assim, com pena, há ainda uma enorme desvalorização a estes trabalhadores, que levam a nossa vida nas suas mãos, mas que permitem que nos seus assentos haja dormitórios nas manhãs, escritórios ao fim de tarde, concertos nos dias em que nada apetece, abraçam os nossos melhores amigos de quatro patas, e claro, acima de tudo, são uma poupança.