A Disney Paris fez aniversário! 30 anos. Coincidiu de irmos para a festa. Filhas do patriarcado e criadas pelo capitalismo, ir à Disney é um sonho de absurdo consumo muito comum às crianças e adolescentes. Mesmo que eu não sonhasse, minha filha, sim, e nos aventuramos ao passeio mais mágico e desigual que já presenciamos. Apelidamos o parque, carinhosamente, Capitalismolândia. E nos divertimos, claro, não teve jeito.

Ao prepararmos a viagem, já baixamos o aplicativo para namorar as opções de brinquedos e atrações. Fizemos uma lista dos nossos preferidos. Peter Pan e Alice. Princesas e passeios de trem e barco.

Castelo para todo lado. Um longo caminho (incluindo Raio-x) até chegarmos finalmente na entrada “oficial” do parque. Tudo muito lindo e bem cuidado. O dia estava maravilhoso. Aproveitamos o bom tempo do início de setembro.

A primeira parada: uma loja para comprar a tiara de orelha. O que não era muito difícil, pois comércio é tudo que não falta. Arrisco dizer que há mais comércio que brinquedo… A primeira coisa após a entrada já é uma loja cheia de coloridos Disney. Minha filha não quis a orelha tradicional — o casal Mickey e Minnie não a atrai — e como havia orelhinhas personalizadas de vários personagens, ela optou pela Tiana (a sua preferida), do filme A princesa e o Sapo, onde curiosamente (apesar do título) a protagonista não é uma princesa. É uma mulher forte, independente e empreendedora. Feliz, de orelhinha verde, começamos bem!

Aproveitei para pegar o mapa em papel e facilitar nosso trânsito e localização, pois usaria o celular para tirar fotos. Não ia ficar por conta de aplicativo.

O castelo da Bela Adormecida é o primeiro que se apresenta. Na parte solo dele, uma nuvem de lojas. Ao subir as escadas, a história contada em grandes painéis e cenários por todo castelo. No covil, a trilha do dragão (La tanière du dragon). Assustador, barulhento, tudo no escuro... Ao sair do castelo, uma praça, com a espada mágica encravada em uma pedra e a meninada brincava de Arthur, tentando retirá-la e erguer a scalibur aos céus.

Na Fantasyland, as histórias da Branca de Neve e do Pinócchio foram contadas em “cavernas”, onde entrávamos com carrinhos e víamos os cenários de toda a história. Uma delícia de passeio com movimento, sons e cores.

O Peter Pan’s Flight estava desativado… inicialmente ficamos tristes, pois era o primeiro da nossa lista, mas não nos apegamos e fomos para os outros.

Demoramos no labirinto e no castelo da Alice. Muita coisa para explorar e brincar. E muitas fotos para registrar. No carrinho bate-bate de xícara da casa de chá do Chapeleiro Maluco eu não fui, mas apreciei aquele trânsito com a minha filha dentro. A lojinha da Alice é um sonho de consumo. Literalmente.

O segredo, querida Alice, é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração. É então, e só então, que você estará no País das Maravilhas.

Andamos no le petit train du cirque e voamos com o Dumbo (Dumbo the flying Elephant) no brinquedo mais básico da Disney. Digo básico, pois todo parque tem este brinquedo que se movimenta em círculos, subindo e descendo. Também carrossel, Le carroussel de Lancelot, é um clássico dos parques mundo afora. Eu gosto desses brinquedos inocentes. Aproveitei. No caso da Disney, a variação está no tamanho. São imensos. Imensas também são as filas. A do Dumbo foi absurda. Minto. A maior fila de todas foi a do Pavilhão das Princesas (na verdade, em um dia, a maior foi a do Dumbo; e no outro dia, a maior foi a das Princesas).

Enquanto caminhávamos pelos corredores do castelo, em fila, apreciávamos os quadros das histórias das princesas e seus elementos que nos distraíam um pouquinho. Já sabíamos que seria uma princesa que estaria disponível para um abraço e umas fotos. Mas a princesa era uma surpresa. Poderia ser qualquer uma da coleção Disney.

Enquanto esperávamos, fazíamos apostas. Lelê queria que fosse a Tiana. Eu queria a Bela. Mas imaginávamos as outras possibilidades. Quando chegou a nossa vez, eu ganhei! A Bela nos esperava, muito simpática e ainda falando algumas frases em português! Fotos e sorrisos. Seguimos.

Meu filho optou por explorar mais a Discoveryland e as atrações do Star Wars.

O barquinho que passeava no Le pays des Contes de Fées foi encantador. As ilhas eram livros gigantes abertos com uma passagem das histórias. Enquanto o barquinho navegava, apreciávamos as ilhas. Lindo demais. A minha vontade era pular para as ilhas!

Na Estação Ferroviária da Terra da Fantasia, vimos o Mickey a dar um tchauzinho para galera no final do dia. O trem desta estação é enorme e dá a volta em todo o parque: Fantasyland, Frontierland, Adventureland e Discoveryland. Eu adoro trens! Aquele ventinho no rosto, paisagem verde bonita ao redor de toda Disney (uma vez que a Eurodisney localiza-se em Marne la Vallée, uma aldeia rural rodeada de campos, do ladinho de Paris).

E por falar em trem, o passeio ao It’s a small word também era em um trem. O seu trilho percorria lentamente cenários da cultura do mundo. Belo e encantador. Claro que fiquei atenta à representação do Brasil, bem como as plaquinhas de Bem-vindo e Adeus escritas em português.

Pelas ruas da realeza, desfiles das personagens em altos carros alegóricos que nos surpreendiam com seu charme, a cumprimentar toda a gente, dançando e brincando. Era o Dream and Shine Brighter, espetáculo diurno da comemoração dos 30 anos da Disney Paris.

A passagem encantada do Aladdin, com seus mistérios da Arábia finalizava numa fila para foto com o próprio!

Na praia dos piratas, na Ilha da Aventura, fizemos um longo passeio de barco. Aquela delícia na água. Navegar é preciso.

Como era o 30º aniversário do Parque na Europa, antes do fechamento do local, o espetáculo Disney D-Light iluminava o céu noturno e o castelo da Bela Adormecida com fogos de artifício e efeitos especiais. Uma coreografia de luzes de drones projetadas no castelo com as músicas das histórias da Disney encantava o público que assistia maravilhado como um sonho acordado.

Foram dias felizes, leves no humor (e pesado de consumo). Eu, que sempre estive no meio da diversidade e não venho de classe privilegiada, crio meus filhos dentro das possibilidades e eles também experienciam bastante a diversidade em todos os sentidos. Minha filha levou um susto quando lá chegamos e disse espantada: mãe, eu nunca vi tanta gente loira no mesmo lugar…

Num espaço tão desigual, vestido à rigor com tudo o que o capitalismo impõe, conseguimos saborear o vento colorido a que nos propomos. Inspiramos magia, expiramos alegria.

Eu não sou louco, minha realidade é apenas diferente da sua.