Uma das grandes alegrias de um amante de viagens é poder otimizar e conhecer o maior número de locais possíveis, com qualidade. Porém, a vida, por vezes, coloca alguns obstáculos na nossa frente, como questões financeiras, incompatibilidade da sua agenda com quem irá com você ou mesmo se for sozinho(a), nem sempre tem disponível o tempo que acredita ser o ideal para realizar uma viagem bacana, principalmente em momentos especiais.

O meu caso era exatamente esse: em um momento muito especial da minha vida, ganhei de presente uma viagem para o lugar que eu quisesse ir. Quem não gostaria de receber essa notícia, não é mesmo? Pois bem, tive essa sorte. Mas havia alguns pontos a serem considerados: não iria sozinha e tinha um determinado orçamento para gastar. Sim, eu podia escolher para onde quisesse viajar, mas também não dava para acabar com todo o dinheiro do caixa - até porque não dá em árvore - havia limites e essa uma das primeiras dicas que dou para quem deixa de viajar porque tem medo da fatura do cartão no final do mês: estabelecer um valor para a viagem e planejar os gastos maiores com essa base.

Com o orçamento estabelecido, ainda tinha mais duas questões para resolver, já que não era uma viagem solo: tempo e destino. O primeiro, apesar de ter liberdade, não dependia de mim, mas sim de quem iria comigo, então foi necessário verificar quantos dias podiam ser tirados de folga. Resultado: sete dias. Fomos então para a terceira decisão e essa, preciso confessar, foi mais complicada do que pensei.

Inicialmente havia duas ideias na mesa, Islândia ou Grécia. Depois surgiu o Egito, que acabou ganhando a disputa. Porém, lembra do orçamento? Então… não era o suficiente para o que havíamos planejado. O que você faria nessa situação? Iria mesmo assim, mas não fazendo tudo o que gostaria de fazer, ou buscaria um novo plano e deixaria esse destino para uma outra oportunidade? Na minha história, buscamos um novo plano que passou a incluir não apenas um país, mas quatro: Hungria, Eslováquia, Áustria e Alemanha, conhecendo cinco cidades, sendo quatro delas as capitais.

Como? Visitar mais de um país não custa bem mais do que um só? Só avião e hotel já deve estourado o orçamento, não? Como que em sete dias é possível conhecer tantos lugares assim de maneira a realmente aproveitar? Talvez essas perguntas tenham passado na sua cabeça e aqui abaixo compartilho o roteiro e os principais motivos que fizeram com que essa viagem desse certo e entrasse para a memória.

Locomoção

Apesar do meio mais rápido de transporte ser o avião, não foi com ele que viajei. A escolha da vez foi o trem e mesmo com as longas horas de viagem a depender do destino, foi a decisão certa. Por quê? Porque além de ter saído em conta (mesmo comprando o bilhete de primeira classe), também tive mais espaço durante a viagem, menos estresse de ter que ficar passando em raio X e filas de imigração, e porque no fim das contas, somando o tempo de logística de ir até aeroporto, passar por todo o processo de check-in e mais o tempo de voo em si, o tempo dava praticamente o mesmo que tempo de viagem dentro do trem.

Para quem quiser fazer o mesmo, a minha dica é: avalie se vale a pena comprar tickets individuais por destino ou um ticket único que permita você utilizar por vários dias e destinos. No planejamento que fiz para os destinos escolhidos, valia mais a pena comprar um ticket único e o sistema que utilizei foi o Global Pass de quatro dias da Interrail Eurail.

Hospedagem

Em qualquer viagem, avalio sempre a opção de hospedagem em Airbnb ou Hotel e para essa, em função da logística e proximidade com a estação de trem e os principais locais de visita nas cidades, fiquei em hotel. Procurando bem, é possível encontrar opções muito boas e com preço justo para caber no orçamento.

Ordem dos países

Uma coisa é ter os destinos escolhidos, outra é definir a ordem de visita. Qual a importância de uma análise muito bem feita aqui? Porque além de otimizarmos o tempo, ainda podemos ter a surpresa de incluir um destino extra. Na ideia inicial, Eslováquia não estava no roteiro, mas depois que vimos quais as melhores opções de percurso e horários de trem, vimos que entre a visita na Hungria e Áustria, dava para passar na capital da Eslováquia, porque era no meio do caminho.

Além da ferramenta Google Maps, também utilizamos o próprio aplicativo da Interrail Eurail para verificar a duração e paradas das viagens, e o resultado foi esse:

  • Primeiro trem com ticket Interrail Eurail: Suíça para a capital da Hungria, Budapeste;

  • Segundo trem com ticket Interrail Eurail: Budapeste, Hungria, para a capital da Eslováquia, Bratislava;

  • Terceiro trem com ticket Interrail Eurail: Bratislava, Eslováquia, para a capital da Áustria, Viena;

  • Quarto trem com ticket Interrail Eurail: Viena, Áustria, para a capital da Alemanha, Berlim;

  • Quinto trem com o sistema de transporte da Alemanha, o Deutsche Bahn: Berlim Alemanha, para Potsdam, Alemanha;

  • Sexto trem com ticket Interrail Eurail: Berlim, Alemanha, para Suíça novamente.

Quanto tempo em cada local?

Os dias e noites abaixo são os que colocamos no nosso planejamento e incluem o tempo total destinado (locomoção + tempo de visita na cidade), e lembrando que no seu planejamento, eles podem ser diferentes.

  • Budapeste, Hungria: 3 dias e 2 noites;

  • Bratislava, Eslováquia: 7 horas;

  • Viena, Áustria: 3 dias e 2 noites;

  • Berlim, Alemanha: 4 dias e 3 noites;

  • Potsdam, Alemanha: 5 horas.

O que fazer em cada uma das cidades?

Obviamente cada um tem seus gostos e até mesmo está visitando esses destinos por motivos bem específicos. Se você não faz ideia do que fazer em cada uma das cidades ou mesmo quer novas dicas do que visitar, essas são as minhas:

Budapeste, Hungria

Em função da história, arquitetura e atmosfera, a capital da Hungria que é dividida pelo rio Danúbio me lembrou bastante da capital da República Tcheca, Praga (esse é outro destino que vale a pena ir, caso ainda não tenha conhecido). Os principais pontos de Budapeste para visitar:

  1. Parlamento Húngaro: um dos edifícios mais icônicos da cidade. (Atenção: planeje a visita com antecedência para garantir ingressos.)

  2. Bastião dos Pescadores: mirante histórico com vista espetacular do Danúbio e da cidade.

  3. Igreja de São Matias: igreja gótica com bela arquitetura e detalhes impressionantes.

  4. Sapatos à Beira do Danúbio: memorial comovente em homenagem às vítimas do Holocausto.

  5. Praça dos Heróis: patrimônio Mundial da UNESCO, representando a história e cultura da Hungria.

  6. Castelo de Buda: complexo histórico que inclui museus e vistas panorâmicas da cidade.

Dica da Ju: explore os bares locais para aproveitar a vibrante vida noturna de Budapeste, minha recomendação é ir no Szimpla Kertmozi, um local inusitado com vários bares, música e decorado com objetos antigos e diferentes. E se você gosta de ir em rooftops, minha sugestão é ir no 360 Bar.

Bratislava, Eslováquia

A capital da Eslováquia é bem compacta, então em algumas horas dá para conhecer os principais pontos turísticos e descobrir sobre a cultura local. O que fazer:

  1. Castelo de Bratislava: localizado em uma colina com vistas incríveis do rio Danúbio e da cidade. O museu histórico no interior oferece um panorama da história local.

  2. Igreja Azul (Modrý kostolík): pequena, charmosa e única, em estilo Art Nouveau, é um dos símbolos mais fotografados da cidade.

  3. Estátuas de Rua: encontre esculturas como "Cumil", o homem saindo do bueiro, e Napoleão encostado em um banco, que dão um toque divertido à cidade.

  4. Centro Histórico: passeie pelas ruas estreitas e charmosas, com cafés, restaurantes e arquitetura barroca.

Dica da Ju: pare para comer em um restaurante bem típico, e que me surpreendeu bastante, chamado Bratislavská Reštaurácia (Bratislava Flagship). Comida boa, atendimento bom e ambiente bem aconchegante. Olhando do lado de fora você não faz ideia do que tem lá dentro.

Viena, Áustria

Para os amantes da música, Viena é o destino perfeito, já que foi o lar de grandes nomes como Mozart, Beethoven e Strauss, e para os amantes de café, também. Os cafés vienenses foram reconhecidos como patrimônio cultural imaterial da UNESCO, então não deixe de conhecer pelo menos um. A capital da Áustria tem muita tradição histórica e experiências e locais incríveis. O que visitar:

  1. Palácio de Schönbrunn: residência de verão dos Habsburgo, com jardins espetaculares e interiores luxuosos.

  2. Catedral de Santo Estêvão (Stephansdom): símbolo de Viena, com uma arquitetura gótica impressionante e possibilidade de subir na torre para vistas da cidade.

  3. Ópera Estatal de Viena: assista a uma apresentação ou faça um tour pelos bastidores desse marco cultural.

  4. MuseumsQuartier: área repleta de museus, como o Museu de História da Arte e o Leopold Museum.

  5. Palácio de Hofburg: residência imperial, abriga a Escola de Equitação Espanhola e o museu da Imperatriz Sissi.

  6. Parque Prater: conheça a roda-gigante icônica e o parque de diversões.

Dica da Ju: vá no Café Central comer um pedaço da tradicional torta Sachertorte. A depender do horário, tem fila para entrar, mas anda rápido, fiquei 15 minutos apenas.

Berlim, Alemanha

Não apenas no cenário atual, mas principalmente no passado, Berlim foi uma das principais cidades da história, o que gerou consequências tanto para as pessoas quanto para a infraestrutura. Apesar dos danos durante a Segunda Guerra Mundial, a capital da Alemanha foi reconstruída com foco na funcionalidade e inovação, permitindo que as pessoas tenham acesso hoje aos principais pontos históricos:

  1. Portão de Brandemburgo: Um dos símbolos mais icônicos da cidade e da reunificação alemã.

  2. Muro de Berlim (East Side Gallery): Trecho preservado do muro, transformado em galeria de arte ao ar livre.

  3. Memorial do Holocausto: memorial impressionante em homenagem às vítimas do Holocausto, com uma exposição subterrânea.

  4. Reichstag: parlamento alemão com cúpula de vidro. É necessário agendar a visita com antecedência.

  5. Ilha dos Museus: complexo que reúne alguns dos melhores museus de arte e história da Europa.

  6. Alexanderplatz e Torre de TV: praça histórica e torre com vistas incríveis de Berlim.

Dica da Ju: tome um café da manhã no Café am Neuen See, um lugar bem charmoso e com boa comida que fica no coração do Tiergarten.

Potsdam, Alemanha

Uma cidade que à primeira vista pode ser apenas só mais um local, mas no fim das contas entrega muita coisa e eu saí de lá mega surpreendida. Potsdam teve um papel importante na história do século XX e hoje possui alguns palácios e parques na lista de Patrimônios Mundiais da Unesco. O que conhecer por lá:

  1. Palácio de Sanssouci: residência de verão de Frederico, o Grande, cercada por jardins belíssimos e fontes.

  2. Novo Palácio: um dos maiores palácios de Potsdam, com arquitetura majestosa e interior ricamente decorado.

  3. Portão de Brandemburgo de Potsdam: menor que o de Berlim, mas igualmente charmoso.

  4. Bairro Holandês: casas em estilo holandês, com cafés e lojas acolhedoras.

  5. Cecilienhof: palácio onde aconteceu a Conferência de Potsdam no final da Segunda Guerra Mundial.

  6. Ponte Glienicke: conhecida como a "Ponte dos Espiões", usada para trocas de agentes durante a Guerra Fria.

Dica da Ju: para facilitar a locomoção aproveitar ao máximo a cidade em algumas horas e ainda ter uma experiência diferente, alugue um patinete elétrico para ir de uma atração para outra. Assim que você sai da estação de trem, já consegue ver alguns na rua para alugar.

Dá para visitar tudo isso em sete dias incluindo a locomoção entre os destinos? Se você tiver um bom planejamento de tempo e logística, dá para conhecer grande parte sim.

Teve perrengue?

Teve e apesar de não ser o pior dos piores, foi um perrengue exaustivo e que vale ser mencionado. Na segunda parte do trajeto entre Viena e Berlim, com duração de 4 horas, indo de Praga, na República Tcheca, até a capital alemã, o trem estava superlotado e mesmo com bilhete de primeira classe, não conseguimos poltrona. Dava para trocar de trem? Não. Então o jeito foi encontrar um espaço no corredor, entre a divisão dos vagões, para sentar. Foi cansativo? Foi, mas ficou o aprendizado para fazer a reserva do assento antecipadamente e não depender da sorte na hora.