Desde criança, quando tínhamos a oportunidade de viajar em família, isso era motivo de felicidade. Não importava se era apenas um final de semana no sítio ou se fôssemos nos aventurar por quilômetros e mais quilômetros para visitar um parente distante. O sair da rotina, os passeios, o tempo em família, os planos... Tudo fazia parte desse processo tão encantador.

Depois, já adulta, os tempos eram outros. O acesso à internet e ao transporte aéreo se democratizou e, consequentemente, as distâncias encurtaram. Conhecer lugares que antes só conhecíamos por conta dos inúmeros mapas feitos em papel vegetal para os trabalhos escolares passou a ser algo tangível. Passamos a ter acesso à informação em alta velocidade, ver fotos de qualquer lugar do mundo em apenas um click. Buscar os melhores roteiros, guias e sugestões se tornou tarefa fácil. Mapas e satélites tornaram-se aliados. E a enorme malha aérea existente hoje nos possibilita chegar a qualquer ponto do planeta de forma muito mais acessível.

Claro, planejamento e investimento ainda são necessários, mas hoje podemos dizer que é possível!

Por muito tempo, ainda antes de ter filhos, viajei muito, em especial na companhia do meu marido. Isso nos fortaleceu como casal, dentro das histórias que só nós compartilhamos e dos destinos que só nós conhecíamos. Alguns anos depois, quando nasceu nosso primeiro filho, demos uma pausa, mas passado o primeiro e mais difícil ano de adaptação, voltamos a pôr o pé na estrada. Foram vários os destinos que ele, tão pequeno, explorava conosco. Apresentar-lhe o mundo era, para nós, algo gratificante, parte da formação que gostaríamos que ele tivesse, para que assim pudesse, por ele mesmo, construir, pouco a pouco, suas próprias impressões e visão de mundo.

Quando vieram os gêmeos, já não éramos mais nem 2, nem 3, passamos a ser 5. E aí, claro, a coisa complicou. A logística de viajar com três crianças tornou-se, além de complexa e exaustiva, extremamente cara. Comprar passagem aérea para cinco pessoas é algo que muitas vezes joga um balde de água fria nos nossos planos.

Além disso, infelizmente, os hotéis em sua quase totalidade só permitem quatro pessoas por quarto. Não interessa que se trate de crianças que podem compartilhar a cama com seus pais ou irmãos; o quinto membro não é permitido. E aí, mais custos são agregados.

Com tantas complicações, por um certo período, começamos a priorizar viagens de carro. Já chegamos a ir da Bahia até o Uruguai dessa forma, mas, é claro, a viagem por estradas também se torna limitada. Então, fomos nos adaptando. Descobrimos outras formas de hospedagem e reduzimos significativamente a quantidade de viagens anuais, para que o orçamento, antes um pouco mais folgado para um casal, agora suprisse toda a família.

No meio disso, vivemos a terrível pandemia, e aí o mundo inteiro se viu assustado, limitado e fazendo contas para conseguir sobreviver. Viajar foi posto completamente de lado, e fomos vivendo o dia a dia daqueles tempos incertos.

Passado o pior, a rotina se modificou, e como seres humanos adaptáveis que somos, nos acostumamos a uma nova forma de viver. O apartamento de antes virou uma espaçosa casa com jardim para nos trazer um pouco da liberdade que nos foi arrancada. Porém, com a sonhada casa, vieram também uma série de outras responsabilidades que antes não havíamos mensurado: manutenções, reformas, mão de obra e muitos reais se esvaindo a cada mês. E aí, é claro, viajar ficou novamente em segundo plano.

Agora, contudo, no auge dos nossos 40 anos, voltamos a nos questionar: mas, afinal, o que de fato vale a pena?

Sim, morar bem é ótimo para nosso bem-estar diário. Mas, quanto temos que dedicar para manter uma casa, tanto em termos financeiros, quanto em relação ao nosso tempo e nossa saúde mental? Quem já se aventurou em uma obra sabe bem do que estou falando, além das manutenções intermináveis que fazem parte desse pacote. Talvez por isso, a cada dia, vemos mais e mais pessoas largando tudo para irem viver suas vidas de sonho, viajando pelo mundo.

Para mim, contudo, sendo mãe de três crianças, é extremamente importante garantir um local para chamarmos de “nosso”. Para onde possamos voltar depois da ausência e onde nos sintamos de fato “em casa”. Não conseguiria abrir mão disso para ter uma vida nômade. Mas, também, a cada dia penso que é possível balancearmos nossas escolhas e encontrar um meio termo.

Esse meio termo é onde me encontro agora, buscando alcançá-lo de forma planejada e racional. Atrás novamente da leveza que a rotina e as responsabilidades acabaram, de certa forma, por embaralhar. O encantar-se com as descobertas, o aventurar-se, as trocas e a conexão que as viagens sempre nos proporcionaram.

Cada pessoa sabe o que lhe faz bem e o que, de fato, tem importância em suas vidas. Ter coragem para se entregar a isso e maturidade para se dispor a abrir mão do que é necessário para alcançá-lo é uma decisão pessoal. Mas possível.