Viver em Paris, a cidade das luzes, dos amantes e da moda, pode soar como um conto de fadas para muitos. No entanto, para uma jovem expatriada, essa experiência vai além de todo tipo de clichê. Como uma "ainda" menina de 24 anos, minha jornada em Paris tem sido uma mistura complexa de desafios, descobertas e surpresas (até mesmo sobre mim). Desde o momento em que pisei nesta cidade icônica, fui confrontada com a realidade de ser uma estrangeira. A adaptação não foi e não tem sido fácil. A língua, os costumes e até mesmo o ritmo de vida são diferentes de tudo o que aprendi ao longo de toda a minha vida. A solidão inicial foi uma sombra estranha, que ao mesmo tempo que escurecia um lado, iluminava outros tantos, principalmente aqueles onde eu não sabia que tinha uma parte de mim. Ficar sozinha também me catalisou para explorar as regiões menos conhecidas da cidade e, assim, me conectar com sua essência além dos pontos turísticos. E como isso é fundamental para quem mora fora. Descobrir a minha própria Paris me deu identidade, me mostrou que tem uma Helena que também faz parte daqui.
Uma das maiores lições que aprendi em Paris foi a importância de abrir minha mente para novas perspectivas e culturas. A diversidade é uma característica intrínseca desta metrópole, que tem pessoas do mundo inteiro, que também trazem consigo um pedaço desse outro mundo, e cada encontro com pessoas de diferentes origens enriqueceu minha compreensão do mundo e de mim mesma. Das conversas com um artista de rua à troca de ideias com outros jovens também no mesmo momento em que eu estou, cada interação contribuiu para moldar minha visão de mundo e meu trabalho criativo. Mas sabe o que mais? Me mostrou que eu não sou especial. E isso é um alívio!
Não posso negar os desafios que acompanham essa experiência de expatriação. A burocracia, por exemplo, é um labirinto que muitas vezes parece não ter fim (e a França é famosa por isso). Desde o início do meu processo de vinda até a navegação pelos sistemas de saúde e educação, cada aspecto da vida cotidiana apresenta obstáculos que exigem paciência e determinação. Mas é nesses momentos de superação que descobri minha própria resiliência e capacidade de adaptação.
Além das questões práticas, há também a inevitável jornada emocional de se estabelecer em um lugar novo. A saudade da família e dos amigos, a nostalgia pela comida e pela cultura brasileira (como é duro estar longe do carnaval) e a sensação de não pertencimento são sentimentos que todos os que fazem a escolha de imigrar conhecem bem. No entanto, ao enfrentar esses desafios de frente, descobri uma força interna que não sabia que tinha. Agora, para tudo isso existe uma compensação. E para mim uma das facetas mais intrigantes de morar em Paris é a imersão na cena fashion da cidade. Isso é algo que eu nunca tinha visto na minha vida. Aqui, a moda não é apenas uma indústria, mas uma forma de arte e expressão cultural, a cada esquina. Desde os desfiles de alta costura até os brechós escondidos em becos impossíveis de se ter alguma coisa, Paris é um paraíso para os amantes da moda. Para mim, isso significou não apenas absorver a inspiração ao meu redor, mas também mergulhar de cabeça em uma moda que eu não conhecia e que para mim é a verdadeira.
Mas mais do que simplesmente seguir o “caminho” da moda, morar em Paris me ensinou a valorizar a autenticidade e a individualidade em minha própria jornada criativa. Nesta cidade de um estilo único, é fácil se perder na busca pela perfeição estética. No entanto, ao abraçar minhas raízes brasileiras e minha própria visão também única, descobri uma voz criativa que é verdadeiramente minha.
Além da moda, outra vertente fascinante da vida em Paris é a riqueza cultural que permeia cada esquina (e isso explica a efervescência fashion). Dos museus de renome mundial às galerias de arte independentes, há uma infinitude de inspiração para ser encontrada aqui. Para mim, explorar o lado cultural de Paris é uma aventura por si só e uma oportunidade de expandir meus horizontes e desafiar minhas próprias percepções. Repeti museus diversas vezes e a cada uma delas encontrei tudo diferente.
Em última análise, morar em Paris como quem eu sou e o que carrego tem sido uma experiência transformadora. Foi aqui que descobri minha voz criativa, minha força interior e minha capacidade de superar desafios. Paris não é apenas a cidade das luzes; é um espelho que reflete as muitas facetas da vida e da arte, de todos que vivem nela. E é aqui, além dos clichês românticos, que talvez eu tenha encontrado algum tipo de lar.