Eu me apaixonei pela Espanha há muito tempo, e sem nem mesmo conhecê-la. Não é possível precisar o dia, hora, lugar e até mesmo o que me fez apaixonar por esse país que fica a quase 8 mil km de distância do Brasil. Mas tenho uma memória bem viva que, desde jovem, sempre disse que era louca por aquele lugar. Quando me perguntavam: "Para qual país você quer ir?", na ponta da língua estava: Espanha. Demorou um tempo até que meu sonho de viajar para lá se realizasse, mas ele chegou. Apesar de toda paixão que tinha dentro de mim, fui para a Espanha sem expectativas, o que tornou tudo um verdadeiro encanto.

Não tinha noção do que encontrar por lá, porque me apaixonei pelo país sem nem ao menos conhecer e saber de sua história. Talvez tenha sido o idioma, esse realmente sempre me atraiu, e, com isso, diretamente, me senti apaixonada pelo lugar que desenvolveu a língua. Quando se falava de Espanha, além da culinária, times de futebol, seleção que foi campeã e a dança flamenca, a única coisa que eu tinha certeza de que queria conhecer durante minha visita e que sabia que ficava lá, era minha obra de arte preferida, a tão conhecida "Guernica", pintura de Pablo Picasso que retrata a Guerra Civil Espanhola. A pintura mostra a resistência contra o autoritarismo e a ascensão de governos fascistas na Europa, além de tratar o poder destrutivo de uma guerra.

Quando se trata desta obra, existe uma história por trás dela, em que diz que um oficial nazista visitou o ateliê de Picasso e lhe perguntou: "Você que fez?". O artista então respondeu: "Não, foram vocês", se referindo à guerra que deu origem ao quadro. Atualmente, a obra está exposta no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid. Apesar da tragédia que narra seus traços, a pintura é magnífica e tem um grande significado.

Mais do que essa obra de arte, Madrid me proporciona tudo de melhor. Na minha visão, a cidade é o estereótipo que eu tinha da Europa. Cheguei em terras madrilenas de madrugada, por volta das 4 da manhã, mas no local da minha estadia, só fui chegar por volta das 6h. Mas até hoje as memórias estão vivas. Me hospedei próximo da avenida principal, o que fez com que ao subir as escadas rolantes do metrô direto na Gran Vía, eu criasse minha primeira memória afetiva. Agora, para mim, 5h da manhã tem cheiro de Madrid. O tom azul da noite, como alaranjado e lilás do amanhecer, foi o meu primeiro contato com aquela cidade que sempre sonhei. Apesar de ser de manhã, as ruas estavam movimentadas. Era uma segunda-feira. De início, algo acendeu meu alerta, o silêncio que estava mesmo com a movimentação.

Sempre brinco que uma coisa que me encantou na Europa é o silêncio. Acostumada com o Brasil, que é barulho toda hora, seja de manhã, tarde ou noite, dar de cara com o silêncio é estranho, mas prazeroso. Os ônibus não fazem barulhos, os carros parecem naves, andavam rápido, mas de forma suave. Estava me sentindo no paraíso. No hostel, uma mistura de entra e sai. Gente que estava chegando para escrever sua história, assim como eu, e aqueles que estavam partindo.

Apesar dos poucos dias que fiquei em Madrid, aprendi o que é qualidade de vida, e mudei o meu conceito. Os dias escurecem tarde, o que dá sensação de que tudo rende mais e, mesmo saindo à noite do trabalho, você ainda tem tempo de vida. Os museus, a partir das 17h, são gratuitos - só precisa dar sorte das filas não estarem gigantescas. No período da tarde, quando se tem a "siesta", as pessoas aproveitam para ter lazer, o que dá um respiro do trabalho. Não só a Espanha, como a Europa em si, me mostrou que a vida não é só trabalho. Trabalhar é uma parte do nosso dia, e não tem que ser por inteiro.

Aproveitar um pôr do sol na praça, andar pelas ruas enquanto está claro, mas já é noite, é uma sensação inexplicável. Caminhando pelos restaurantes, bares, calçadões, é forte a presença de idosos, que se reúnem para conversar. Isso desperta atenção, desejo e nos faz questionar: será que não precisamos pausar? Estamos tão acostumados com a vida corrida, que chegamos a normalizar a ausência de tempo e a exclusão de lazer dos nossos dias, mas quando nos deparamos tempo para aproveitar e uma vida mais leve e tranquila, a gente não quer mais voltar para nossa realidade antiga. Porque aprendemos a dividir nosso dia da melhor forma: hora de trabalhar, descansar, se divertir, estudar… ou qualquer outra tarefa que deseja realizar. Madrid mudou minha vida, não só pelo fato de me fazer acreditar que é sim possível realizarmos nossos sonhos, como na necessidade de olharmos e deixarmos a vida mais suave.