Madrid. Os ruídos da Plaza Mayor, o cheiro do jardim do museu Reina Sofía, a paz que existe num quadro de Juan Gris. Os caminhos. Uma cerveja no La Campana. Encontrar García Lorca na livraria. As ruas, perder-se nas ruas! Churros madrilenhos e chocolate. O garçom e o elogio do castelhano. Habitar o outro. “Usar palavras emprestadas” (Ana M. Marques). Olhar o acaso.

Caminhar desde o século XXI até o XIII, no percurso ao contrário do museu Thyssen. Hopper e a denúncia da solidão contemporânea. Paulo Nazareth e a denúncia da violência colonial. Antiquários por las calles. Deixar sem resposta a pergunta do Mercado de San Fernando: Cuando vuelves? As ruas medievais do bairro Lavapiés, a diversidade e as muitas línguas. A Marcha del Orgullo como surpresa, na porta do meu hotel. E a cidade colorida, no acolhimento: é preciso respeito ao existir.

A Gran Vía e histórias de guerras nas paredes. Também cofres escondidos com livros, no Instituto Cervantes. Guarda-chuva amarelo e laranja. Fora da foto, a porta secreta da casinha de Ratón Pérez. O Sol na Puerta del Sol. A entrada de Madrid: a Puerta de Alcalá. O Parque do Retiro. O parque do Retiro e a música. O parque do Retiro e caminho longo, no entardecer das 22 horas, com pássaros e gritos noturnos. O palácio real e as cortinas que escondem o ouro. Rubens, El Greco, Velázquez e Goya não fotografados, no Museo del Prado. O corpo como música: Flamenco, no Corral de la Morería.

Galícia. Os caminhos e Santiago de Compostela. O idioma de antes, niebla, os peregrinos. Paredes fundadas úmidas. Ruas, silêncio. Calles, barulhos. Pedras e ruídos noturnos. O que não se vê: o sabor das tartas, dos quesos e do Albariño. A “maxia” da terra de “meigas”.

Pontevedra e os lugares que pareciam conhecidos. Caminhos. A Igreja da Peregrina, em forma de concha, observada pelo Loro Ravachol. Poetas, intelectuais petrificados. O convento de São Francisco. Janelas fora de ordem. O segredo de Valle-Inclan. A casa do escritor. A casa do vizinho do escritor. Ruínas e a fonte de águas verdes. O santo de gafas na igreja antiga.

“A Peneda”, pedra sobre o mundo. Ventos e neblinas. Lá embaixo, Vigo, ao lado da ría, com a ponte de Rande, atravessada depois, quando o mundo era todo névoa, todo branco. As ruas altas de Vigo. Castrelo. O Porto que não fotografei. A cidade de tentáculos: história, indústria, barcos, carros e pesca. E o mar da cantiga de Codax. “Ondas do mar de Vigo”. Atrás das nuvens, as ilhas Cies. Não fotografei também meus olhos úmidos, ao avistar um hórreo. Ali perto, o Castelo de Soutomaior e histórias de disputas do dono de terras que madruga. A ponte medieval de Ponte Sampaio e memórias de lutas. Sim, era eu, dirigindo o carro alugado e azul por curvas, curvas e pontes de Galícia.

Santiago de Compostela. Entrar na igreja fundada por São Francisco. O perfume. As linhas e o silêncio. Lá fora as névoas e a choiva sobre a estátua. Na pedra, musgo e pequenas flores roxas. Caminhar sobre as cubiertas da catedral. Embaixo, pequenas pessoas. O antigo convento. Moedas na parede de pedras. Buscar a Queimada. Olhares ritualísticos. Ouvir o galego. Terra de antes.

Ourense, a ponte e a concha. Caminho de Compostela. A mão na água quente. Termas romanas. Então as vinhas sobre encostas e cânions. Florezinhas amarelas. A placa de Stop. Dirigir por rutas de Galícia. Avistar meigas, entre a folhagem. Águas que conversam. As curvas. A estrada que desaparece. De repente, o pueblo abandonado. Casas solenes, esquecidas. 360º de curvas. E o carro azul. Lá embaixo a ponte estreita, sobre o precipício. Mais descidas. O rio Sil. O barco sobre águas verdes. E as encostas que se fecham, depois do rastro da água. Alguém diz: guapa! Na Ribeira Sacra, só se pode olhar para o alto.

O caminho até Coruña. Túneis e edifícios com janelas de madeira. A torre do adeus. O mar triste. O azul. Estação de trem. O aeroporto vazio. O sol largo.

Silêncio.