Sabemos que os tempos são de constante evolução e nada contra isso, o problema está em manter certas concessões há muito desatualizadas, como por exemplo, a ideia de que só os mais velhos é que sabem, é que têm a experiência. Mas até quando é que farão dos jovens eternos inexperientes? Quando é que (nós) jovens estaremos prontos para assumir o nosso papel como adultos na sociedade?
Estão constantemente a lembrar-nos que somos a geração mais qualificada de sempre, mas do que é que isso vale a um jovem que acaba de sair da faculdade, que por mais qualificações que tenha lhe falta o primordial: o ‘fator E’ (experiência)? Muitos desentendidos no assunto dizem à boca cheia que grande parte dos jovens não conseguem arranjar trabalho na sua área, porque não tiraram o curso certo. Mas que raio é o curso certo?! Ir para docência ou medicina, quem diz estes diz outros, porque os ordenados são chorudos?
Primeiro, quem está nestas e noutras áreas, sobretudo na saúde, queixa-se do excesso de trabalho, da falta de direitos e da má remuneração que lhes é dada. Segundo, um curso certo em nada deve ter com o quanto se vai auferir ao fim do mês e demais regalias, mas sim o gosto e o engenho que se tem para aquela área em específico. A meu ver, de nada vale, ganhar 3000 euros brutos por mês, se aquilo que faço não me satisfizer minimamente.
Sim, os jovens não têm experiência, mas o que lhes falta na dita experiência acabam por o compensar nas qualificações que têm: uma Licenciatura, um Mestrado e, em caso mais esporádicos, alguns chegam mesmo a aventurar-se no Doutoramento. Primeiro, pegou a moda das Licenciaturas, pois quem não tivesse uma cairia em desgraça, porque nunca arranjaria trabalho. As velhas profissões já de nada valem, não dão dinheiro nem prestígio. Anos mais tarde, não há muito tempo, impingiram-nos os mestrados, pois sem a especialização numa área em concreto estaríamos, uma vez mais, condenados. No meio de tanta coisa que nos foi impingida ninguém se lembra que tirar uma licenciatura e um mestrado são coisas que levam o seu tempo e custam dinheiro.
Ora, então, um jovem neste momento que tire um curso e um mestrado perde cerca de 5 anos da sua vida, sem contar com o dinheiro gasto ao longo deste período (que muito provavelmente foi desembolsado pelos pais). Não coloco em causa os conhecimentos adquiridos que uma licenciatura e um mestrado dão, coloco em causa o que sistema impinge: sem um curso não há emprego, mas com um curso e um mestrado também não há trabalho.
Nesse sentido, impingem-nos tantas qualificações para quê? Os jovens já sabem a história da carochinha de cor e salteado, um curso hoje em dia, não garante nada, apenas abre certas portas… pergunto-me quais serão elas. Também sabemos que o problema do desemprego jovem não está no curso que se tira, apesar de muitos afirmarem que sim, mas antes no facto de o mercado de trabalho estar saturado de todas as profissões e mais alguma! Com certeza, que a área da Comunicação não é a única saturada e a única que seja precária. Quantos jovens não haverá por esse Portugal fora com os ditos cursos certos que estão a servir às mesas ou a limpar casa de banho?
Talvez, há cerca de 20 anos, quem tivesse uma cunha era rei, porque mesmo que carecesse pela falta de experiência, a cunha conseguia o mais difícil colocar a pessoa no local de trabalho. Hoje, nem com cunhas lá vamos… Apesar de achar que conseguindo as coisas por nós mesmos, estas acabam por ter mais valor e, sejamos honestos santos casa não fazem milagres! A par de tudo isto, também considero que ao continuarem a perpetuar a ideia de que os mais velhos é que são sabedores de tudo e mais alguma coisa, enquanto os jovens ainda precisam de tempo para aprender, acabam por os condenar ao fracasso.
De que servem milhentas formações, se no fim, os jovens são impedidos de trabalhar por falta de experiência? Mais, de que valem os apoios ou prémios concedidos pelo Estado, por exemplo a devolução das propinas, se para os jovens terem acesso necessitam de trabalhar no país durante um ano. Diria que é um tanto contraditório, porque para alguém para se fixar num dado lugar necessita de condições e de um sustento — sem isso como é que faz? Vão condenar os jovens a viver eternamente às custas dos pais, mas o pai e mãe não duram a vida toda.
Neste momento, considero que todos os apoios acabam por ser uma gota no oceano, apesar de serem bem-vindos, mas não podem fechar-nos as portas de cada vez que assumimos, a medo, que não temos experiência. Já sabemos que nem todos podem trabalhar na sua profissão de sonho, uns têm mais qualificações do que outros, mas que nos deixem trabalhar não é pedir uma coisa de outro mundo! Apenas queremos uma oportunidade para mostrarmos o que valemos. Também há cada vez mais a consciência que as cunhas de nada servem atualmente. Em contrapartida, pedem-nos anos irrisórios de experiência para um primeiro trabalho, além do fator sorte, bastante ou ainda mais importante do que a experiência ou as qualificações.
Inerente a toda esta questão de qualificações e falta de experiência no mundo laboral entram outras tantas, por exemplo, onde ficam a liberdade e independência dos jovens? Com que idade poderão, por fim, ser independentes dos pais e poderem construir a sua vida? Quem sabe darem entrada para uma casa? Ou quem sabe, constituir a sua própria família? Pessoalmente, são questões com as quais não perco muito tempo a pensar, porque caso contrário o desespero invade-me em força.
É desolador pensar que os meus pais com a minha idade já tinham filhos a caminho, uma casa e trabalhos que garantiam o seu sustento. Eu, com quase 25 anos, tenho uma licenciatura e quase um mestrado, mas sem trabalho em vista, porque não tenho experiência. Pois, perdi 5 anos a estudar porque sem um curso não teria futuro. Um dia alguém disse que um curso abriria muitas portas, só que se esqueceu de dizer quais eram. Neste momento, as únicas portas abertas a muitos jovens são as do Centro de Emprego.