2024 foi um ano de destaque para o ciclismo português. Resultados sem precedentes, grandes corridas em solo nacional e medalhas olímpicas marcam o cartaz de uma modalidade que, apesar de não rivalizar com a expressão do futebol, obteve resultados que a elevam a um papel importante na paisagem mediática em Portugal.

E porque vem aí o período de férias para o ciclismo, quem gosta da modalidade vê-se obrigado a entreter-se com debates secundários, mas que, espera o autor, acrescentem à discussão à volta do desporto. Daí a pergunta que alimenta este artigo: quem foi o ciclista português do ano em 2024?

Mas antes das respostas, uma breve revista aos feitos do ciclismo português.

Ciclismo português em 2024

Logo no início do ano, uma grande notícia para o ciclismo português: a Figueira Champions Classic, corrida de um dia na Figueira da Foz, aumentou para a categoria Pro (segunda divisão do ciclismo internacional). Juntou-se à Volta ao Algarve em Bicicleta nessa categoria, no ano em que Portugal passou a ter duas corridas da categoria Pro.

Remco Evenepoel, campeão olímpico em 2024, venceu as duas provas. Um excelente indicador para as duas provas, que contaram com grandes nomes do pelotão internacional e se assumem, cada vez mais, como duas das provas mais importantes na preparação para as primeiras corridas World Tour (primeira divisão do ciclismo internacional) do ano.

Outro grande momento para o ciclismo português foi a partida da Volta a Espanha de Lisboa, e a passagem por Portugal durante as três primeiras etapas da grande volta. A última vez que uma Grande Volta (nome dado às três provas de três semanas que decorrem durante o ano) passou em Portugal, tinha sido em 1997, na altura para promover a Expo 98 em Lisboa. Uma grande oportunidade para os fãs de ciclismo em Portugal verem de perto os seus ídolos, e para os organismos institucionais elevarem a expressão do desporto em Portugal.

Por último, e definitivamente, o mais importante: os resultados dos ciclistas portugueses que rodam no mais alto escalão do ciclismo internacional. Um ano sem precedentes em termos de resultados, com a melhor classificação de sempre no Tour de France, maior prova do calendário, e três medalhas olímpicas. Juntam-se a estes registos cinco vitórias dos ciclistas portugueses que correm em equipas da primeira divisão do pelotão internacional, três delas em corridas World Tour.

Os destaques foram claros: João Almeida e Iuri Leitão foram as figuras maiores do ciclismo nacional em 2024. Deixar ainda uma menção honrosa para António Morgado, que alcançou duas vitórias no seu primeiro ano a correr ao mais alto nível, apenas com 20 anos.

Almeida e Leitão destacados

Revistos os grandes momentos do ciclismo português, dois nomes saltam à vista: João Almeida e Iuri Leitão. Os ciclistas de A-dos-francos e Viana do Castelo, respetivamente, obtiveram alguns dos melhores resultados do ciclismo português — não só do ano, mas da história do desporto — ainda que o tenham feito em modalidades distintas.

João Almeida, que cumpriu a quinta época na elite do ciclismo internacional, e a terceira na UAE Team Emirates, melhor equipa do ano em 2024, alcançou três vitórias, as três no escalão World Tour, igualando o seu melhor registo que tinha sido conseguido em 2021. Para além deste registo, João Almeida alcançou o quarto lugar na classificação geral do Tour de France — a melhor classificação de sempre de um ciclista português na maior corrida do mundo.

Este resultado ganha ainda mais expressão quando contextualizado: à frente do português, ficaram Tadej Pogacar (3 vezes campeão do Tour de France), Jonas Vingegaard (2 vezes campeão do Tour de France) e Remco Evenepoel (campeão olímpico e campeão do mundo em 2022). João Almeida foi o melhor entre os humanos, já que à sua frente ficaram três extraterrestres da modalidade.

Já Iuri Leitão teve menos expressão em provas de estrada: três vitórias para o português em corridas de categoria .1 e .2 (terceira e quarta divisão do ciclismo internacional). Os melhores resultados de Leitão aconteceram naquela que é a sua especialidade, o ciclismo de pista: foi campeão da europa de Scratch (uma das modalidades do ciclismo de pista), antes do grande evento desportivo do ano, os Jogos Olímpicos.

Em Paris, Iuri Leitão ascendeu ao panteão do desporto nacional: uma medalha de prata na disciplina do Omnium, e uma medalha de ouro na disciplina de Madison, prova que correu em dupla com Ivo Oliveira. Não só trouxeram para Portugal o primeiro ouro olímpico no ciclismo, como Iuri Leitão se tornou no primeiro português a conseguir duas medalhas na mesma edição dos Jogos Olímpicos.

O ciclista do ano

O facto de não ser fácil decidir qual foi o ciclista do ano é um sinal tremendo para o ciclista português — o destaque dividido significa que foram vários os protagonistas da época, evidência da qualidade crescente dos ciclistas portugueses.

Se o Tour de France é a maior corrida do mundo, quiçá maior que a própria modalidade em expressão mediática, alcançar o melhor resultado de sempre de um português tem, obrigatoriamente, de disparar o atleta para o topo da lista em relação ao ciclista do ano. E, não tivessem sido os Jogos Olímpicos de Paris, nada tiraria João Almeida desse lugar mais alto.

Mas não existe palco maior que os Jogos Olímpicos no que ao desporto em geral diz respeito. Nenhum outro evento tem tamanha expressão mediática, audiência, e capacidade de mexer com as emoções dos fãs. E quem brilha nesse palco normalmente catapulta-se para um patamar diferente em relação aos seus pares.

Numa opinião muito pessoal, foi isso que aconteceu com Iuri Leitão. Ao vencer duas medalhas, uma de ouro e outra de prata, o ciclista que milita na equipa espanhola da Caja Rural — Seguros RGA, atingiu um patamar que raramente foi visto no panorama do ciclismo nacional. E por isso, torna-se muito difícil não nomear Iuri Leitão como ciclista português do ano em 2024 — em toda a justiça, ficaria até bem entregue o título de desportista português do ano em 2024.

Por último, um desejo: que se discuta, que se argumente e que se dê opiniões sobre este assunto e todos os outros que rodeiam o ciclismo nacional. Se uma luta tão renhida pelo título de ciclista português do ano é uma vitória para o ciclismo nacional, o debate e a discussão dos fãs é a maior vitória que se pode pedir para um desporto que em 2024 cresceu a olhos vistos na esfera mediática portuguesa. E que 2025 seja ainda melhor.