Para quem gosta de esportes, a hashtag #OInvernoÉNosso não passou despercebida nas redes sociais entre 9 e 25 de fevereiro por conta da cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, Coreia do Sul. Um dos maiores canais pagos do Brasil emplacou a cobertura com uma programação completa e amparada por novas e talentosas vozes de narração e por comentadores de vasta experiência. Era hashtag para lá, fotos e vídeos de telespectadores mostrando a torcida e a paixão (de verão) pelo curling para cá. Torcida da madrugada vendo a patinação e as manobras radicais no snowboard. Até o jornal do horário nobre (da mesma rede) abriu espaço para mostrar notícias do desempenho dos brasileiros, enaltecendo os bravíssimos competidores em esportes que não temos tradição.
A delegação brasileira dos Jogos Olímpicos de Inverno contou com 10 atletas e teve um encontro de gerações por ter atletas com recorde de participação em jogos olímpicos e novatos. Os esportes que ganharam maior destaque com a participação de brasileiros e que ficaram no coração do público foram o bobsled e a patinação artítica, cujos representantes foram, respectivamente, Rafael Souza, Odirlei Pessoni, Edson Bindilatti, Edson Martins e Erick Vianna e Isadora Williams. Todos melhoraram suas marcas, apesar de terem terminado na porção final da lista de competidores. Michel Macedo do esqui alpino se lesionou nos treinos antes da competição e não conseguiu os resultados que potencialmente ele teria. Jaqueline Mourão e Victor Santos do esqui cross-country, a mais experiente e o novato, conseguiram as melhores marcas da carreira e Isabel Clark, snowboard, infelizmente também se lesionou e manteve o melhor resultado da história do Brasil nos Jogos Olímpicos de inverno (nono lugar no snowboard cross em Turim, 2006) até o último dia 10 de Março, quando o rondoniense Cristian Ribera, o mais novo atleta dos Jogos Paralímpicos de Inverno conseguiu o sexto lugar no esqui cross-country sentado (LW11).
Mas não teve hashtag sendo exaustivamente incentivada em apoio ao Cristian. Não teve cobertura animada e nem as vozes eletrizadas por esse feito tomado como histórico. Não teve reprise da chegada do nosso atleta. Não teve entrevista ao vivo. Arriscaria dizer que os animados telespectadores de paixonite de verão pelo curling nem devam saber que a modalidade é ainda mais emocionante na modalidade paraolímpica, o curling de cadeira de rodas. Nas sombras também estão os outros dois competidores da delegação: Aline Rocha (esqui cross-country – LW11) e André Cintra (snowboard – L11). Há notas em alguns jornais e breves menções na televisão, mas aonde foi parar a cobertura dos Jogos Paralímpicos de Inverno?
Se, de um lado o esporte é capaz – na mente ilusória e midiática de alguns – de unir países em guerra, como o propagandismo do norte coreano quis incutir forçando uma união, por que não se mostra que o esporte é capaz de juntar os cacos de vidas despedaçadas por acidentes ou doenças e fazer dessas pessoas verdadeiros modelos de vida? (Vale dizer que o encanto acabou e nos Jogos Paralímpicos as duas Coreias competem em separado!). É uma tristeza ter que fazer a maior manobra com cabos, computador e internet para poder acompanhar a cobertura que o comitê paraolímpico internacional fornece, sendo que eu pago por canais de televisão fechada. Já é desigual de partida, pois nem todos podem pagar canais de suposta qualidade superior. Além disso, há uma limitação de cobertura sendo o futebol o esporte mais divulgado – salvo quando o seu time joga em sua cidade e mesmo assim você não pode assistir na televisão, a menos que pague um caríssimo pay-per-view. Em outras palavras, a cobertura televisiva esportiva – sem falar do todo - é uma vending machine – bacana por ela existir, mas uma prisão de escolhas.
Certos estão os suíços que, no último dia 04, votaram contra a extinção da taxa que cada família paga para ter acesso a uma programação nos 4 idiomas do país. Supostamente a TV nacional é livre das ondas dos canais internacionais e possui qualidade. Por essas e outras é que países assim são o que são.
Aqui, embora haja acesso à TV aberta, o conteúdo e a programação estão longe de contemplar os esportes de maneira geral e, principalmente, o paralímpico. É um paradoxo: não se transmite porque não tem audiência e não tem audiência porque não se conhece e não se conhece porque não se transmite (sim, há outras formas de se conseguir informação, mas não podemos esquecer a abrangência da televisão em relação aos outros meios de comunicação). A luta pela igualdade dos atletas paralímpicos e dos portadores de deficiência ainda está no começo e as políticas inclusivas não devem ser restritas às leis, mas devem também estar presentes em outros setores da sociedade para que todos possam estar conscientes contra o preconceito e a exclusão social dessa parcela da população.