A primeira Olimpíada da história a ser sediada na América do Sul se encerra neste domingo (21). Por conta dos prazos do meio jornalístico, escrevo este texto sem saber do desempenho da delegação brasileira no Rio 2016. No entanto, tendo em vista a preparação de primeiro mundo que os atletas nacionais receberam no último ciclo olímpico, é muito provável que o país tenha batido o recorde de medalhas em uma edição (que era de 17 pódios em Londres-2012) e de ouros (cinco, em Atenas-2004). Após o desempenho supostamente inédito em Jogos, a preocupação passa a ser a participação brasileira nas próximas edições do megaevento. Se tomarmos como base a política esportiva da última década, porém, o Brasil lutará para voltar ao patamar de 17 pódios em 2020.
Desde que o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar a Olimpíada de 2016, em outubro de 2009, todos os esforços do Governo Federal e das federações das modalidades presentes no programa olímpico se voltaram para uma participação extraordinária nos Jogos em casa. Até aí tudo bem, quem não gostaria de dar show ao receber a maior festa esportiva do mundo? O grande problema foi o foco demasiado nos atletas de elite com chances de pódio no Rio em detrimento das categorias de base. Ou seja, o presente foi garantido, mas o que será do futuro?
Criado em março de 2011, o bolsa pódio foi uma das providências que tiveram como objetivo único colocar a delegação brasileira no cobiçado top 10 em casa. Exatos 242 esportistas foram beneficiados por auxílios de 5 a 15 mil reais mensais, de acordo com os resultados recentes em competições de nível internacional. A ajuda governamental se estendeu não apenas aos maiores favoritos a medalhas como o canoísta Isaquias Queiroz e a nadadora Ana Marcela Cunha como também aos candidatos com menos chances de pódio - 13 dos 14 judocas classificados à Olimpíada, por exemplo, receberam o benefício. Segundo dados do governo, mais de 330 milhões de reais foram investidos nos atletas de alto rendimento.
As empresas estatais brasileiras também contribuíram - e muito - para o aumento significativo nos gastos com o esporte de alto nível do país. Segundo dados divulgados pelo jornal Folha de S Paulo, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os Correios desembolsaram cerca de 590 milhões de reais durante o último ciclo olímpico na busca por um desempenho recorde em casa. Petrobrás e Furnas, com investimentos na ordem de 52,5 e 6,6 milhões de reais respectivamente, foram outras empresas que ajudaram na injeção inédita de capital estatal na preparação brasileira para os Jogos.
Com a instabilidade política do Brasil e um governo interino ilegítimo e desastroso, nada leva a crer que os altos investimentos continuem para Tóquio-2020. O próprio diretor-executivo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Marcus Vinícius Freire, já deixou claro o receio: "Me preocupa o Brasil nesse ciclo 2017-2020. Não sabemos como vai ser a participação das estatais", admitiu.
Outra elemento que coloca em xeque a continuidade dos bons resultados nas próximas edições olímpicas é a idade avançada de alguns dos principais nomes da delegação de 2016. O iatista Robert Scheidt e a saltadora Fabiana Murer, por exemplo, já haviam declarado que encerrariam a carreira nesta temporada independente do resultado no Rio. Situação semelhante acontece em modalidades coletivas. As protagonistas da geração campeã mundial de 2013 no handebol feminino como Alexandra e Duda Amorim já estão na casa dos 30 anos, assim como Marcelinho Huertas e Nenê, destaques do basquete masculino. Conseguir peças de reposição à altura em quatro anos não será tarefa fácil para os treinadores do próximo ciclo.
Enquanto isso, os resultados dos jovens brasileiros nas categorias de base não empolgam. No Campeonato Mundial Junior de atletismo disputado em julho, na Polônia, a delegação nacional encerrou sua participação sem nenhum pódio. Até o vôlei de quadra, que o Brasil tem um bom histórico com as seleções juvenis, tem patinado nos últimos anos. Desde 2005 a equipe sub 19 masculina não chega a uma semifinal de mundial enquanto as garotas da mesma categoria ficaram na discretíssima 11a colocação na mais recente edição do campeonato, ano passado.
Independente da colocação exata no quadro de medalhas, a delegação brasileira mostrou clara evolução no Rio em comparação com as últimas edições dos Jogos Olímpicos. No entanto, a prioridade em fornecer a melhor preparação possível aos atletas de alto nível deixou despreparada a geração que será protagonista daqui a quatro anos em Tóquio. A Olimpíada do Japão já começou...