Um campeonato de surfe na modalidade tow-in traz consigo ansiedade e incerteza sobre se as condições meteorológicas se alinharão no local das maiores ondas do mundo.
Aficionados por surfe convergem de todos os cantos, ocupando lugares privilegiados na montanha, formando uma das mais espetaculares plateias naturais à espera do início do show.
Alguns corajosos desafiam as águas, buscando a oportunidade de se harmonizar com uma das maiores forças da natureza e provar o valor do título "Big Rider", ao mesmo tempo em que proporcionam um espetáculo inesquecível.
E tudo isso acontece em menos de 72 horas.
Sejam bem-vindos a Nazaré Tudor 2024, um mergulho no dia dos Big Wave Riders da WSL, enfrentando ondas gigantescas que parecem monstros, com a força e o impacto capazes de fazer tudo ao redor vibrar.
A verdade é que nenhuma foto, vídeo, artigo ou qualquer outro meio consegue capturar a magnitude real do evento.
Não apenas pelo evento em si, que já é espetacular, mas pela enorme quantidade de pessoas e esforço envolvido, desde os organizadores até os atletas. A dedicação, preparo e paixão demonstram o impacto do nome World Surf League.
Mas o destaque vai para o elemento da natureza presente no evento. Não estamos falando de ondas de dois, três ou cinco metros, que já são impressionantes por si só, mas de verdadeiros monstros com média de 15 metros, ondas do tamanho de prédios de sete andares, que ao começarem a se formar capturam o olhar de todos e, ao quebrarem na praia ou na parte mais baixa da montanha, fazem tudo ao redor vibrar.
Nesses dias de maiores ondas, elas podem até dobrar de tamanho, como foi o caso da maior onda já surfada pelo alemão Sebastian Steudtner em 2023, quebrando o recorde anterior do brasileiro Rodrigo Koxa com uma onda de 26,2 metros de altura.
Desde o início, a organização necessária para a realização do evento é um enorme desafio logístico.
O campeonato nunca tem uma data fixa para acontecer. Há apenas uma janela de meses (normalmente entre dezembro e março), durante a qual pode surgir um dia em que todos os elementos naturais se alinham, e todos os envolvidos em stand-by são convocados para assumirem seus postos em menos de 72 horas.
Esse é um esporte que depende mais da natureza do que de qualquer outro fator, com os seres humanos atuando como complemento.
Tudo começa com uma previsão meteorológica. A corrente do mar deve estar adequada para gerar ondas fortes, com a corrente vindo da direção correta e o vento soprando de forma favorável, para que o mar não fique agitado demais e torne a entrada na água praticamente impossível, entre outros fatores.
Em termos simples, busca-se um swell vindo do oeste com ventos do leste.
Após identificar o swell potencial, uma equipe extensa é mobilizada, geralmente notificada 72 horas antes do evento.
Entidades locais, como equipes de resgate, a polícia marítima e pessoal de segurança, assumem suas posições.
Empresas e indivíduos que fornecem serviços, veículos de transporte e equipamentos entram em ação, fotógrafos e suas câmeras, assim como os surfistas, só pausam para trocar baterias, mantendo aqueles que não puderam comparecer informados sobre o desenrolar dos acontecimentos.
Uma série de atividades ocorre nos bastidores, envolvendo muitas pessoas cujos papéis nem sempre são visíveis, mas todos contribuem para o sucesso do evento.
Afinal, quando teremos outra oportunidade como esta?
Com o palco montado e todos prontos, os surfistas big riders, na maioria avisados apenas algumas horas antes, embarcam em aviões e chegam como podem.
Eles têm a chance de serem rebocados por um jet ski pelo seu parceiro de equipe, lançando-se na que provavelmente é a maior descarga de adrenalina de suas vidas.
Enfrentar uma onda que mais parece um prédio de sete andares desabando sobre suas costas definitivamente não é para qualquer um.
A possibilidade de um wipeout total por um simples erro e ficar submerso por minutos, sendo bombardeado por ondas sem conseguir respirar até que o mar se acalme o suficiente para serem resgatados por jet skis, é uma realidade constante.
Mas para aqueles que conseguem domar e sincronizar-se com a força de Nazaré, momentos inesquecíveis são garantidos, fazendo o público vibrar com a importância que o título "Big Rider" carrega.
A verdade é que, não importa quantas pessoas falem sobre isso, quantos vídeos você assista ou quantas fotos veja, é impossível capturar a verdadeira magnitude de tudo isso sem estar lá pessoalmente.
Eu mesmo, apesar de já ter visto milhares de vídeos e fotos, só pude compreender a proporção real ao presenciar o evento.
Muitos já devem ter pesquisado "maior onda do mundo" por curiosidade.
Mas uma coisa é ver uma foto ou vídeo; outra, completamente diferente, é chegar ao farol, observar as ondas de cima e ficar impressionado, para então descer mais perto da areia e perceber que, vistas do farol, elas parecem muito menores e até surfáveis. Quando você chega à beira do mar e vê de perto a força com que a espuma avança e recua, percebe que a onda na sua frente tem pelo menos quatro vezes a sua altura, e olhando mais ao horizonte, as ondas parecem dez vezes maiores.
É nesse momento que você começa a entender a verdadeira escala.
O evento começou devagar, com a ansiedade a mil.
Estava previsto que a primeira bateria entrasse na água às 9h, mas como o swell ainda não havia chegado, o mar não estava bom.
A maré começou a ganhar força, após algumas horas de espera e ansiedade por parte de todos.
Então, o canhão começou a fazer sua mágica, e ondas começaram a aparecer quase diretamente em frente ao farol, movendo-se mais para a direita ao longo do dia.
A primeira bateria entrou na água e não parou mais até o final do dia.
O campeonato, previsto para acontecer em dois dias, foi concluído em um, graças às condições que se tornaram tão favoráveis, permitindo que todas as baterias fossem realizadas em sequência.
Houve alguns momentos de tensão, como jet skis que viraram e outro que foi lançado contra as pedras, além de um momento em que um dos nadadores, ao tentar remover uma das motos d'água, foi atingido pelo sled, causando um breve susto, mas sem gravidade.
As performances começaram a se destacar e levaram todos os presentes ao delírio.
Grandes elogios para Lucas "Chumbo", que demonstrou um controle e conforto nas ondas gigantes de forma absurda e surreal, parecendo surfar ondinhas de meio metro, e para Pedro "Scooby", que juntos proporcionaram um desempenho digno de campeões.
Maya "Gabeira" não ficou para trás, impondo-se em todas as ondas que pegou e merecendo o título feminino, e a todos os outros presentes, como Koxa, Von Rupp, Vitor, entre outros, que tornaram o meu primeiro campeonato de Big Wave assistido ao vivo inesquecível, muito obrigado!
Certamente irei a outros, equem sabe um dia eu treine para conseguir surfar uma dessas monstruosas ondas!