O Rali nas serras de Fafe transporta em cada prova nostalgia e emoções. Apelidado de catedral, já deu origem a um museu, à escrita de versos transformados em fado acompanhado por hip hop e permite observar paisagens naturais de perder de vista.

No alto da serra de Fafe, onde o som do vento nas árvores e o chilrear dos pássaros criam um ambiente de natureza perfeita e tranquila, uma vez por ano ouve-se o som de motores com mais de 300cv que ecoam pelas montanhas.

Em modo de peregrinação, como se de uma romaria se tratasse, centenas e centenas de pessoas sobem estas serras para assistir ao WRC (World Rally Championship).

Neste troço de 11,18 km há dois marcos que não se podem perder: O Confurco, onde os pilotos fazem espetaculares derrapagens na passagem de estrada de terra para asfalto e de novo para terra e, já quase no final, o “Salto da Pedra Sentada”, onde a estrada permite aos pilotos dar saltos, já registados, de mais de 70 metros de distância.

“A Catedral dos Ralis”, é assim como apelidam este percurso pela caminhada anual que todas estas pessoas fazem em direção à serra.

Tratando-se de um evento marcado e confirmado no ano da última prova, dá tempo aos adeptos para se prepararem para o fim de semana prolongado. Chegam a fazer o “check-in” nestes montes vários dias antes da prova. Instalam-se em tendas, criando um parque de campismo improvisado e fazem-se acompanhar de colunas de som para música, geradores, mesas, comida e bebida. Mas, para que nada falte, do lado direito do “Salto”, o caminho que leva à turbina eólica que decora a paisagem com este gigante mecânico, torna-se um centro comercial ao ar livre com rulotes e barracas de bebidas, comidas e até de guarda-chuvas, bancos e brinquedos.

Paisagem com reconhecimento

Aqui, tal como nas provas de ciclismo, também se pode acompanhar a prova pela televisão e desfrutar da paisagem destas serras, que chegam aos 600 m de altitude. Lá no topo escondem a famosa casa dos “Flintstones”, ou Casa do Penedo, construída entre dois enormes penedos nos anos 70 pelos proprietários com o intuito de fugir à agitação da cidade.

É designada por várias revistas e arquitetos como sendo “o símbolo perfeito de uma mistura harmoniosa entre a arquitetura e a natureza”.

Embora a casa esteja rodeada de enormes moinhos de vento, não tem eletricidade. No entanto, isso não a torna inabitável, pois está equipada com certo conforto. Uma segunda casa, à qual deram o nome de “Casa do Forno”, construída para dar apoio à casa principal, fica mesmo ao lado da piscina pintada de azul que completa esta propriedade com vistas para as serras circundantes.

Atualmente, permite visitas guiadas, várias experiências ao longo do dia e até mesmo alojamento.

Museu do Rali

E como “Catedral” com história, foi criado em Julho de 2021 um museu dedicado a esta prova, na cidade de Fafe. Apadrinhado pela Câmara Municipal de Fafe, a idealização do Museu do Rali por José Pereira, o presidente do Clube Automóvel Serras de Fafe, foi concretizada. Desde a sua criação, não só de carros vive o museu e podem-se encontrar fatos que usaram alguns dos pilotos que naquelas serras aceleraram motores, uma coleção de miniaturas e há até um espaço onde é possível consultar revistas de automóveis de várias épocas. Todos os meses há novos carros, exposições temporárias dedicadas a um piloto ou a um modelo específico. José Pereira poderá ser o guia e explicar até ao mais pequeno detalhe tudo o que quiser saber sobre o rali nestas terras.

Fado do Rali

Um evento com tanta tradição, devoção, com tantos apreciadores e até um museu, deixava apenas em falta um hino que lhe desse voz. Foi assim que, com uma exposição do piloto Carlos Bica como pano de fundo, a fadista Liliana Queiroz apresentou o fado: “Fafe, do Rali ao Fado”, em conjunto com BG, no Hip Hop. A letra, escrita por Filipe Santos, descreve em cada nota os quilómetros de paisagem magnífica, sentimento de adrenalina dos pilotos e adeptos, e termina num hip hop ofegante de palavras que despertam emoções e sensações de nostalgia, pois diz ser “em fafe que renasce a tua alma”.

Em Portugal, desde os anos 70 o WRC regista nos livros da sua história memoráveis batalhas entre Colin McRae e Carlos Sainz. Desde 2015, o ano em que a prova rumou a norte para ficar nestas serras de fafe, já se viu subir ao pódio pilotos como Ogier ou Aline ou até mesmo já depois da pandemia provocada pelo COVID-19 Elfyn Evans.