Chegamos ao início do ano e começam a aparecer, aos domingos, no programa da Rede Globo Fantástico, os gols dos campeonatos regionais. É nesse período do ano que também entramos nas fases preliminares da Copa do Brasil, que movimentam vários times.

Também tem aquela propaganda do SporTV: "O estadual é no Canal Campeão". Inclusive, essa semana entrei no Twitter e vi um torcedor do Atlético Mineiro, meu time do coração, digitando com raiva em caps lock: "Devemos acabar com essa porcaria de Campeonato Mineiro. Essa merda não serve para nada".

Fiquei pensando se não era extremismo da parte dele. Claro que é. Ele não sabe, mas campeonatos regionais de futebol profissional no Brasil têm desempenhado um papel significativo na história e na cultura do esporte no país.

No entanto, ao examinar esses torneios, é possível identificar uma série de situações boas ou complicadas que permeiam sua realização e impacto no cenário esportivo nacional.

Em relação aos aspectos positivos, os campeonatos regionais proporcionam uma oportunidade para que clubes de menor expressão possam competir em nível local e regional, ganhando visibilidade e oportunidades de desenvolvimento. Alguns times só jogam os campeonatos regionais. Depois, os jogadores são dispensados e só jogam no ano seguinte. Muitos possuem outras áreas de atuação profissional. É o caso do goleiro do Afogados FC, que eliminou o Atlético Mineiro da competição. Ele trabalhava em um posto de gasolina da cidade.

De acordo com estudos de Ferreira1, esses torneios muitas vezes servem como um trampolim para clubes menores, permitindo-lhes alcançar sucesso e reconhecimento nacional. Isso acontece porque vários campeonatos regionais dão vagas para a Copa do Brasil. Além disso, os campeonatos regionais contribuem para a descentralização do futebol no Brasil, promovendo o desenvolvimento do esporte em diferentes regiões do país. De acordo com dados do Ministério do Esporte2, esses torneios ajudam a fortalecer as estruturas esportivas locais e a fomentar o talento em áreas menos privilegiadas, ampliando assim a base de talentos disponíveis para as competições nacionais.

O problema é que existe uma desigualdade no futebol do Brasil e isso não pode ser ignorado. Sempre fica a questão: ajudar essa galera de menor expressão?

No entanto, também é importante considerar os aspectos negativos associados aos campeonatos regionais de futebol profissional. Um dos principais problemas é a sobreposição de calendários com outras competições, como o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil, a Copa Libertadores, a Copa Sul-Americana e até o Mundial de Clubes, resultando em um calendário apertado e desgastante para os clubes e atletas. Pesquisas de Souza3 destacam que essa sobrecarga de jogos pode aumentar o risco de lesões e afetar o desempenho dos times em competições mais importantes.

Além disso, os campeonatos regionais muitas vezes enfrentam desafios em termos de infraestrutura e organização, com estádios inadequados e problemas logísticos prejudicando a qualidade e a atratividade dos jogos. Ainda segundo dados do Ministério do Esporte, a falta de investimento em infraestrutura esportiva é um obstáculo significativo para o crescimento e o desenvolvimento dos campeonatos regionais, afetando sua capacidade de competir com outras ligas e torneios.

Embora esses torneios ofereçam oportunidades para clubes menores e promovam a descentralização do esporte, enfrentam desafios relacionados à sobreposição de calendários, infraestrutura inadequada e organização deficiente. É fundamental abordar esses desafios visando aprimorar a qualidade e a sustentabilidade dos campeonatos regionais e fortalecer o futebol brasileiro como um todo.

É um longo caminho e eu não tenho todas as respostas. Comecei apenas a refletir sobre o comentário despreparado do Twitter.

Mas e aí, para qual time o leitor torce? É um time brasileiro? Conte-me aí... Seu clube foi campeão do estadual em 2024?

Notas

1 Ferreira, A. P. (2018). Os impactos dos campeonatos regionais no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 32(4), 1123-1131.
2 Ministério do Esporte. (2016). Relatório sobre os campeonatos regionais de futebol profissional no Brasil. Brasília: Ministério do Esporte.
3 Souza, R. C. (2019). Sobrecarga de jogos e lesões no futebol profissional: Um estudo sobre os campeonatos regionais no Brasil. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 25(2), 89-95.