O ano de Copa do Mundo de futebol feminino não poderia ter começado com notícia melhor: pela primeira vez toda a coleção de uniformes da Nike, patrocinadora da seleção brasileira de futebol, foi criada considerando os pedidos das jogadoras e estudos que levassem em conta o mundo feminino dentro do futebol. Diferentemente das edições anteriores, o uniforme atenderá não só as atletas de alta performance, mas também será uma opção mais interessante para atletas do dia-a-dia e torcedoras.
Além de personalizar o corte do shorts, o pedido mais contundente das atletas, vários outros detalhes tornam o uniforme especial para as meninas da seleção. Na gola traseira na parte de dentro há um logo estampado Mulheres guerreiras do Brasil, uma alusão, segundo a marca, a todas as jogadoras que passaram pela seleção e se tornaram estrelas, referência também presente no segundo conjunto, o azul, que traz uma estampa com estrelas.
Apesar de tantas novidades, ainda há uma certa dependência em várias instâncias do futebol feminino em relação ao futebol masculino. A começar que por muitos anos as jogadoras recebiam os uniformes masculinos para disputar os campeonatos em nome do país. Sim, você não leu errado! Por muitos anos o mesmo uniforme era dado para as meninas, que tinham que fazer gambiarras para poderem jogar com uniformes que não tinham nada a ver com seus corpos.
Em segundo lugar, o futebol feminino não é tão rentável, nas palavras de muitos dirigentes, e por isso os pagamentos, transmissões e produtos futebolísticos são tão diferentes – quando eles existem, pois muitas vezes o futebol feminino passa longe de transmissões e produtos. Na tentativa de lutar contra parte desse problema, no último Dia da Mulher, as americanas entraram com uma ação contra a federação nacional de futebol para reivindicar mesmos salários e mesmas condições de trabalho que os americanos têm. Oras, como ter rentabilidade com os campeonatos de futebol feminino quando não existem times competitivos? Quando os jogos não são transmitidos? Se não tem time, não tem campeonato. Se não tem campeonato, não tem transmissão. Se não tem transmissão, não é rentável. Um interminável ciclo de negativas que não botam o esporte para a frente. Mas 2019 trouxe mais uma coisa boa em relação a isso: a partir deste ano todos os 20 clubes da série A do Brasileirão vão ter que manter times femininos na base e no adulto. E tem mais – pasmem! – o maior canal brasileiro, a Globo, vai transmitir todos os jogos da seleção feminina ao vivo. Tem até uma marca de cosméticos que já anunciou que vai parar o atendimento no horário dos jogos, assim como acontece nos jogos da seleção masculina. É ou não é avanço? Mas ainda longe da igualdade entre os times...
Por fim, ainda me incomoda uma última dependência. Voltemos aos uniformes. As tais 5 estrelas que ficam acima do escudo da CBF foram reproduzidas também no uniforme feminino. Eu acredito que elas não deveriam estar lá, afinal elas são do time masculino. Eu duvido que se as meninas forem campeãs da próxima Copa do Mundo na França (7 de junho a 7 de julho) a CBF vai colocar uma estrela a mais no uniforme do time masculino. Então, qual é o motivo de colocar as estrelas no uniforme feminino? Em outras seleções femininas, com a alemã, as estrelas não se misturam. Os times são diferentes e suas conquistas também. O uniforme ter as mesmas cores, ter o escudo da CBF, acredito que tudo bem, mas acho que as meninas deveriam ter espaço próprio e livre para preencherem com suas próprias estrelas.