Ao contrário da ideia preconcebida de que o ser humano é vantagista e trapaceiro, no esporte as coisas podem ser muito diferentes. Enquanto se debate a incorporação ou não do cartão verde no futebol, outras modalidades vêm dando aula no que se refere a fair play.

O que é fair play? Traduzido literalmente do inglês como “jogo justo”, é o “jogo limpo”, de acordo com a regra e levando em conta os valores morais e éticos. No esporte, o fair play envolve a luta contra a fraude, contra o doping, contra a violência (tanto física quanto verbal), contra a desigualdade de oportunidades, contra a comercialização excessiva e contra a corrupção.

Por exemplo, no voleibol. Para quem não tem familiaridade com o esporte, os técnicos podem errar dois desafios (video-check) por set: enquanto acertarem, podem continuar pedindo. Como qualquer movimento irregular (desvio no bloqueio, toque na antena, bola fora, etc.) é detectado pelas câmeras, muitas vezes os(as) atletas avisam a arbitragem antes mesmo da intervenção da tecnologia.

No afã de conseguir mais justiça nas marcações, a tecnologia joga um papel decisivo na hora de julgar, mas isso leva um tempo. Então, competições como a Liga das Nações dão o cartão verde para o fair play, além de um prêmio em dinheiro para a seleção que tiver mais cartões verdes. Com isso, o jogo fica mais dinâmico, mais justo e mais correto. É uma iniciativa nova, para fomentar o jogo limpo.

No rugby, conhecido por ser um esporte de força, o fair play também é preponderante. Mesmo com o forte contato físico, dificilmente se joga sem levar em conta a integridade física do adversário. É conhecido o termo “terceiro tempo” para as interações saudáveis entre rivais no pós-partida. Diz-se que é “um esporte de bárbaros jogado por cavalheiros e damas”.

No futebol, é conhecido o costume de buscar tirar vantagem das situações: desde inventar faltas que não existiram, até um goleiro que demora em cobrar um tiro de meta, tudo influencia no jogo. Mesmo assim, a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) é resistente ao uso da tecnologia (como no vôlei ou no tênis), e também a parar o relógio quando a bola não está em jogo (como no handebol ou no hóquei).

Mas, ainda assim, sendo um esporte “catimbeiro”, existem gestos de fair play memoráveis: Miroslav Klose, atacante da seleção da Alemanha (e maior artilheiro da história das Copas do Mundo), errou um tiro penal de propósito porque o pênalti foi marcado erroneamente.

O mesmo Klose também avisou ao árbitro que havia feito um gol com a mão para que o mesmo fosse anulado. E ainda recusou um prêmio por esse gol. O treinador Marcelo “El Loco” Bielsa mandou seu time não correr depois do recomeço do jogo e “dar um gol” ao adversário depois que fizeram um gol irregular.

Este movimento custou a Bielsa o acesso à Premier League com o Leeds United, mas virou um gesto de fair play para a história. Bielsa conseguiu o acesso com o Leeds no ano seguinte. Pessoas como Klose e Bielsa mostram que o futebol ainda tem salvação, e que não vale ganhar a qualquer custo.

No futebol, muitos querem o jogo limpo, mas só quando lhes favorece, e acontece a mesma coisa com a tecnologia. Isso não é fair play real, mas uma pantomima. Não me leve a mal, eu adoro futebol e tenho meu time do coração, mas ele ainda tem muito o que aprender com os chamados “outros esportes”.

Na vida mesma, deveríamos aprender com os esportes e agir com mais fair play. Negá-lo é jogar-nos aos leões e à lei do mais forte.