Com a temporada futebolística 2022/23 já praticamente consolidada e encerrada na Europa, as atenções se voltam para outros aspectos no futebol, janelas de transferências de jogadores e técnicos, novas compras e investimentos, férias e premiações aos que merecem por uma temporada cheia de recordes históricos como sempre foi. Os destaques de uma temporada que se encerra sempre são extraordinários, porém a temporada 22/23 se encerrou com problemas sociais e políticos, especificamente na Espanha, local onde a problemática se mostrou ser mais urgente e pior que outros países na Europa.
Ao longo de toda essa temporada repercutiram notícias e acontecimentos que nortearam os casos de racismo ao longo dos fins de semana nas rodadas do campeonato espanhol, especificamente durante os jogos do Real Madrid. Cânticos, gritos, ataques e ofensas orquestradas dentro e fora dos estádios de futebol sendo direcionados para o atacante brasileiro do clube madrilenho, Vinicius Junior.
Vinicius Junior é alvo de ofensas racistas em diferentes níveis em praticamente todos os jogos em que o Real Madrid faz fora de casa, sendo alvo de racismo na TV espanhola também. O caso Vini Jr. na Espanha não é só um caso, mas como outros inúmeros casos de racismo registrados ao longo de anos, desde quando o jogador ainda atuava no Brasil, jogando pelo Flamengo.
Ao longo de duas temporadas os casos de racismo contra Vini Jr. aumentaram exponencialmente, seja dentro dos estádios de futebol, nas ruas, na imprensa ou em declarações de técnicos e jogadores adversários. O jogador denunciou várias vezes, protestou dentro e fora de campo e em suas redes sociais, mas quase nunca avançava ou resultava em algum tipo de punição ou em algo positivo para o jogador.
Os inúmeros casos de racismo contra o jogador levaram até o seu estopim no jogo válido pela 35° rodada da LaLiga 2022/23 contra o Valencia, onde os torcedores do time valenciano entoavam cânticos racistas direcionados ao Vini Jr. desde a chegada do ônibus da delegação do Real Madrid, durante o jogo os insultos continuaram. No segundo tempo da partida, o jogador flagrou torcedores imitando sons de macaco para ele, logo uma briga se iniciou dentro de campo e o jogo precisou ser interrompido, cenas de ódio e violência dos jogadores do time valenciano contra Vini Jr. são registradas culminando na expulsão do atacante do Real Madrid após uma reação contundente do jogador e a verificação no VAR.
Após a partida o jogador se manifestou e mais uma vez foi minimizado pelo presidente de LaLiga, Javier Tebas. Fato é que, mais uma vez a vítima foi culpabilizada e nesta ocasião, após meses de perseguição, Vini Jr. se mostrou ainda mais insatisfeito com a situação, deixando a entender que sairia do clube em que joga. No dia após a partida houve uma importante comoção em torno do jogador, onde diversas autoridades e até mesmo o presidente do Brasil manifestaram apoio à Vini Jr.
O governo brasileiro se mostrou insatisfeito com a situação na Espanha, criticando e pressionando o governo espanhol a esclarecer e solucionar o fato, causando um mal-estar diplomático pontual entre ambos os países, o Presidente Lula cobrou o governo da Espanha diretamente da reunião do G7, no Japão. A revolta tomou proporções mundiais escancarando a problemática que estava acontecendo nos campos de futebol não só da Espanha, como na Europa em geral.
É notório que o caso de Vini Jr. e todo abuso racial, crime de racismo que ele vem sofrendo na Espanha não é um episódio novo e nem isolado. Em outras ocasiões, temporadas e jogadores negros relatam e a mídia captura episódios de abuso racial e xenofobia, como noemblemático caso das bananas sendo arremessadas pela torcida do Espanyol em direção a Neymar Jr. e Daniel Alves no jogo contra o Barcelona em 2014 e de tantos outros casos dentro do próprio futebol espanhol.
Expandindo mais a discussão, temos a Itália que também não fica atrás da Espanha, casos de racismo no futebol italiano sempre são noticiados na mídia, os cânticos de algumas torcidas de inúmeros times infrigem e ofendem alguma minoria, ataca negros e outras etnias, sendo a posição ideológica de algumas torcidas espalhadas pela Itália que também pode vir a ser um fator crônico dentro do futebol italiano. Recentemente, Romelu Lukaku atacante da Inter de Milão foi alvo de cânticos racistas por parte da torcida da Juventus na semifinal da Copa Itália, na mesma semana foi a vez de Dusan Vlahovic, atacante da Juventus ser alvo de gritos xenófobos por parte da torcida da Atalanta, ambos clubes e torcidas foram duramente punidas.
Há casos de racismo vigorando até mesmo no futebol de lugares onde a mídia é escassa ou possui pouquíssima atenção mundial, ao expandirmos ainda mais essa situação. Há relatos de jogadores que sofrem com perseguições e abuso racial por parte de torcidas no Leste Europeu, Rússia e Ucrânia, locais onde o futebol é capítulo à parte por tanta rivalidade entre torcidas, ultras e clubes.
As medidas e punições para clubes e torcidas que são denunciados varia entre as ligas, sendo as federações futebolísticas juntamente com as ligas, governos os principais responsáveis pela fiscalização e execução, trabalhando em conjunto para identificar, denunciar, e conter, posteriormente chegar às entidades maiores (se for o caso). Após o caso de Vini Jr. ter repercutido nas altas cúpulas como na ONU, FIFA e UEFA, a Federação Espanhola de Futebol juntamente com o governo e a gestão que gere o campeonato espanhol (LaLiga) anunciaram uma série de medidas contra o racismo e mudanças que compreendem regras e até a identidade visual do campeonato.
Como forma de conciliação entre ambos os países, está sendo cogitado um jogo amistoso entre Brasil x Espanha com o tema antirracista. Os casos de racismo no futebol não estão estritamente acontecendo na Europa, particularmente na América do Sul também ocorre, em jogos de clubes brasileiros e argentinos dentro e fora de estádios de futebol.
Por fim, a luta pelo fim do racismo e xenofobia no esporte tem ganhado novos contornos, aliados e medidas para acabar com isso. A cada temporada que se inicia temos visto novos capítulos em ambos os lados, contudo, estamos na expectativa de que cenas como as do clássico entre Real Madrid e Atlético de Madrid onde Vini Jr. foi hostilizado e teve um boneco pendurado em plena avenida não venha a se repetir com ninguém. Temos em mente que o que acontece dentro dos estádios de futebol são apenas um espelho do que a sociedade tem vivido.
Porém é sempre bom enfatizar que ainda temos um longo caminho para percorrer na luta antirracista em nossa sociedade, e é de extrema importância combater qualquer forma de descriminação.