Qualquer pessoa que tenha experimentado a maternidade ou a paternidade sabe o quanto é surreal observar o desenvolvimento dos filhos. E se você que lê não é pai ou mãe, arrisco-me a apostar que já escutou frases como: “Meu filho é tão inteligente”, “Meu filho é adiantado para a idade dele”, “Meu filho, com essa idade, já sabe e entende coisas que eu não sei até hoje”, dentre tantas outras.

Seriam esses pais e mães orgulhosos exagerados? Ou, pior, mentirosos? Arrisco-me a dizer que são apenas orgulhosos! Por mais que soe piegas, um filho é a esperança de renovação, a continuidade e a perpetuação de tudo que você acredita e almeja que se transforme em seu legado.

Agora sejamos realistas: uma criança aprender a segurar um talher de plástico antes de outra da mesma idade não necessariamente a transformará em um novo Einstein, mas certamente transformará o dia dos pais dela, que imediatamente vão inundar as redes sociais com fotos e hashtags de orgulho.

Dizem que é primitivo, instintivo, uma questão de sobrevivência, que nosso organismo liga o alerta reprodutivo no ápice de nossa virilidade; afinal, precisamos perpetuar nossa linhagem. No entanto, nem todos têm essa vontade. Sou professor e lido com turmas de 40 jovens, entre 15 e 20 anos de idade, em pelo menos dois períodos por dia, ou seja, sou brindado com opiniões, comentários, medos e desejos de cerca de 80 jovens diariamente. E, como eu aprendo com eles, é provável que eu tenha aprendido mais com eles do que eles comigo!

Mas voltando ao foco deste texto, os “filhos”, a maioria dos jovens citados anteriormente me relatam que não têm intenção nenhuma de ter filhos! E por motivos diversos, como: “Professor, quero é cuidar de mim”, “Filho é caro”, “Quero viajar”, “Filho tira a liberdade”, “Minha mãe solteira sofreu para cuidar de mim e de meus irmãos, por que vou passar isso para frente”... Confesso que, na primeira vez que esse debate surgiu, foi um espanto muito grande para mim. Talvez pela minha idade, de onde nasci e cresci, era normal, até mesmo cultural, planejar com qual idade teria filhos. Era comum, inclusive, os namorados conversarem e imaginarem como seriam seus filhos. Seria, então, esta nova geração uma antítese à anterior? Estariam eles certos? Estariam errados? Serão responsáveis pela desaceleração do crescimento populacional? Isso eu não sei, afinal são apenas reflexões que eu teimo em realizar, sem embasamento ou teses dos especialistas nessa questão.

Agora, com um olhar mais cauteloso sobre a questão, eu me espantei, pois, pelos motivos já citados, cresci e aprendi que esse era o curso natural. Tive a sorte de ter pais amorosos que transmitiram a mim e às minhas irmãs valores e muito amor. Sempre soube que teria um porto seguro sempre que precisasse em algum momento de dificuldade, então era normal que eu quisesse levar isso adiante. No entanto, como tenho uma certa abertura e a confiança de meus alunos, recebo vários relatos de que eles não convivem com seus pais, afinal saem cedo e voltam muito tarde para trabalhar e prover o sustento da família. Ou, pior, alguns nem têm pai ou mãe e, ainda mais grave, aqueles que têm não dão a mínima para eles. Como posso achar que um jovem não querer ter filhos é um absurdo?

Em meio a essas reflexões sobre a decisão de ter filhos ou não, torna-se evidente que as experiências pessoais moldam profundamente essa escolha. O orgulho dos pais diante dos pequenos marcos no desenvolvimento dos filhos reflete não apenas a singularidade de cada criança, mas também a esperança de perpetuar valores e afeto.

Contudo, ao observar a perspectiva dos jovens que compartilham razões diversas para evitar a paternidade, surge um panorama mais amplo. As complexidades da vida moderna, as experiências familiares variadas e a conscientização sobre a própria autonomia influenciam de maneira significativa essa decisão. Talvez a nova geração esteja, de fato, redefinindo normas e priorizando diferentes aspectos da vida. Nesse contexto, cabe a nós considerar e respeitar essas escolhas individuais, reconhecendo que a verdadeira riqueza está na diversidade de caminhos traçados.

No final das contas, a compreensão e o respeito mútuo são as bases para construir uma sociedade onde a escolha de ter ou não ter filhos seja vista como parte integrante da expressão da liberdade e da autenticidade de cada indivíduo.

E você, tem ou pretende ter filhos?