E se um dia você não precisasse mais saber a fundo sobre partituras ou mexer no FL Studio para produzir uma canção? Isso parece uma loucura, mas acredite, estamos bem próximos dessa realidade!

A inteligência artificial já nos permite desenvolver textos sobre praticamente qualquer assunto a partir de um comando. As imagens geradas por meio dessa tecnologia cada vez mais confundem as pessoas sobre o que é real e o que é uma criação digital. E claro, não podemos esquecer dos avanços da IA para vídeos, que vez ou outra geram polêmica, como o comercial da Volkswagen que colocou Maria Rita e Elis Regina cantando lado a lado enquanto dirigiam por uma estrada.

Mas, se tem algo que me chamou muita atenção nos últimos meses foi a criação de músicas com IA, através da plataforma Suno. Colocando alguns comandos sobre o gênero musical que você deseja, os instrumentos, o tom de voz, a quantidade de vozes, o tempo e outras informações, é possível gerar uma música novinha em folha!

Apesar de trabalhar com audiovisual, sempre tive uma conexão muito especial com a música. Quando eu tinha 12 anos, tive um caderno de capa amarela onde escrevi algumas músicas, mas com o passar dos anos, ele se perdeu e virou um parque de diversões para cupins. Na adolescência, eu gostava de fazer algumas paródias ou até escrever músicas tirando sarro de algumas situações do dia a dia. Já adulto, passei a escrever muitas letras nas anotações do meu celular e a gravar áudios de melodias, mas nunca entendi muito bem o que fazer com isso, já que eu não sei cantar e até tentei algumas vezes aprender a tocar algum instrumento, mas falhei completamente nessa missão. Então, o que me sobra tendo apenas letras e algumas melodias?

Quando abri o Suno para testar seu funcionamento, não levei muito a sério e comecei a escrever principalmente músicas específicas para brincar com meus irmãos e meus avós, da mesma forma que hoje em dia a plataforma é usada para fazer vídeos no TikTok transformando trocas de mensagens no WhatsApp em músicas dramáticas. Fiquei completamente chocado ao perceber como os resultados reproduziram de forma muito similar vocais humanos, instrumentos e até pequenas firulas que cantores gostam de colocar em suas músicas.

Decidi então testar letras que eu já havia feito há muito tempo e acabei curtindo o resultado. Depois, comecei a escrever novas músicas e fazer várias versões. Sem exagero, foi a realização de um sonho! Ver a interpretação de cada linha que eu escrevi se aproximando do estilo que eu queria, da entonação que eu imaginava e, às vezes, até me surpreendendo com resultados melhores do que as melodias e os arranjos que eu imaginava quando fazia as letras, foi uma sensação estranha, mas muito boa! Aliás, ainda é!

Isso tudo resultou em um projeto que chamo de Funvision, que reúne todas essas músicas que eu criei. Uma das primeiras que decidi lançar se chama "Flores", por ser basicamente uma transcrição da minha sessão de terapia. Ou seja, para que não haja qualquer dúvida de que realmente tudo o que tem a ver com Funvision é escrito por mim.

Até porque, no Suno existe a possibilidade de gerar letras de canções aleatoriamente, o que abre precedentes para muitos debates interessantes que já estão em curso e para muitos outros que em breve virão à tona. Afinal de contas, para casos como estes, de quem é a autoria das letras totalmente criadas com inteligência artificial? Podemos considerar o autor dessas criações como um intérprete? Se os criadores dessas músicas não são DJs, como eles devem ser chamados?

As pessoas geralmente levam a discussão do uso da inteligência artificial para um nível próximo da vilania (e há razão para isso). Querendo ou não, ela é uma realidade, está cada vez mais acessível e devemos nos adaptar a essas mudanças, e principalmente, cobrar regulamentações sobre o uso dessas ferramentas. Assim como esta IA (e qualquer outra) pode ser usada apenas para diversão, como no TikTok, ou para produzir músicas como eu faço, ela também pode ser utilizada para propagar fake news, mensagens de ódio e tantos outros absurdos.

Por outro lado, vejo também a possibilidade de usar a inteligência artificial para testar ideias. Talvez seja uma forma mais acessível, barata e rápida de se produzir, por exemplo, o piloto de uma série e apresentá-lo para uma plataforma de streaming ou uma emissora, ou de produzir a demo de uma música.

No fim das contas, não acho que isso substitua o trabalho humano. Por mais incrível que a produção de conteúdo com IA seja, nada muda o sentimento de que um artista escolheu cantar sua canção, estrelar seu filme ou ser fotografado por você, e muito menos a emoção e beleza que ele transmitirá em qualquer uma dessas possibilidades.