Portugal é terra de pinheiros. De norte a sul do país é frequente ver-se estas árvores. Discretas, mas airosas, elas são frequentes no território. Aqui, é possível encontrar o pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris), bem como algumas espécies introduzidas, como por exemplo, o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis) e o pinheiro-negro (Pinus nigra), entre outros. No entanto, as espécies dominantes são o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e o pinheiro-manso (Pinus pinea).

Estas duas coníferas são conhecidas pela forma da sua copa (no caso do pinheiro-bravo, triangular e, no caso do pinheiro-manso, curvilínea), pela sua rede intrincada de folhas espetadas para todos os sítios e, especialmente, pelas suas sementes que, no caso do pinheiro-bravo se designa por penisco. Todavia, somente as sementes do pinheiro-manso são comestíveis.

Ora, é devido a esta semente, vulgo pinhão, que esta árvore é reconhecida como sendo um recurso silvestre de grande interesse comercial, e como tal a espécie de pinheiro que assume um papel de destaque na economia agroflorestal do país, em particular nas regiões a Sul do Rio Tejo.

Das cerca de cem espécies de pinheiros existentes no mundo apenas algumas produzem pinhões suficientemente grandes para poderem ser comercializados. Destas, oito, são particularmente importantes. No caso europeu apenas o pinheiro-manso (P. pinea) e o cembro (P. cembra) são espécies produtores de pinhão.

Para além de ser um recurso raro, o miolo de pinhão cem por cento natural é um produto com características organoléticas muito interessantes, logo, cobiçado por Chefs de cozinha de todo o mundo.

O pinhão é uma semente muito versátil. A forma mais simples de comer pinhões, e talvez a mais prazerosa, é comê-los in vivo, rompendo-lhes a dura casca com ajuda de uma pedra ou outro instrumento pesado. Se nos dispormos a ter um pouco mais de trabalho temos que colocar as pinhas (parte seca da estrutura que alberga as sementes) sobre o borralho, por forma a abri-las através da ação do calor, e assim extrair as sementes. Depois de abertas, há forçosamente que empregar as mãos, mascarrando-as, e exercer a força necessária até conseguir soltar os pinhões das respetivas escamas. Uma outra forma de os assar, porventura bem mais fácil, consiste em assá-los diretamente num tabuleiro até os dourar.

Quanto a coisas do comer também é sabido que o pinhão casa bem com doces. Que o diga o nosso receituário: alcomonias, broinhas de espécie, broinhas da Gafanha da Nazaré, bolos de pinhões à moda de Arganil, doce de pinhão do torrão, pinhoadas, rebuçados de pinhão, entre outros. Tampouco existe bolo-rei sem pinhão. Pobre dele!

Mas, apesar do pinhão fazer parte das tradições alimentares em Portugal, comer pinhão é um privilégio só para alguns. Por que motivo o pinhão é vendido a preço de ouro? Por vezes chega a ultrapassar os 100 euros por quilograma (para que se saiba são necessárias mais de 100 pinhas para reunir um quilograma de miolo de pinhão).

A época legal de colheita vai de meados de dezembro até final de março. São três meses e meio de trabalho árduo em que os trabalhadores colocam a vida em perigo — a frutificação dá-se, regra geral, na periferia da copa, e os pinheiros podem chegar a medir mais de 20 metros de altura. Em consequência dos riscos associados à colheita manual da pinha, a mão-de-obra é lenta, e consequentemente mais cara.

No entanto há outros fatores envolvidos. Anualmente furtam-se vários milhares de quilogramas de pinhas. Além disso, a diminuição na produção é cada vez maior, não só fruto da ação negativa dos diferentes agentes bióticos, especialmente do gorgulho das pinhas (Pissodes validirostris) ou da processionária (Thaumetopoea pityocampa), mas também pelo facto de haver anos de safra e contrassafra, com uma periodicidade habitual de dois anos.

Estas e outras razões fazem com que o pinhão não seja um recurso comum na mesa dos portugueses. Era bom que o seu preço baixasse e que todos nós pudéssemos desfrutar dele. Talvez fossemos mais felizes.