Respirar tradições, conhecer territórios, testemunhar a fidelização de costumes herdados, aguçar experiências sensoriais e imprimir na memória detalhes que as fotos e os vídeos não conseguem descrever, é o saldo costumeiro de apaixonados por viagem.

Pode não ser esse o mais marcante, pois sempre queremos fazer outro, mas planear um translado é uma atividade intimamente ligada a personalidade dos envolvidos e respeitar as preferências pode indicar o sucesso ou o fracasso da experiência sensorial.

Viajar, é instigar os sentidos, contemplar novos espaços e expressões faciais, ouvir a sonoridade de outras línguas, onomatopeias e combinações musicais, sentir cheiros inerentes aos caminhos, assistir reproduções ancestrais, degustar sabores, texturas, enfim, mergulhar no universo local.

Quando falamos de um povo, evocamos a identidade cultural, mas por estarmos em constante evolução, este legado está sujeito a influências externas e dança em adaptação as prioridades e tendências da complexa estrutura psicológica de uma nação.

Como um acorde exclusivo, o deslocamento dos sentidos é a experiência mais marcante de uma viagem. Não trazemos somente as fotografias ou vídeos no telemóvel, mas a cultura, sabores, histórias e tradições de um lugar tatuados na nossa existência.

Se o viajante for uma pessoa curiosa ou aberta a novas experiências, tende a visitação de sítios que propiciem uma exploração da manifestação artística e intelectuais dos habitantes, no intuito de compor o “puzzle” cultural.

Alguns inclinam-se a visitar igrejas ou templos, museus, monumentos históricos, enquanto uma pessoa aventureira e extrovertida opta por caminhadas, safaris, trilhas naturais e desportos radicais, sempre para leitura dos costumes tradicionais.

Caso o excursionista for um amante de compras ou um apreciador da vida noturna, centros comerciais, feiras de ruas, discotecas e bares, esses serão os seus destinos. Se têm tem introversão e tranquilidade como características primordiais, as praias, retiros, “spas”, lugares que tragam relaxamento e calmaria serão o seu destino.

Se falamos de um perfecionista, por exemplo, um amante de fotografia, a visita a exposições e galerias de arte serão atrações incontroláveis, enquanto um entusiasta do ecoturismo, sente um chamado arrebatador para conhecer ambientes como parques naturais em busca de conexão.

Uma coisa é certa, seja qual for a característica do andarilho, a experimentação dos sabores locais e sensações gastronómicas estão no pacote da peregrinação e é uma atividade que poucos conseguem resistir.

O paladar é um dos sentidos que mais está ligado a cultura dos povos e a comida é uma das fontes de prazer que mais deixam marcas nas experiências de visitação a um lugar.

A interconexão entre viagens, celebrações e experiências sensoriais tem íntimas correlações com as nossas preferências alimentares, mas nestas ocasiões, esquecemos as tabelas de valores nutricionais e dietas da moda que nos perseguem e simplesmente vivenciamos os sabores que levamos na memória.

Os ingredientes podem ser os mesmos, mas as formas de preparo, a composição de especiarias, tipos de acompanhamentos e apresentação visual ficam registadas na nossa recordação.

Picante ou salgado, azeda ou doce, as nossas preferências são filmes que revelam muito de nós e não é apenas resultado das nossas papilas gustativas.

Exótica ou tradicional, a resposta do nosso paladar também é afetada pela mudança geográfica e pelo clima. Esta combinação é tão inebriante que ao provarmos os manjares nos sentimos pertencentes àquele clã, mesmo que momentaneamente.

Sem julgamentos de bons ou más combinações alimentares, somos presenteados nos comércios de feiras e mercados de rua à comida autêntica, presente nos seios familiares, que alimentam por gerações um povo.

Essa vestimenta territorial produz memórias que envolvem aspetos psicológicos, biológicos, mas é divinamente fascinante testemunhar a repercussão sentimental que assola o visitante.

O contexto cultural concede a comida significados emocionais. Embala as celebrações e torna os ambientes singulares. Vivenciar a experiência contextualizada pode nos trazer conforto emocional, bem-estar ou provocar inquietações e tensões, e essa é a graça da partilha.

Permita-se uma imersão na viagem inesquecível dos sentidos, onde cada combinação, guarnição, revela aspetos particulares da vida quotidiana, paisagens, clima e tradições de uma região que o seu corpo escolheu estar.

Então, convido-vos a na sua próxima viagem, se render aos apelos olfativos de elementos locais, desfrutar dos aromas regionais e se perder nos sabores dos mercados tradicionais, cafés rurais e lá consumir as iguarias que narram, sem palavras, a trajetória de uma população.