Em alguns momentos, a vida parece caminhar no automático e, sem saber direito o porquê, as pessoas seguem dia após dia sem questionar, sem perceber ou ao menos se perguntar o que está acontecendo. É assim em algumas fases da existência para qualquer pessoa.

Existe o fazer acontecer porque é certo que a vida deve seguir fluxos de trabalho, estudo, viagens, mudanças de casa, cuidados com outras pessoas, atenção àqueles que necessitam e outras importantes tarefas. Esse tempo passa rápido ou, por vezes, se alonga. Tudo isso é tão grandioso que a própria vida fica em segundo lugar. Acordar para servir e se deitar para acordar novamente, e tudo recomeça.

Tempo esse em que há de se ter resiliência, contando com algumas habilidades que conversam com esse tempo, e para isso precisamos entender que, nesse aprendizado de viver a vida, passamos por vários processos e um deles é só fazer, seguir sem muito questionar. Não cabem questionamentos ou paralisações. Opte por deixar que a vida cumpra a parte dela, que o tempo passe e que as situações se resolvam, que os caminhos se abram para que você consiga se encontrar novamente.

O calor no coração por estar dando sequência à vida se emparelha com o frio na alma de ver o tempo passar de forma morna, como se você fosse um espectador do seu próprio tempo. Urge conseguir ver um raio de sol ou uma lua cheia que nos traga uma novidade, um outro estado de coisas ou seja lá o que te faz teso. Posto isso, entendemos, com paciência ou talvez não, que ainda não é hora de turbilhões, de desejos arrebatadores, de movimentar muito os desejos ou ainda é cedo para cavalgar nu. Que a liberdade de estar em outro lugar, situação ou estágio de vida ainda não é possível.

Um tempo com compressas de águas frias que ajudam gentilmente a abrandar o fogo interno das paixões. Paixão por si mesmo, pela vida, por ir sem tempo para voltar ou até mesmo de nada fazer.

Quando esse entendimento é possível, vivemos bem o tempo que é possível viver sem grandes desilusões, sofrimentos ou melancolias. É o tempo prático do agora. Um tempo funcional que exige ação e não desabafos. Olhar em volta e saber que você só conta com sua propriedade de seguir em frente. Acreditar naquilo que é palpável e objetivo, sem ilusões ou sonhos. Sonhar é para um outro momento mais oportuno.

Dançar uma música fácil com passos simples que não te atrapalhem a avançar, no qual qualquer parceiro que esteja ao seu alcance consiga acompanhar o seu ritmo.

É simples, precisamos prosseguir, sair do lugar, encaminhar os pensamentos e a vida sem muita complexidade, sem traumas ou sombras. Tudo isso terá seu próprio destino e tempo em outro momento. Por mais que seja quase impossível viver desta forma, ela acontece, é necessária e oferece estruturação a tantos devaneios que somos capazes de criar.

Não há motivos aparentes ou silenciosos que expliquem esse tempo, simplesmente ele existe, e em muitas fases ao longo da vida nos encontramos nele, porque somos feitos de concretudes e abstrações. E por mais que o mundo abstrato pareça mais divertido, pulsante e acolhedor, é no mundo real e concreto que a vida se dá.

Equilibrar esses momentos que a vida nos chama é importante para nossa sobrevivência, pois existem chamados que exigirão de nós certas atitudes e outros onde seremos pessoas completamente diferentes, assim como é o doce e o salgado, o belo e o feio, a chegada e a partida, o início e o fim.

Devemos saber deixar que a vida aconteça, muitas vezes sem nossa interferência. Deixar que ela passe, tenha o seu tempo e se vá. E o nosso papel nessa oportunidade é facilitar as coisas de forma a não resistir. E se resistimos, muitas vezes nos tornamos inoportunos, desnecessários e pouco empáticos com a própria vida. O que nos causa dores desmedidas, sofrimentos absurdos, gerando caos na nossa própria relação com ela.

Então, por que não ser diferente? Nem tudo passa pelo nosso crivo, organização ou controle. Podemos apenas viver os acontecimentos diários, assistir aos enlaces e desenlaces do tempo presente, sem desejar ser o epicentro dos acontecimentos, sem chamar atenção. De certo, há algo que possamos fazer para desviarmos dos holofotes e deixar a onda cumprir o seu ciclo. E então, quando a água baixar e conseguirmos ver o fundo do mar de águas menos densas, seremos capazes de olhar a própria imagem e não nos afogarmos nela. Muito pelo contrário, observar com uma profunda sensibilidade e valor o quão forte nos tornamos para desejar e ser desejado de forma mais saborosa.