O que será o amanhã? O que nos reserva o futuro? Para muitos de nós, a incerteza do porvir é moldada por previsões que brotam de expectativas tecidas a partir das nossas crenças pessoais, valores culturais, influências sociais e do vasto leque de informações disponíveis.
Será que as experiências serão melhores ou entrarão numa melodia difusa? Se pudéssemos organizar a certeza do amanhã, estaríamos tradicionalmente trocando a montanha-russa da produção de adrenalina por um carrossel de emoções contidas e delineadas que não coincidiria com os sinais elétricos emitidos pelo nosso coração.
As expectativas são suposições que agem como inquilinas da mente humana e exercem um poder fascinante sobre as nossas perceções, pensamentos e comportamentos. Sob a lente da neurociência podemos desvendar os mecanismos por trás dessa dança intrigante entre o cérebro e o futuro antecipado.
Sem dúvida, as expectativas desempenham uma função crucial nas nossas vidas, moldam as nossas emoções, comportamentos, interações com os outros. Elas podem variar conforme a cultura, individualidade, situação económica, idade, contexto social e podem resultar em sentimentos de satisfação, alegria, frustração, deceção e tristeza.
Por serem processadas em várias áreas do cérebro, incluindo regiões associadas à emoção, cognição e tomada de decisões. Não existe uma parte específica responsável, e sim a interação de múltiplas regiões.
Atualmente as expectativas mais recorrentes são tiradas dos veículos de notícias. Temas relativos à segurança, saúde, estabilidade económica, realização pessoal, conexões interpessoais e equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal são os mais latentes.
Por um momento, imaginemos o cérebro como um projetor poderoso, que lança imagens do que espera que aconteça diante de uma situação. Essas projeções são normalmente moldadas por experiências vividas, preceitos e desejos a partir da interpretação do mundo ao nosso redor. Quando alimentamos expectativas otimistas, somos inundados por uma cascata de neurotransmissores como dopamina e serotonina que nos enchem de confiança, motivação e sensação de prazer.
Essa química cerebral positiva nos instiga a persistir na concretização dos nossos objetivos, enquanto as pessimistas garantem a presença do cortisol que promove a ansiedade, o medo e o desânimo e nos leva para os braços da autossabotagem e procrastinação, podendo convidar uma depressão.
É importante reconhecer que, nem sempre podemos controlar as situações ou os comportamentos dos que nos rodeiam, porém, podemos gerir as nossas expectativas de maneira saudável, com uma mentalidade flexível, uma comunicação não violenta e cultivando a resiliência.
Um dos fenómenos cerebrais mais intrigantes relacionados às expectativas são os neurónios espelho. Essas células são ativadas quando realizamos uma ação e quando assumimos o papel de observadores. E não é que ao presenciarmos algo, acabamos por mudar também? Sem dúvida. E a indústria cinematográfica é uma prova viva disso.
Através da identificação com os personagens e as suas histórias, podemos exercer a empatia e sentir as suas dores e alegrias e definitivamente, aprender com as suas experiências. Essa imersão na ficção pode nos levar a questionar as nossas próprias crenças, valores e comportamentos, impulsionando-nos a buscar mudanças positivas nas nossas vidas.
Tudo está em constante mudança. Somos seres metamórficos e metafóricos, notas destoantes, vivemos por um segundo e isso é a graça da nossa existência. Mas nem sempre as nossas expectativas, coincidem com a realidade e essa discrepância pode gerar frustração, deceção e até sofrimento.
Nós somos uma deceção para os nossos amigos sempre que não podemos ir a um aniversário, casamento ou fazer aquela visita a alguém que foi morar distante. Dececionamos também quando decidimos falar aquilo que acreditamos, muito mais do que aquilo que eles querem ouvir, ou que é confortável.
E sem ter uma orientação prévia sobre a escala de expectativas de cada uma das nossas intersecções, muitas vezes nos tornamos uma deceção. Isso ocorre porque, para sermos uma deceção, basta termos as características básicas da humanidade, combinadas com uma expectativa fora da realidade.
No entanto, será que a deceção é realmente algo tão negativo? Ou será que ela pode ser vista como um portal para a liberdade? Por isso, talvez tenhamos hoje, uma maior tendência a dececionar do que sermos dececionados. Aceitarmos que todos são humanos e suscetíveis a falhas, ajuda a aliviar a frustração.
A autorreflexão é uma ferramenta de reavaliação das expectativas e um caminho para reduzir o impacto negativo das deceções. Treinar a flexibilidade cognitiva, a capacidade de mudar os nossos pensamentos e comportamentos diante de mudanças inesperadas nos torna mais resilientes a deceções. Essa habilidade nos permite lidar com os desafios de forma mais positiva e construtiva.
Ao considerar o contexto, os diferentes pontos de vista e o exercício da empatia, compreende-se que é mais benéfico cultivar relações autênticas do que criar expectativas. As pessoas nas quais depositamos os nossos planos e sonhos não são estruturas rígidas, feitas de ferro e concreto e sim são seres humanos de carne e osso.
Fato é que passamos a vida acorrentada às expectativas do outro, o que na maioria das vezes resulta em enormes doses de culpa e rancor. E esses sentimentos são demasiadamente amargos e pesados para ditar regra para as nossas relações.
Viver verdadeiramente é abraçar cada momento com a convicção de que fazemos o nosso melhor, enquanto consideramos as expectativas alheias e cultivamos a compaixão por nossa própria humanidade.
Compreender os mecanismos neurais por trás das expectativas e tomar consciência do poder que elas exercem nas nossas vidas é um sábio caminho a seguir. Treinar o nosso cérebro para lidar com as deceções de forma mais resiliente é construir uma relação mais harmônica com o que está por vir.
É importante lembrar que as expectativas não se limitam apenas às nossas interações pessoais, mas também moldam as nossas aspirações e realizações. Ao estabelecer metas e perseguir os nossos sonhos, muitas vezes nos deparamos com as expectativas criadas por nós mesmos e por aqueles do nosso círculo.
No entanto, embora as expectativas sejam ferramentas poderosas, não devem ditar o roteiro final das nossas vidas. Com consciência e inteligência emocional, podemos usá-las como guias pelas incertezas do futuro e percorrer o parque de diversão da vida com leveza, positividade e sabedoria.