De repente, a criança que tínhamos em casa desapareceu! Com isso, muitas dúvidas, receios e inseguranças acompanham seus responsáveis. Como agir diante de tantos desafios e enfrentamentos?
A partir dos 11 para 12 anos, internamente, acontecem inúmeros movimentos corporais que borbulham na vida dos pequenos. Os hormônios começam a vir com força, desestabilizando o humor, mudando as atitudes, vontades e desejos. Como ajudar esse ser humano, antes uma criança, hoje vivendo a adolescência? Infelizmente, muitos não sabem lidar com todas as emoções que surgem quase que num “passe de mágica”. Um caminho importante que percorremos é quando conseguimos prever e nos preparar para acolher esse novo mundo. Essa preparação está ligada a um mergulho no desconhecido, mergulho esse de entrega e envolvimento, sentir o que o outro sente, validar o novo é dizer: “Estou aqui para apoiá-lo”.
O trajeto muitas vezes é feito com pedras que dificultam qualquer contato ou aproximação. Entretanto, ele também se compõe de belezas e muito aprendizado para ambos. Na medida em que os envolvidos vão amadurecendo, vão estruturando novas formas de pensar, se colocar e se entender no espaço. As relações vão ficando mais fluidas e naturais.
O adolescente, ao se ver nesse lugar, muitas vezes se entende como menosprezado, desvalorizado, com baixa autoestima, entre tantas outras questões. Claro, existem exceções. Analisando essas pontuações, sendo elas positivas ou negativas, os adolescentes vivem esse ciclo com muita intensidade; ou estão no ápice, se enxergando como a última “bolacha do pacote”, ou estão no fundo do poço. São esses extremos que devemos cuidar, o equilíbrio precisa acontecer de maneira sincrética para evitar qualquer desregulação emocional.
O desregular não está ligado à permissividade, e sim ao autoconhecimento: antecipar ou mostrar para o adolescente quais são as causas, como acontecem, o que fazer, como conduzir, como se perceber nessas situações. Estudar todo esse movimento, entender gatilhos, observar o todo, o contexto é fundamental. Assim, o diálogo se torna mais rico, a análise traz um olhar clínico para a situação, promovendo aprendizado e fortalecendo vínculos.
Como Gabriel Chalita diz, a compreensão é a faculdade de perceber completamente, com perfeito domínio intelectual, uma pessoa, um objeto ou um assunto. Significa também capacidade de mostrar complacência, indulgência ou simpatia por outrem. A compreensão ajuda a convivência; um olhar de ternura para a dificuldade alheia faz toda a diferença. Como faz diferença a sensação de que esse olhar não é de julgamento, desprezo, mas de acolhimento. Pais compreensivos aceitam as diferenças e os caminhos que cada um opta por trilhar, segundo os impulsos das escolhas nascidas da reflexão.
Trazendo para o núcleo escolar, professores compreensivos conseguem entender que aprendizagem e angústias são múltiplas. Cada um tem uma maneira de contemplar o conhecimento, de lidar com suas emoções, de agir com atitudes diferentes. Cada ser tem suas necessidades e precisa ser atendido, claro, dentro das possibilidades de cada um, de maneiras diferentes. Respeitar-se, perceber-se com todas as imperfeições é compreensão. Ter essa sensibilidade é um grande passo para a harmonia, para uma convivência construtiva e enriquecedora.
Acolhimento, de acordo com Gabriel Chalita, é a atitude da pessoa que apanha, reúne, coleta, colige e guarda tudo junto, entre os braços. É a imagem perfeita do apanhador de trigo, abraçando as ramas de grãos dourados. Quem acolhe, abrange, abraça, aceita.
Pensando em todos os contextos da vida do adolescente, tudo vai se tornar mais desafiador, diferente, inusitado, pois seu olhar e seu corpo se transformaram. Todavia, seu ser vai no mesmo caminho de mudanças, renovações, de reafirmações. A travessia é cheia de novos cenários; para isso, é preciso estar preparado. Entender que a família é o alicerce para a vida de cada um, que nela é o espaço de formação, quando bem consolidado, pode se abalar, mas não colocará em risco seus fundamentos e valores. Basta o alicerce sólido.