Se nos voltarmos para as origens do Ayurveda, vamos descobrir que este conhecimento traz mais de espiritualidade do que muitas pessoas gostam de admitir.
Para começar, toda a manifestação material, seja um caroço de ameixa, um enorme e frondoso pau-brasil ou até mesmo um ser humano, é formada exatamente pelos mesmos elementos, conhecidos como panchamahabhutas. O que diferencia cada espécie e cada indivíduo é apenas um arranjo diferente desses elementos.
Esse entendimento da realidade é que dá suporte a todo o conhecimento do Ayurveda, especialmente na hora de tratarmos uma pessoa que possui algum tipo de desequilíbrio de saúde. Isso porque o maior objetivo desta ciência é devolver a pessoa ao seu estado original, à sua essência, que chamamos de prakrti.
Prakrti: a natureza essencial de cada um de nós
Segundo os textos clássicos do Ayurveda, quando óvulo e espermatozoide se unem para dar início ao desenvolvimento de um embrião, eles trazem características da mãe e do pai, respectivamente. Essas características são expressas através dos doshas, que são forças ou unidades funcionais responsáveis por toda a formação e funcionamento do corpo humano.
Até aqui, nada muito diferente da nossa ideia moderna de combinação de DNAs, certo? Quando os doshas do pai e da mãe se unem para a formação de um novo ser, criam uma combinação única, que conhecemos como prakrti ou constituição original.
A prakrti nos acompanha ao longo de nossas vidas, sendo imutável. No entanto, quando adotamos hábitos de vida insalubres, desequilibramos nosso organismo e geramos um estado de doença, que acaba por impedir que essa natureza primordial se manifeste da forma adequada.
Para dar um exemplo bem simples, imagine que você é uma pessoa plenamente saudável, sem qualquer tipo de enfermidade. Então, começa a trabalhar no turno da noite, com plantões que duram 16 horas. Sua rotina de sono muda completamente, você passa a beber várias xícaras de café para se manter desperto. Em pouco tempo, está com crises de insônia, ansiedade, dores de cabeça e outros sintomas. Isto é, está fora do seu estado normal de saúde. Ou seja, sua prakrti, que é o seu estado natural, não pode se manifestar de forma adequada.
É neste momento que recorremos ao Ayurveda para encontrar formas inteligentes, personalizadas e eficazes para te ajudar a retornar à sua essência, que é a saúde.
Retornando à nossa prakrti
Manter-se saudável em uma sociedade que valoriza noites mal dormidas, o trabalho excessivo e as rotinas insanas que começam às 4h e terminam às 23h, é realmente muito difícil. E, obviamente, não é à toa que estamos todos doentes de alguma forma. Uma pequena amostra disso é que o Brasil, um país mundialmente conhecido por sua alegria de viver, está no topo do ranking de pessoas ansiosas. O outro lado dessa moeda é a depressão, que acomete 15,5% da população.
Diante deste cenário tão complexo, o Ayurveda nos ensina pequenos passos que podemos dar rumo a uma vida mais equilibrada. E a lógica é muito simples: observar os movimentos da Natureza. Afinal, se todos somos constituídos dos mesmos elementos, isto significa que fazemos parte dela. Eu diria, inclusive, que somos uma pequeníssima parte da Natureza, haja vista a imensidão dos oceanos, das montanhas e das florestas, para citar apenas alguns seres que, assim como nós, constituem esse todo universal.
Quando observamos o nascer e o pôr do sol, por exemplo, já temos uma orientação clara sobre o horário em que deveríamos acordar e nos recolher. Ao acompanharmos as mudanças das estações, também conseguimos perceber como nossos corpos mudam, assim como a nossa abertura para a vida. Nas estações frias, por exemplo, tendemos a ficar mais introspectivos. E isso é um grande sinal que a Natureza nos dá. As estações também nos indicam quais alimentos deveríamos privilegiar de acordo com a região que habitamos, pois a sazonalidade dos alimentos não tem nada de aleatória. É a sabedoria da terra nos provendo daquilo que necessitamos no momento em que necessitamos.
Outro ciclo extremamente importante para nos reconectarmos com a nossa essência é o lunar. As mulheres, em especial, têm um vínculo maior com este ciclo, que rege as águas internas e externas. Perceber as movimentações emocionais de acordo com as fases da lua pode nos dar uma dimensão muito mais profunda sobre nós mesmas. Além disso, pode nos ajudar a direcionar nossas energias de forma mais inteligente, sabendo quando descansar ou quando empregar mais esforço em determinadas tarefas.
Viu como pode ser simples? Retornar à nossa essência, ao nosso estado de saúde plena, nem sempre demanda grandes esforços. Tudo o que precisamos é lembrar de onde viemos.