Émile Durkheim, um dos precursores da sociologia moderna, em sua obra seminal O Suicídio: Estudo Sociológico1 (1897), apresenta uma abordagem pioneira na compreensão dos fenômenos sociais, destacando a influência das instituições sociais (religião, família, escola e estado) na vida dos indivíduos. Para ele, as instituições transmitem valores sociais. Nesta perspectiva, Durkheim conceitua o "fato social" como uma realidade exterior ao indivíduo, dotada de poder coercitivo e capaz de influenciar (ditar) seus comportamentos e pensamentos.

No contexto das instituições sociais, a família desempenha um papel central na socialização e na transmissão de normas e valores para as crianças. Segundo Durkheim, uma família coesa (aqui temos outro problema para definir qual o modelo “correto que ele acredita) e funcional pode fornecer suporte emocional e social, reduzindo assim os riscos de comportamentos autodestrutivos, como o suicídio. Por outro lado, dinâmicas familiares disfuncionais podem aumentar a vulnerabilidade dos indivíduos ao isolamento e à depressão, fatores de risco para o suicídio.

A religião, como destacado por Durkheim, é outra instituição social que exerce influência significativa sobre os comportamentos individuais e forma pessoas para a vida adulta. Ele argumenta que as crenças religiosas e os rituais promovem a coesão social e oferecem um senso de pertencimento e propósito à vida. Assim, uma forte identificação religiosa pode funcionar como um fator protetor contra o suicídio, fornecendo apoio emocional e estrutura moral aos indivíduos. Entretanto podemos questionar a visão positiva de Durkheim quanto à religião. Será que todos os valores transmitidos dentro dos grupos religiosos são positivos? Obviamente que não. É só olhar para o Brasil em 2018 e 2023 nas eleições presidenciais. Nesse período foi possível perceber o fundamentalismo religioso durante as eleições. Púlpitos viraram palanque eleitoral e aqueles que não compartilhavam dos ideias dos candidatos eram punidos e até expulsos das atividades religiosas. Isso ocorreu pelo século XXI.

Outra instituição social relevante na análise sociológica de Durkheim é a escola. Em sua visão, ela seria ambiente fundamental na formação dos indivíduos e na promoção da integração social. Conforme Durkheim observa, uma educação de qualidade pode fortalecer os laços sociais e fornecer oportunidades para o desenvolvimento pessoal e social. No entanto, experiências escolares negativas, como bullying, preconceito, machismo, homofobia, exclusão social e violência nesses locais podem aumentar o risco de comportamentos autodestrutivos entre os estudantes.

Nessa hora você já pergunta...mas o texto não era sobre suicídio? Sim, jovem! Precisei tecer a teoria sociológica para abordar um dos problemas sociais que afligem nosso sociólogo clássico. Quanto ao suicídio, propõe uma análise sociológica desse fenômeno, destacando três tipos: o suicídio egoísta, resultado da falta de integração social; o suicídio altruístico, associado à integração excessiva na sociedade; e o suicídio anômico, decorrente da ausência de normas sociais claras. Para ele, o suicídio egoísta envolve somente o indivíduo. Já o suicídio anômico é aquele que nasce quando o indivíduo não se sente parte da sociedade. Já o altruísta, o indivíduo se impregna tanto dos valores daquele grupo, que ele decide abrir mão de sua vida em prol de algo.

Em suma, a obra de Durkheim oferece uma perspectiva inovadora sobre a relação entre as instituições sociais, como família, religião e escola, e o fenômeno do suicídio. Compreender o papel dessas instituições na vida dos indivíduos é fundamental para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e intervenção, visando promover o bem-estar social e a saúde mental da população.

A questão é: Somos influenciados pela sociedade e seus valores 24 horas por dia. Todo extremo é complicado. Devemos questionar os valores sociais? Sim. Mas também não podemos viver abraçados com eles 24 horas por dia. É necessário pensar sobre o que está sendo transmitido. Além disso, se o suicídio é um problema, precisamos perceber os sinais que o indivíduo dá ao cometer tal ato. Só assim poderemos evitar situações graves.

E agora eu te pergunto: Já percebeu os sinais que seu filho, irmão, pai, mãe, tio, avô, colega de sala, trabalho ou vizinho dá querendo se matar? Se não, preste atenção. Os sinais são mais claros do que você imagina.

Notas

1 Durkheim, Émile. O Suicídio: Estudo Sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2011.