O termo semântica provém do francês, sémantique, palavra criada pelo linguista francês, Michel Bréal (1832 – 1915), considerado o fundador da semântica, a partir do grego: semantike (ciência ou técnica de significar). A semântica é um ramo da Linguística e tem por objeto o estudo do significado das expressões (palavras, frases) das línguas naturais, portanto, para os semanticistas, questões como o que significam a foice e o martelo na bandeira da antiga União Soviética e qual o significado da cor vermelha não têm relevância alguma, pois se trata de significações não linguísticas, mas de signos ideológicos.
Ao ouvir ou ler, palavras como casa, mesa, cadeira, computador, janela, cama, cavalo, vaca, fada, androide, saci, amor, coragem, tristeza consegue-se relacioná-las a um referente extralinguístico algo que existe no mundo natural ou criado pela nossa mente, e construir para cada uma delas um significado. Esse tipo de palavra realiza uma ponte entre a realidade (objetiva ou subjetiva) e a língua. São chamadas de palavras lexicais. Trata-se de palavras cujo significado (ou significados) é dicionarizável. No entanto, nem todas as palavras têm significado por si sós. Preposições, conjunções, artigos, certos pronomes e advérbios são palavras que, isoladamente, não têm significado. Passarão a ser unidades providas de significado quando fizerem parte de enunciados. O sentido desse tipo de palavra, comumente chamadas de palavras gramaticais, será construído pelos falantes / ouvintes a partir de relações dessas palavras com outras do contexto em que são enunciadas.
Servem como exemplos os artigos o e um. Fora de contexto, nada significam; mas, dependendo da forma como se relacionam com outras palavras do enunciado, produzem efeitos de sentidos diversos. Tome-se uma frase como Casablanca não é um filme, mas o filme. A oposição entre o artigo indefinido e o definido cria um efeito de sentido interessante, na medida em que o artigo definido não apenas determina o substantivo filme, mas também confere a ele valor superlativo. Não se trata de um filme qualquer, um filme comum, mas um superfilme, um filme excepcional.
Quanto às preposições, sabe-se que elas relacionam termos da oração subordinando uns aos outros, estabelecendo diversas relações de sentido. A preposição de, por exemplo, estabelece diferentes relações de sentido. O que segue são apenas alguns exemplos:
Morava na casa da avó. (posse)
Pedro saiu de fininho. (modo)
Trabalha de noite. (tempo)
Consultou um livro de receitas. (assunto)
Não dá para ver isso de perto. (lugar)
Ele veio de Londres. (origem)
O doente gritava de dor. (causa)
O chá foi servido numa xícara de porcelana. (matéria)
Há também na língua palavras cujo significado depende da situação em que são enunciadas. É o caso de alguns pronomes como eu, tu, meu, tua, este e de certos advérbios (e expressões adverbiais) como aqui, lá, agora, hoje, amanhã, daqui a pouco, esta noite, cujo referente só pode ser identificado no processo de enunciação. São os chamados dêiticos, expressões linguísticas cujo sentido depende do contexto em que são enunciadas. Por exemplo, o sentido do advérbio aqui depende do lugar em que se enuncia. Para alguém que está no Rio de Janeiro e diz Aqui está chovendo, aqui designa Rio Janeiro. Se quem fala Aqui está chovendo se encontra em Recife, aqui designa Recife.
Os dêiticos não têm significado fixo. Seu sentido se atualiza cada vez que são enunciados. Antigamente, certos estabelecimentos comerciais como armazéns, quitandas e açougues, para deixar claro aos clientes que não vendiam fiado, costumavam afixar uma placa com os seguintes dizeres “Fiado só amanhã”. Valendo-se de um recurso que produz sentido humorístico, deixava-se claro que não se vendia fiado, pois o advérbio amanhã, nessa frase, é um dêitico, ou seja, seu sentido se atualiza a cada vez que é lido.
Por outro lado, um mesmo referente pode ser rotulado por significantes distintos. É o que ocorre com certas palavras com forte componente ideológico. Bakhtin ressalta que a palavra sempre está carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. Para Pêcheux, as palavras alteram seu sentido de acordo com a posição de quem as emprega. Palavras como religioso e fanático são exemplos disso. Enquanto religioso tem conotação positiva, a palavra fanático tem conotação negativa. Chamar um religioso de fanático implica desvalorizar sua crença. Na imprensa ocidental, é comum encontrar referências a religiosos muçulmanos como fanáticos, ao passo que essa palavra raramente é usada para designar um religioso católico.
O linguista britânico Frank Robert Palmer chama a atenção para o fato de que muitas palavras são escolhidas pelo efeito que podem produzir e dá como exemplo a palavra fascista, que originalmente era usada para designar o partidário do fascismo, e que hoje é utilizada para nomear negativamente pessoa radical e intransigente, sem que essa seja necessariamente partidária ou simpatizante do fascismo.
A semântica, por ser um ramo da Linguística, não se preocupa com o referente, a coisa extralinguística, mas apenas com significado e com significante e da relação entre eles. Ao definir-se semântica como o ramo da Linguística que estuda o significado, evidentemente se está apresentando uma definição didática, não há consenso, nem mesmo entre linguistas, sobre uma definição de semântica, tampouco sobre qual seria seu objeto de estudo e o que venha ser exatamente o significado.