Você já parou para pensar como aprendeu todo o conhecimento que teve durante sua vida? Se alguém te perguntasse qual é a melhor forma de te ensinar algo, o que você responderia? Difícil, não é? Estamos acostumados a sempre olhar para nós mesmos de forma externa, mas quando somos desafiados a olhar para nosso interior, percebemos que nos conhecemos muito pouco.

De acordo com Placco1, conhecer o conceito de metacognição é imprescindível para desenvolvermos nosso conhecimento, pois uma vez que compreendemos como aprendemos, podemos regular o processo de aprendizagem.

Mas, afinal, o que é a metacognição? Bom, de acordo com a etimologia da palavra, metacognição significa “além da cognição”. De forma mais efetiva, o conceito de metacognição baseia-se na faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer, ou seja, os processos mentais que levam ao conhecimento constituem um objeto de reflexão. Entre eles destacam-se a observação, a atenção, a memorização, o próprio pensamento e reflexão, dentre outros.

Assim, o processo de metacognição é individual e singular, pois tem como foco principal o entendimento dos processos de aprendizagem de nós mesmos. Placco faz uma analogia interessante ao comparar o ato de olhar para nossos próprios pensamentos como o ato de olhar-se no espelho, pois nos obriga a observar diferentes feições, revelando o desconhecido ou, nas próprias palavras da autora, “o espelho nos põe ao nu”.

Eu mesma confesso que, ao refletir sobre minha própria aprendizagem, fiquei confusa. Ora acho que aprendo mais por meio da emoção, ora por meio da experimentação. Ainda estou construindo a reflexão sobre o meu aprender. O processo é lento e doloroso, pois ao nos olharmos, também observamos nossos desafios e fragilidades. Como educadora, olhar para meu próprio “sistema” de aprendizagem faz com que eu reflita sobre a maneira como ensino.

Placco diz que olhar para nosso próprio conhecimento é uma tarefa em que recorremos a nossas memórias afetivas, sentimentos e emoções, bem como as experiências que vivemos ao longo de nossa vida, reconhecendo os caminhos que percorremos, as ressignificações que fazemos nessa jornada e as possibilidades que a nossa memória nos proporciona fazer. Podemos, então, concluir que o percurso metacognitivo é uma tarefa constante? Sim! Ainda segundo a autora, este é um processo contínuo de construção do qual a intencionalidade e a tomada de consciência estão constantemente evoluindo.

Mas, será que com o passar dos anos os adultos perdem a capacidade de aprender a aprender? De forma alguma! O adulto, uma vez que se dispõe a aprender e a olhar reflexivamente para seu aprendizado, participa de forma ativa de seu aprender, o que lhe confere a apropriação do conhecimento uma vez que assume o protagonismo de sua aprendizagem.

Placco resume como é possível que o adulto que pretende refletir sobre seu aprendizado conseguirá dirigir e regular seu pensar:

  • Conhecer a si próprio como processador de informação, ou seja, ter consciência de suas características como aprendiz;
  • Conhecer quais são os objetivos e as exigências da tarefa que deseja aprender;
  • Escolher os procedimentos, de acordo com suas características e as tarefas. Por exemplo, se você aprende escutando, opte por desenvolver o conceito que deseja aprender, escutando;
  • Considerar o entorno, o outro e as implicações afetivas.

Em um olhar complementar, Orejas2 diz que a metacognição compreende a consciência e autorregulação, não apenas dos processos de nossa mente, mas também dos processos interpessoais e coletivos que intervêm na mente humana. Quem não se lembra daquele professor maravilhoso que tudo que ensinou a gente se lembra até hoje?

Cada vez mais as ciências e as pesquisas das áreas educacionais apontam para uma máxima já observada pelo filósofo Sócrates e escrita no pronau do Templo de Apolo, na Grécia Antiga: “conhece-te a ti mesmo”.

Notas

1 Placco, Vera M. N. S e Trevisan-de-Souza, Vera L. (orgs) Aprendizagem do Adulto Professor. São Paulo, Loyola, 2006.
2 Orejas, Javier burón. Enseñar e aprender: Introducción a la meta cognición. Bilbao Ediciones Mensajero, 2002.