Desde a antiguidade, celebrações eram realizadas como oferenda para o deus grego Baco, Dionísio para os romanos, eram festividades onde era liberado usufruir dos prazeres mundanos, misturando sexo, bebidas e, claro, comida. A comida sempre foi fonte de prazer, servia tanto para momentos de relaxamento ou descanso como fonte de energia, já que o bacanal poderia durar dias.
O alimento como elemento central de celebração é um fato, praticamente, ligado ao DNA humano, sempre que comemoramos algo, imediatamente, associamos comida e bebida como recompensas dos desafios. Como exemplo temos em livros e filmes que, expõe este fato repetidamente desde os primeiros registros, como em um filme de guerra onde o exército após ter saído vitoriosos de uma batalha, tem sua comemoração e, geralmente, a recompensa em uma festa regada a comida e bebida.
Este fato tem uma explicação cientifica, pois alguns alimentos são capazes de aumentar a produção de neurotransmissores como dopamina, serotonina, entre outros. Essas substâncias geram a sensação de prazer no cérebro. Pesquisas da área da neurofisiologia mostram que os níveis de dopamina se elevam muito durante as refeições, transformando a alimentação em fonte de prazer. Todos os prazeres são associados aos sentidos do corpo humano, temos o olfato, visão, paladar, tato e audição, sendo muito mais explorados atualmente pelo chefs e restaurantes, chamados de experiências gastronômicas.
O primeiro sinal de uma boa comida é o cheiro, o aromas das ervas, o frescor dos legumes, o defumado dos grelhados, todos os elementos produzem uma grande sinfonia ao nariz. Este é um sentido tão importante que algumas cozinheiras aprenderam a identificar se falta sal apenas pelo cheiro do cozimento. Um elemento tão importante, que existem até estudos e cursos sobre o marketing olfativo, uma ferramenta muito importante para o mecanismo de venda.
Logo após, ativamos outro sentido, a visão. O ditado “comer com os olhos” é uma expressão tão forte, que podemos tomar como uma verdade, pois, ao associarmos os dois primeiros sentidos imaginamos os ingredientes e podemos, quase, sentir o sabor do preparo. Assim como o estudo olfativo, o aspecto visual é muito importante, pois aumenta as expectativas sobre a refeição que iremos comer, gerando maior prazer. Enquanto comemos o alimento, dois sentidos são ativados imediatamente, o paladar e o tato. Ambos têm a língua e os lábios como principal ferramenta para descobrir as texturas, a temperatura e o sabor de cada parte dos alimentos. Uma curiosidade é que a língua consegue identificar somente 5 sabores: doce, salgado, amargo, azedo e umami. Não existe o gosto do abacaxi ou do morango, emfim, precisamos combinar estes dois sentidos com o olfato para conseguirmos identificar com clareza todos os ingredientes.
Quando estamos comendo, não prestamos muito atenção nos sons, é um exercício difícil, mas que pode ser capaz de gerar muito prazer, sendo um elemento que surpreende e aumenta a liberação dos neurotransmissores. O especialista em psicologia experimental Charles Spence conta à BBC News Mundo: "Desde o estalar dos alimentos ao ruído da embalagem, ao roçar da colher no prato ou à música que ouvimos enquanto comemos; todos os sons afetam a nossa experiência culinária, uns mais que outros, e também o sabor".
No campo da gastronomia, plataformas e aplicativos estão inundados por vídeos de receitas ou provas de alimentos que não exibem vozes humanas, apenas o som dos cortes das facas e dos alimentos. Está cada vez mais popular videos e montagens do tipo “ASMR”, segundo o tecnoblog é: “(…) sigla para Autonomous Sensory Meridian Response, ou Reposta Sensorial Meridiana Autônoma, em português. É o nome dado a sensações prazerosas, geralmente um formigamento ou arrepio causado por estímulos visuais, auditivos e cognitivos. Qualquer estímulo positivo pode causar a reação, desde uma conversa agradável ao som da chuva, o barulho de alguém amassando um plástico e etc (…)”.
Uma experiência gastronômica completa deve incitar todos os sentidos do corpo humano e os alcançar nos cinco sabores. A batalha diária de um cozinheiro é trabalhar para conseguir dominá-los, este feito traz mais conhecimento e refinamento no momento de criação. Abrem-se novas possibilidades de combinação de ingredientes e formas de empratamento, buscando surpreender e ultrapassar as expectativas.