Após o martírio dos últimos 6 anos relacionados à Operação Lava Jato, que levou o ex-presidente à prisão por cerca de 1 ano e meio, Lula se sagrou vencedor de um dos pleitos mais disputados e menos propositivos da história do Brasil, contra um dos governantes piores da Era da Nova República, Jair Bolsonaro. Mas fica a pergunta: sob que condições ele ganhou essa eleição? Pergunta que poucos se fizeram e que eu pretendo elucidar a maior parte delas no artigo. Os países de 2006 a 2010 e de 2023 e 2024 são os mesmos?

Vamos primeiramente à condição em que Lula venceu as eleições. Lula se sagrou vencedor em cima de um governante completamente perdido, desorientado e que apostava no autoritarismo para poder se manter no poder, construindo um sistema político que servisse a ele sem saber montar esse sistema autocrático. Dando nas tentativas bizarras de golpe, que vimos no 8 de janeiro, sem qualquer tipo de liderança.

Nesse contexto de profundo descrédito ligado às instituições brasileiras e convulsão social e política por parte da população brasileira, foi articulada uma frente para defender uma semi democracia altamente corrompida (a qual clama por reformulações profundas e renovação dos seus quadros corruptos e muito ultrapassados, e que não tem liberdades muito plenas em virtude da ideia de que tem de manter sempre eles tocando o país) em torno do ex-presidente Lula.

Semi democracia que gerou como doença o próprio Jair Bolsonaro e uma Direita completamente vazia e obcecada por likes. Essa frente inclui grandes empresários corruptos (como Rubens Ometto, Família Marinho, Marcelo Odebrecht, Abilio Diniz e etc), inclui Tucanos simpatizantes do Lula e rejeitados pelo Petismo por anos (como FHC, Tasso Jereissati e etc), inclui PSD e MDB, e inclui artistas com proximidade ao Petismo e aos demais partidos da Esquerda Brasileira, entre tantos outros nomes, que assinaram as famigeradas Cartas à Democracia durante a eleição.

Essas oligarquias, que dirigem o Brasil desde a criação da Constituição de 1988 e que têm um pacto para tocar o Brasil, buscavam uma maneira de retomar o poder e afastar a possibilidade da semi democracia criada nessa época deixar de existir. Nessa situação surge a ideia de abraçar a candidatura do ex-presidente.

A partir dessa situação surge a primeira diferença entre o período de 2006 a 2010 e o Brasil Atual. A diferença consiste na ideia de que esse tipo de coalizão não existiu na época em que ele assumiu. Muitos entes desse arranjo se opunham ao Partido dos Trabalhadores e ao Lula de forma pragmática e bastante moderada. Nesse arranjo incluem-se pessoas com pensamento muito diferente entre si. Onde vai ser necessário fazer diversos afagos a entes, que pouco se confiam. Em 2006 a 2010, não se faz necessário a junção de todo esse consórcio. O PSDB era mais independente do Petismo e tinha tanta força quanto ele, mesmo que não fosse uma oposição muito efetiva. Portanto, temos aqui a primeira diferença.

Outra grande diferença é ter um congresso mais independente e mais empoderado que o executivo, o qual tem controle das famosas NP9 e NP6. O Executivo foi esvaziado na aplicação dessas emendas e ele apenas as concede. Na época, o executivo tinha mais controle sobre as emendas parlamentares, onde havia brecha para influenciar. Hoje, se as NP6 são restritas pelo Alexandre Padilha, corre bastante risco de não aprovar diversas matérias.

Além de que o famigerado Centrão não quer espaços menores como naquela época, quando ele ocupou os maiores espaços com o governo anterior em matéria de ministérios e estatais, algo que ele nunca chegou a ocupar em governos anteriores do Petismo. O Partido dos Trabalhadores está mais hegemônico em virtude da saída melancólica do poder em 2016, algo que vai gerar diversos enroscos na hora de aprovar projetos do interesse do governo, problema que não se via no passado, uma vez que o Petismo estava entrando no poder naquela época, não tendo nenhum desses traumas do período pré-impeachment e pós-impeachment.

Outro grande ponto de diferença está na parte socioeconômica. No momento atual, o Brasil está com problemas muito antigos em um grau próximo do colapso, problemas que vão desde regulação disfuncional e muito antiga até a elevada carga de impostos que sobrecarrega a renda dos cidadãos e do empresariado para sustentar um estado caro, ineficiente, perdulário e ineficaz, que precisa de revisão profunda na forma de alocação, arrecadação e distribuição de recursos e entrega serviços de baixa qualidade e faz gastos completamente à revelia dos interesses coletivos do povo brasileiro (Ex: Fundo Eleitoral, Elevados Privilégios Parlamentares e absurdos privilégios tributários a alguns empresários). Problemas que na época não existiam ou eram menores.

Nos tempos atuais, há um país envelhecido e com queda de nascimentos, sendo necessário investir em serviços melhores e previdência num tamanho muito maior e de forma mais qualitativa que no passado, uma vez que a população está mais velha. Na época, houve uma alta grande de nascimentos, que possibilitou aumento do consumo. Na época, houve um mundo geopoliticamente mais organizado e menos tensionado com uma bipolaridade entre China e Estados Unidos mais clara, o que facilitou a vida do Agronegócio nas comercializações dos seus produtos e sem a necessidade de pronunciamentos contundentes sobre conflitos para evitar problemas no comércio exterior brasileiro.

Hoje, o mundo caminha para uma multipolaridade com diversos conflitos e com necessidade pronunciamento contundente e pragmático em diversos conflitos mundiais sérios e em áreas sensíveis no mundo.

Hoje, há influência das mídias sociais de uma maneira positiva em alguns pontos e negativa em outros. Positiva na ideia de alterar cenários políticos e proporcionar mudanças profundas nas sociedades de vários países e negativa por dar voz a pessoas muito equivocadas e que podem fazer ações sociais muito ruins para o ambiente fora das mídias sociais. Na época, havia uma concentração dos investimentos chineses no Brasil e um interesse do governo chinês na exportação. Hoje, Xi Jinping divide os investimentos Chineses na África, Eurásia e em vizinhos do Brasil na América Latina e há um enfoque maior no consumo interno chinês, algo que o ex-presidente não enfrentou em 2006 a 2010.

Outra grave diferença é o tipo de herança político-econômica do Governo Bolsonaro e do FHC. A herança do Jair Bolsonaro é muito mais séria e grave, incluindo a permanência e aprofundamento do descrédito na política por parte de boa parte da população, algo que não existia no segundo Governo Lula. Onde setores da sociedade brasileira não eram conectados com política, mesmo que interagindo muito mal com esse assunto e na base de muito fanatismo.

O fato de o Governo Bolsonaro ter sido ruim aprofundou o descrédito de uma parte desse eleitorado que bancou o Bolsonarismo desde 2016. Outra parte passou a recorrer ao fanatismo, cegueira ideológica e apoiando algo sem muito futuro, mas por não achar algo que representasse os seus desejos pessoais. Eleitorado que no passado estava em abraçado ao Petismo e ao PSDB. Algo que a vida do Lula em matéria de ampliação de popularidade. A qual está dividido em maneira quase simétrica, tendo dificuldade para garantir apoio dentro da população para ações de Governo.

Portanto, há de se concluir que temos um país muito distinto da época de 2006 a 2010 e que o presidente atual terá muitos novos desafios e a continuidade de desafios antigos em graus muito piorados como a desindustrialização, o qual ele sequer enfrentou no passado. Passado que tinha muitos ventos a favor do ex-presidente e que não precisou de muito esforço para governar, como ele vai precisar agora. Vai pegar uma população mais impaciente, mais fanatizada e com os velhos problemas de uma educação política precária.

Ou seja, o Governo Lula III será um governo no mínimo regular em desempenho? Só o tempo dirá. Principalmente, se tratando de um dos países mais confusos e complexos do mundo como o Brasil.