Em 1947, dois anos após as bombas de Hiroshima e Nagasaki, cientistas criaram o Relógio do Juízo Final. Trata-se de um método para alertar sobre o risco de autoextinção da humanidade. Quanto mais próximo de meia-noite, maior o risco. Esse período marcou o início da Guerra Fria, alcançando 7 minutos durante a crise dos mísseis de Cuba em 1962 e 3 minutos em 2016, quando o Irã revelou possuir tais armamentos.
Atualmente, enfrentamos a crise climática. A URSS se dissolveu, pondo fim à Guerra Fria, mas o conflito com a Ucrânia gerou ameaças de uso dessas armas, assim como por parte da Coreia do Norte. Como resultado, o relógio marca 1 minuto e 40 segundos.
Em 1961, surgiu o projeto SETI, que busca por vida extraterrestre. Um dos integrantes, Frank Drake, propôs a teoria do Grande Filtro para tentar explicar por que ainda não encontramos vida extraterrestre. Considerando que o universo é composto da mesma matéria e que há vida na Terra, é estatisticamente provável que haja vida, inclusive civilizações, em outros lugares. Uma razão para não as termos encontrado pode ser a possibilidade de terem evoluído até um ponto de autodestruição. Talvez seja uma regra natural para seres racionais, um ciclo de nascimento, crescimento e morte aplicado a civilizações inteiras. Por que não?
Contudo, não estou disposto a simplesmente esperar pelo apocalipse sem buscar meios de preveni-lo. Como chegamos ao pior momento do Relógio do Juízo Final desde sua criação, há 77 anos? A queda do muro de Berlim simbolizou uma vitória marcante do capitalismo ocidental sobre o comunismo oriental, promovendo a liberdade.
A década de 90 viu o surgimento dos "Tigres Asiáticos", com a China em destaque, e o Japão resolvendo seus problemas de poluição e adotando designs de carros italianos para vender seus próprios veículos nos Estados Unidos. As ditaduras na América também caíram, tornando-a uma década positiva em vários aspectos.
Então, o ataque ao WTC em 2001 trouxe uma dinâmica interessante. Parecia que os EUA necessitavam de um inimigo, e os muçulmanos árabes, ao contrário das expectativas, foram mais respeitados. Isso deu início a um crescimento do ódio contra imigrantes na Europa e a um ressurgimento dos comunistas nas Américas, apesar de já não fazerem sentido para quem vive perto da Rússia.
Tenho apreço pela engenharia e pela estatística, e abomino a desinformação. Sinto-me à vontade ao dizer que é improvável que dois prédios modernos, como eram as torres gêmeas, desabem verticalmente de forma tão perfeita, nem mesmo em implosões meticulosamente calculadas. Essa é uma história mal contada há 23 anos, mas esse não é meu foco principal.
Professores de pré-escola sabem que uma criança pode se machucar intencionalmente para acusar outra, buscando o prazer de vê-la punida, mesmo que inocente. Isso supera a dor da autolesão. Se essa criança tivesse uma faca, ela se cortaria? As ações infantis podem ser vistas como indícios de nossa natureza mais fundamental. Conclui-se, então, que ética e senso de justiça são construções adultas, sugerindo que somos basicamente egoístas ao ponto de sermos autodestrutivos.
Portanto, é provável que não passemos pelo filtro. Não somos meramente crianças com facas; somos vendedores de armas que controlam a mídia para incitar o ódio e, consequentemente, aumentar a venda de armas. Talvez, no fundo, sejamos realmente crianças com facas.
Um indivíduo foi vaporizado na explosão em Hiroshima, e sua sombra ainda está gravada em uma escadaria de pedra. O "trabalho" de um ataque aéreo seguido da invasão de uma coluna de tanques, que demoraria um mês, pode ser realizado em minutos e pela metade do preço com uma bomba dessas. Quando o termo "preço" é introduzido, tudo se torna impessoal e desumano.
O dinheiro não é parte da natureza; nós o inventamos para facilitar trocas. Antes disso, éramos caçadores/coletores nômades reunidos nas primeiras cidades porque era onde havia comida. A gratidão é uma das características humanas. Não aceitamos que alguém faça algo por nós sem compensação. Isso também diz respeito à autoestima, por isso é um prazer ajudar. Quando não se tem com que contribuir, trabalha-se. Outra característica, essa menos nobre, é o ato de "se encostar" sempre que alguém faz o que deveríamos.
Estou falando de conceitos básicos, que surgiram entre 10 e 50 mil anos atrás. Aqui estão as justificativas para o que se tornaria a civilização atual a 1 minuto e 40 segundos da autodestruição. O agradecido que trabalha divide a ração com o encostado. A relação seria semelhante à de calouro e veterano, o que inaugura um novo tipo de autoridade. Já havia o mais forte ou o "pai", e, como as injustiças não devem ficar impunes, recorre-se ao pensamento mágico. O resultado é o trabalhador conformado e o líder que se apoia em um suposto nascimento divino ancestral, ou seja, líder, trabalhador, clero e, em breve, militares. Os novos conceitos introduzidos aqui são propriedade e nação.
Dez mil anos é como se fosse ontem quando observamos a presença de reis ainda hoje, no pleno século 21. A democracia grega excluía os camponeses, e o nazismo defendia uma suposta hierarquia entre as etnias. É como afirmar que bananas são superiores a maçãs, um absurdo que segue a mesma lógica: uma minoria de encostados encontrando razões para continuar explorando a massa de conformados. Os reis foram substituídos por ricos, não mais os ostentosos escolhidos por divindades, mas discretos corruptores de políticos e controladores da mídia.
Se há esperança, é porque essa meia dúzia de famílias sabe o que tem em mãos. Um exemplo disso foi o que aconteceu com os CFCs. Após comprovar que esses gases destroem a camada de ozônio que nos protege da radiação solar, eles foram rapidamente eliminados das geladeiras. Dentro de todos nós, nascidos iguais para decepção dos nazistas, ainda existe a criança que se arranha para acusar a outra. Basta que haja uma criança com faca, neste caso um membro de uma dessas famílias que controla os militares e as bombas nucleares, e a estatística indica o inevitável desastre.