O cenário educacional contemporâneo experimenta transformações rápidas, impulsionando a busca por abordagens pedagógicas inovadoras que tornem o aprendizado mais significativo e relevante. A obra Cinco Caminhos para o Engajamento rumo ao aprendizado e ao sucesso do estudante, de Dennis Shirley e Andy Hargreaves1, emerge como referência nesse contexto, propondo um modelo abrangente para fomentar o engajamento dos estudantes.

Ao desvendar os cinco caminhos que compõem essa dinâmica complexa – valor intrínseco, importância, associação, empoderamento e maestria –, os autores nos convidam a repensar nossas práticas pedagógicas, com o objetivo de criar experiências de aprendizagem que estimulem a curiosidade, a autonomia e o prazer de aprender. Shirley e Hargreaves vão além ao afirmarem que as questões determinantes para as escolas não se relacionam mais com desempenho, oportunidade e competitividade. Elas vão ao âmago de quem nós somos1, revelando uma profunda transformação na concepção da educação, que agora coloca o desenvolvimento integral do indivíduo em primeiro plano.

Sob essa perspectiva, a pandemia de COVID-19 acelerou a necessidade de repensarmos a educação, intensificando a busca por novas abordagens. Nesse contexto, a obra de Shirley e Hargreaves ganha ainda mais relevância. Ao afirmarem que estamos passando da Era do desempenho e do esforço para a era do engajamento, do bem-estar e da identidade1, os autores apontam para uma tendência irreversível: a busca por um modelo educacional que valorize o desenvolvimento integral dos estudantes, considerando não apenas seus conhecimentos e habilidades, mas também seu bem-estar emocional e social.

Em outras palavras, os autores defendem uma educação que vá além da mera transmissão de conhecimento, focando no desenvolvimento integral do indivíduo. Mas, afinal, o que significa engajamento?

O engajamento na educação vai além da simples presença física em sala de aula. É um estado mental ativo no qual o estudante se conecta profundamente com o conteúdo, seus pares e o processo de aprendizagem em si. Essa conexão se manifesta de diversas formas, desde a paixão pelo conhecimento até a sensação de pertencimento à comunidade escolar.

E por que isso é tão fundamental? A resposta é multifacetada. Em primeiro lugar, estudantes engajados demonstram uma aprendizagem mais profunda e significativa, retendo mais informações e desenvolvendo um pensamento crítico mais aguçado. Além disso, o engajamento impulsiona a motivação intrínseca, gerando um desejo genuíno de aprender e buscar novos conhecimentos. Consequentemente, observa-se uma melhora significativa no desempenho acadêmico.

Outro benefício crucial é o desenvolvimento de habilidades socioemocionais como colaboração, comunicação e resolução de problemas, preparando os estudantes para os desafios da vida adulta. Por fim, o engajamento cultiva a autonomia, a resiliência e as habilidades necessárias para enfrentar os desafios do mundo real, preparando os estudantes para o futuro.

Mas o que significa estar engajado? O engajamento pode ser compreendido em três dimensões interconectadas: emocional, refletindo o interesse, a paixão e a curiosidade do estudante; comportamental, manifestando-se nas ações como participação ativa e busca por conhecimento; e cognitiva, envolvendo a concentração, a reflexão e a aplicação do conhecimento.

Em resumo, o engajamento é um elemento fundamental para uma educação de qualidade. Ao compreender as dimensões do engajamento e as teorias que explicam a motivação humana, podemos criar ambientes de aprendizagem mais estimulantes e significativos, onde os estudantes se sintam motivados a aprender e a alcançar seu pleno potencial. Afinal, uma educação que promove o engajamento prepara os estudantes não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para uma vida mais plena e realizada.

Os Cinco Caminhos para o Engajamento oferecem um mapa detalhado para a promoção do engajamento, dividindo-o em cinco dimensões interligadas:

  • Valor intrínseco: O aluno encontra significado e prazer no próprio ato de aprender Na prática, é conectar os conteúdos com os interesses e paixões dos estudantes, despertando a curiosidade e a motivação intrínseca.

  • Importância: O aluno percebe a relevância do conteúdo para sua vida e para o mundo ao seu redor. Na prática é trabalhar em projetos e temas que sejam significativos para os alunos e para a sociedade, mostrando como o conhecimento adquirido pode fazer a diferença.

  • Associação: O aluno estabelece conexões entre o que está aprendendo e suas experiências pessoais. Na prática é criar oportunidades para que os alunos relacionem o conteúdo com suas vidas, tornando o aprendizado mais relevante e memorável.

  • Empoderamento: O aluno se sente capaz de influenciar seu próprio aprendizado e tomar decisões. Na prática é oferecer oportunidades para participação ativa, tomada de decisões e expressão de ideias, tornando os alunos protagonistas de sua própria aprendizagem.

  • Maestria: O aluno busca constantemente aperfeiçoar suas habilidades e alcançar a excelência. Na prática é estabelecer metas claras e desafiadoras, proporcionando feedback construtivo e celebrando as conquistas, incentivando a busca pela excelência.

Por que esses caminhos são importantes?

Ao percorrer esses cinco caminhos, os educadores criam um ambiente de aprendizagem onde os alunos se sentem motivados ao encontrarem significado e propósito no que aprendem, conectados ao relacionarem o conhecimento com suas vidas e com o mundo ao redor, empoderados ao terem voz e influência sobre o próprio aprendizado e confiantes ao buscarem e alcançarem a excelência em suas áreas de interesse.

Como aplicar os cinco caminhos na prática?

Existem diversas estratégias para implementar os Cinco Caminhos na prática, como:

  • Projetos colaborativos: Estimular o trabalho em equipe e a resolução de problemas reais.

  • Aprendizagem baseada em problemas: Apresentar desafios que exijam a aplicação do conhecimento.

  • Uso de tecnologias: Utilizar ferramentas digitais para personalizar a aprendizagem e facilitar a colaboração.

  • Avaliação formativa: Oferecer feedback constante e construtivo para auxiliar o desenvolvimento dos alunos.

  • Criação de um ambiente de aprendizagem positivo: Promover o respeito, a colaboração e a inclusão.

Mas o engajamento não é um caminho livre de obstáculos. Desafios como desencanto, desconexão, dissociação, desempoderamento e distração podem surgir. Para superá-los, é preciso adotar estratégias como: fomentar a criatividade, demonstrar a relevância do conteúdo, criar um ambiente acolhedor, oferecer oportunidades para participação ativa e estabelecer metas claras e desafiadoras.

O aprendizado engajador se baseia em três pilares fundamentais: a voz dos estudantes, a avaliação como ferramenta para acompanhar o progresso e o desenvolvimento da capacidade de aprender de forma autônoma. Esses pilares se alinham com os quatro pilares da educação: aprender a ser (desenvolver a criatividade, a curiosidade e a autonomia), aprender a fazer (aplicar o conhecimento em situações reais e desenvolver habilidades práticas), aprender a conviver (colaborar com os outros e construir relações interpessoais saudáveis) e aprender a aprender (desenvolver a capacidade de aprender de forma autônoma e contínua).

A tecnologia desempenha um papel importante na promoção do engajamento, oferecendo ferramentas para personalizar a aprendizagem, fomentar a colaboração e tornar o processo mais dinâmico e interessante. O aprendizado híbrido, o aprendizado online e a inovação disruptiva são exemplos de como a tecnologia pode ser utilizada para enriquecer a experiência educacional.

A brincadeira direcionada também é uma poderosa ferramenta para o engajamento. Ao encontrar novas formas de resolver problemas, os alunos desenvolvem habilidades como colaboração, criatividade, persistência e disciplina. É importante ressaltar que o engajamento criativo não se resume à diversão, mas exige disciplina e persistência.

Em resumo, o engajamento é uma jornada que exige um esforço conjunto de professores, alunos e comunidade escolar. Ao compreender as dimensões do engajamento, os desafios e as oportunidades, podemos criar ambientes de aprendizagem mais estimulantes e significativos, onde os estudantes se sintam motivados a aprender e a alcançar seu pleno potencial. Uma educação que promove o engajamento prepara os estudantes não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para uma vida mais plena e realizada.

Por que o engajamento é essencial?

  • Aprendizagem mais profunda e significativa: Estudantes engajados demonstram maior capacidade de retenção de informações e desenvolvimento de pensamento crítico.

  • Aumento da motivação intrínseca: A conexão com o conteúdo gera um desejo genuíno de aprender, impulsionando a busca por novos conhecimentos.

  • Melhora do desempenho acadêmico: Estudos comprovam que o engajamento está diretamente relacionado a melhores resultados escolares.

  • Desenvolvimento de habilidades socioemocionais: O engajamento fomenta a colaboração, comunicação e resolução de problemas, preparando os estudantes para a vida.

  • Preparo para o futuro: Ao se engajar, os estudantes desenvolvem autonomia, resiliência e as habilidades necessárias para enfrentar os desafios do mundo real.

Não há como negar que engajamento, motivação e desempenho são a trípode indissolúvel. Quanto mais engajado um estudante, maior sua motivação intrínseca. Essa motivação, por sua vez, impulsiona o desempenho acadêmico, criando um ciclo virtuoso de aprendizagem.

Diversas teorias psicológicas corroboram essa perspectiva. A teoria de Maslow, por exemplo, sugere que a motivação humana é hierárquica, com as necessidades básicas (fisiológicas, segurança) precisando ser satisfeitas antes que as necessidades superiores (pertencimento, estima, autorrealização) possam ser buscadas. No contexto escolar, a satisfação dessas necessidades contribui para o engajamento dos estudantes. Por outro lado, a teoria da motivação intrínseca de Deci e Ryan destaca a importância da autonomia, competência e afinidade para o engajamento.

Os estudantes precisam se sentir capazes de tomar decisões sobre sua própria aprendizagem, sentir-se competentes para realizar as tarefas e se conectar com o conteúdo de forma significativa.Já a teoria do flow de Csikszentmihalyi propõe que o engajamento total, ou flow, ocorre quando estamos completamente imersos em uma atividade, perdendo a noção do tempo e do espaço.

Para alcançar esse estado, é preciso combinar energia física, mental, emocional e espiritual, ultrapassar os próprios limites e desenvolver rotinas para gerenciar a energia. Dessa forma, ao proporcionar experiências de aprendizagem desafiadoras e prazerosas, podemos promover o flow nos estudantes.

O engajamento é um elemento fundamental para uma educação de qualidade. Ao compreender as dimensões do engajamento, a relação entre motivação e desempenho, e as teorias que explicam a motivação humana, podemos criar ambientes de aprendizagem mais estimulantes e significativos, onde os estudantes se sintam motivados a aprender e a alcançar seu pleno potencial.

Em suma, o engajamento não é apenas um conceito pedagógico; é a chave para um futuro educacional mais humano, relevante e transformador. Ao adotar os cinco caminhos propostos por Shirley e Hargreaves, educadores podem criar ambientes de aprendizagem onde os estudantes se sentem valorizados, desafiados e conectados com o mundo ao seu redor.

Essa jornada, no entanto, exige um compromisso constante com a inovação e a reflexão crítica. É preciso romper com paradigmas ultrapassados e construir um novo modelo educacional, centrado no desenvolvimento integral do indivíduo.

Ao fazer isso, estaremos preparando não apenas futuros profissionais, mas cidadãos mais engajados, críticos e capazes de transformar a sociedade. Assim, até que ponto estamos dispostos a romper com as práticas tradicionais e abraçar novas formas de ensinar e aprender?

Notas

1 Shirley, Dennis. Cinco caminhos para o engajamento: rumo ao aprendizado e ao sucesso do estudante/ Dennis Shirley, Andy Hargreaves; tradução: Luís Fernando Marques Dorvillé; revisão técnica: Gustavo Severo de Borba. - Porto Alegre: Penso, 2022.